A história a seguir é baseada em fenômenos reais, apesar de ser bizarra e mágica.
Pai e mãe saem para dar uma voltinha no novo supercarro da família. Demoram-se um pouco. Ao voltar para casa, já à noite, têm uma enorme surpresa. Os filhos, que eram pequenos quando o casal saiu, estão crescidos.
Atordoado, o pai sobe ao segundo andar para tomar um banho frio. Quer acordar desse sonho insano. Ao descer, os filhos alertam: “Pai, seu cabelo está grisalho!”. Ele envelhecera durante o banho. Desta vez, só ele.
Ainda tentando entender o que está acontecendo, a família ouve o toque da campainha. É o vizinho. Ele pede emprestado uma lanterna. E explica: está sem eletricidade; um caminhão cegonheira que passou na rua rompeu a fiação elétrica de sua residência. O pai vai buscar a lanterna na cozinha. Encontra-a numa gaveta. Ao testá-la para ver se a pilha ainda funciona, fica novamente boquiaberto. O feixe de luz faz uma curva no ar, contorna a mesa de madeira maciça e ilumina a parede ao lado de onde ele havia apontado a lanterna.
Ficção? História fantasiosa? Pois bem, fique sabendo: esse mundo mágico existe. Nós vivemos nele. Só não conseguimos perceber como a realidade é tão absurdamente fantástica porque os fenômenos bizarros que acontecem todos os dias são muitíssimo mais sutis do que na história aí de cima (admito: tive de recorrer a várias doses de exagero literário).
Quem deu uma de Mister M para revelar o segredo por trás da mágica do universo foi o físico Albert Einstein (1879-1955), com sua Teoria da Relatividade. Apresentada ao mundo em duas etapas, em 1905 e 1915, a relatividade passou com louvor pelas mais variadas provas de fogo desde então. A primeira, por sinal, está de aniversário. Foi obtida há 100 anos, em maio de 1919. E mais uma curiosidade: essa experiência fala português e tem sotaque nordestino.
Mas, antes de chegar lá, um pouco da famosa teoria. Se havia algo que incomodava Einstein, era a força da gravidade conforme descrita por Isaac Newton (1643-1727). Como o sol poderia atrair os planetas sem que houvesse nenhum contato entre eles? Que força misteriosa era essa?
A resposta que Einstein formulou é simples como costuma ocorrer aos gênios: se não há nada além de espaço entre o sol e os planetas, então a atração só pode ser exercida pelo espaço. É como se todos os astros estivessem sobre uma cama elástica invisível: o mais pesado – tecnicamente, o de maior massa – deforma a superfície e atrai os demais.
Como os corpos entortam o espaço à sua volta, tudo o que passa por ali segue essa curvatura – até mesmo a luz, que aparentemente anda em linha reta. É isso que explica – ressalvados os devidos exageros – a curva feita pela luz da lanterna em nossa história.
A comprovação da deformação do espaço e da trajetória curva da luz, aliás, foi o primeiro grande teste da relatividade do qual havia falado. Como o fenômeno é imperceptível na escala humana, só pode ser observado se tivermos um objeto de massa gigantesca, no entorno do qual passe um feixe de luz. A melhor opção para testar a teoria era o Sol: imenso e cercado por outras estrelas. Havia, contudo, um problema: a luz solar é tão forte que apaga o brilho das estrelas à sua volta.
Mas isso não ocorre num eclipse. E ele veio em 29 de maio de 1919, quando o dia virou noite no sertão do Ceará. Foi na cidade de Sobral que uma equipe de astrônomos britânicos conseguiu as fotos essenciais para o experimento: a de estrelas ao redor do Sol escurecido pela Lua. Depois, essas imagens foram comparadas a fotografias noturnas das mesmas estrelas. E o resultado foi o previsto por Einstein: o Sol curvou a luz das estrelas, e elas apareceram em um ponto do céu diverso daquele em que estariam sem a presença do astro-rei.
Mas isso só explica uma parte do mundo bizarro de nossa história. Aí é que entra outra sacada genial de Einstein. Segundo ele, o tempo e o espaço são uma mesma coisa; as duas faces da moeda. Tudo o que acontece no espaço tem implicações no tempo. E vice-versa.
Um dos efeitos fantásticos desse postulado é que, quanto mais rápido estivermos, mais devagar o tempo irá passar. A velocidade nos permite percorrer um espaço maior. Mas cobra um preço. Já que estamos numa dimensão única, algo tem de compensar o “encurtamento” das distâncias no espaço. Nesse caso, quem paga a conta é o tempo, que corre mais lento.
Um detalhe importante: corre mais lento só para quem embarcou no supercarro veloz da história. Aliás, a Teoria da Relatividade é assim chamada justamente pelo fato de que o tempo é relativo: passa de forma diferente dependendo das condições em que a pessoa está. É por isso que os filhos ficaram adultos na história. Em suma: pai e mãe viajaram para o futuro ao embarcar no carro veloz.
E a relatividade vai além. Outra constatação decorrente dos postulados de Eisntein é de que o tempo, de certa forma, também é “atraído” pela gravidade – da mesma forma que os objetos de massa menor sofrem a influência dos maiores.
O tempo passa mais devagar o quanto mais perto de um corpo com grande massa nós estamos. É como se a gravidade fosse uma âncora pendurada no ponteiro do relógio, que anda mais lento por causa disso. Isso explica por que o tempo corre mais rápido para alguém que está no segundo andar de uma casa do que para aqueles que estão no primeiro – mais próximos, portanto, da imensa massa de nosso planeta.
Porém, na dimensão da vida humana nada disso faz diferença significativa. Quem mora num prédio alto não vai notar nada de diferente em seu irmão gêmeo que vive numa casa térrea. Tampouco os motoristas apressados vão aparentar ter mergulhado na fonte da juventude. Nossas viagens no tempo ficam na escala do milionésimo de segundo. Seria preciso, por exemplo, acelerarmos a uma velocidade próxima à da luz (1,08 bilhão de km/h) para percebermos algo relevante.
Mas, ainda que nossos sentidos digam o contrário, a razão nos mostra que nosso mundo realmente é bem estranho. E fascinante.
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