Praia de Bathala, nas Maldivas, exibe águas de cor azul-turquesa.| Foto: Gzzz/Wikicommons
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Em uma série de eleições neste segundo semestre de 2023, foi a vez de as Maldivas elegerem um novo presidente no último dia 30 de setembro. O país formado por uma série de ilhas e atóis é mais conhecido por ser um destino paradisíaco de celebridades e influenciadores, atraindo pouca atenção fora dessa seara. Desta vez, entretanto, é diferente, já que o pleito tornou-se mais um capítulo da crescente influência chinesa.

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Mohamed Muizzu venceu as eleições presidenciais com 54% dos votos no segundo turno, derrotando o atual presidente Ibrahim Mohamed Solih. O comparecimento dos eleitores foi de 79,8% no primeiro turno e de 87,3% no segundo turno. O crescimento do comparecimento mostra tanto a sensibilidade do pleito quanto um possível amadurecimento da democracia local.

As Maldivas tornaram-se uma democracia apenas em 2008, depois de trinta anos de governo de Maumoon Abdul Gayoom, que sucedeu Ibrahim Nasir, líder da independência em 1965, nunca eleito. Desde 2008 foram três presidentes eleitos, mais Mohammed Waheed Hassan, que assumiu em 2012. Ele era vice-presidente de Mohamed Nasheed, o primeiro presidente eleito da História do país e que renunciou.

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Índia Primeiro

Todos esses nomes e todo esse período, desde 1965, possuem uma coisa em comum. A proximidade com a Índia, não apenas geográfica. A principal doutrina da política externa maldiva é chamada justamente de “Índia Primeiro”. A Índia é o maior parceiro comercial do país, sendo a principal origem de importações e o segundo principal destino de exportações. A Índia também era a maior investidora nas Maldivas.

O governo indiano é parcialmente responsável pela defesa do arquipélago: fornece armamento e treinamento para a guarda costeira e a polícia locais, além de proteção de sua extensa zona econômica exclusiva. Essa é uma questão já abordada aqui em nosso espaço e cada vez mais importante à medida que as potências voltam seus olhares para países insulares, especialmente no Pacífico.

As Maldivas são um país pequeno, formado por ilhas e atóis, como mencionamos. Sua área seca é de cerca de trezentos quilômetros quadrados, um dos menores países do mundo. Quando somamos com sua zona econômica exclusiva, entretanto, temos quase um milhão de quilômetros quadrados, uma área maior do que a área seca da Venezuela. Uma área com recursos como pesca e terras raras no leito marítimo.

Ainda nas relações com a Índia, uma crise hídrica de 2014 nas Maldivas foi resolvida parcialmente com esforços humanitários indianos. Tais relações também se veem na política. Quando Gayoom sofreu uma tentativa de golpe de Estado em 1988, foram as forças armadas indianas que o resgataram dos golpistas e restauraram o governo. Um exemplo recente foi a ajuda humanitária no contexto da pandemia.

Crescimento chinês

Nos últimos anos, entretanto, cresceu a presença econômica chinesa no país. Hoje, a China que é o maior investidor direto nas Maldivas, abrindo sua embaixada em Malé, capital insular, em 2011. A revista Foreign Policy, sediada nos EUA, estima que 70% da dívida das Maldivas, hoje, se relaciona com projetos chineses, e o país paga cerca de 90 milhões de dólares anuais aos chineses, algo como 10% de todo o orçamento nacional.

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Embora a doutrina da política externa maldiva seja “Índia Primeiro”, o primeiro acordo de livre comércio da História das Maldivas foi assinado com a China, em dezembro de 2017. No ano de 2020, subitamente o governo da capital decidiu substituir empresas indianas por empreiteiras chinesas na modernização e ampliação do aeroporto internacional do país, por onde chegam as celebridades que visitam as águas turquesa do país.

Em um contexto de crescente rivalidade entre China e Índia, o principal ponto de cizânia é o projeto da Estação Conjunta de Observação Oceânica. Supostamente será um observatório marítimo em Makunudhoo, a ser operado pela Administração Oceânica Estatal da China e pelo Ministério do Meio Ambiente e Energia das Maldivas. Já o governo indiano e alguns políticos maldivos afirmam que o projeto tem finalidades militares disfarçadas.

Vitória eleitoral

No ano de 2019 foi formado o Congresso Nacional Popular, o CNP, um partido conservador e islamista. O Islã é a religião oficial do país e 99% da população é praticante. Algo pouco conhecido é que a gritante desigualdade social do país faz muitos homens jovens pobres maldivos buscarem movimentos extremistas, algo analisado no livro Que paraíso é esse?: Entre os jihadistas das Maldivas, da jornalista italiana Francesca Borri.

O CNP é uma dissidência do movimento político do ex-ditador Maumoon Abdul Gayoom. O CNP defendeu, desde o início, um distanciamento da Índia, motivado tanto por questões econômicas quanto pelo crescimento do extremismo hindu nos últimos anos, que tem nos muçulmanos indianos um de seus principais alvos. Não há partido “de esquerda” nas Maldivas; são todos conservadores, dividem-se apenas entre seculares e religiosos.

Esse é o partido que triunfou nas eleições, apenas quatro anos depois de sua fundação, com o atual presidente Solih concedendo a derrota e parabenizando a população pelo fortalecimento da democracia. Esse é o partido que promete, pelos próximos cinco anos, aprofundar ainda mais a presença chinesa em um local tradicionalmente próximo da Índia. E bem próximo também geograficamente.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]