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Filipe Figueiredo

Filipe Figueiredo

Explicações para os principais acontecimentos da política internacional

El Salvador, México, Venezuela, Uruguai, Panamá e República Dominicana

As eleições latino-americanas para ficarmos de olho em 2024

Presidente salvadorenho, Nayib Bukele, deve tentar reeleição este ano. (Foto: MARVIN RECINOS/AFP or licensors)

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Mais um ano que começa e, seguindo a tradição de ocasiões anteriores, levantamos alguns aspectos e temas para ficarmos de olho no ano que começa aqui no nosso espaço de política internacional. Comecemos com um balanço dos principais pleitos e eleições nacionais que nos esperam em 2024. Depois de vermos algumas eleições asiáticas que nos aguardam, daremos uma olhada nas eleições latino-americanas de 2024.

El Salvador

A primeira eleição de nossa vizinhança latino-americana de 2024 será no próximo dia 4 de fevereiro, em El Salvador, onde o atual presidente Nayib Bukele, é favoritíssimo à reeleição, mesmo com as diversas críticas internacionais da deterioração da situação de Direitos Humanos em seu país. Falamos do atual mandatário salvadorenho já em 2019, quando de sua eleição e quando ele era pouquíssimo conhecido fora de seu país.

Além do presidente, também serão eleitos os sessenta deputados da Assembleia Legislativa e, um mês depois, teremos uma segunda rodada de eleições, na qual serão eleitos 44 prefeitos e conselhos municipais de todos os municípios do país, além dos 20 deputados salvadorenhos no Parlamento Centro-Americano. A mesma data servirá para um eventual, e provavelmente desnecessário, segundo turno presidencial.

É importante lembrar que a constituição salvadorenha expressamente proíbe a reeleição. Bukele conseguiu se candidatar graças a um entendimento da Suprema Corte de setembro de 2021, que foi aparelhada por ele. Todos os cinco juízes constitucionais foram nomeados justamente em 2021, após o afastamento de seus antecessores. Na mesma época, o Legislativo foi cercado por soldados, a mando de Bukele.

Foi com essa Suprema Corte aparelhada e com o Legislativo coagido que Bukele aprovou mudanças no regime de votação e a redução de municípios. Independente do que o leitor pense sobre Bukele, imagine um presidente que, numa canetada só, afastou e nomeou todos os juízes da corte constitucional de seu país. Isso dificilmente é democrático, para ser gentil, e é um risco se feito sob qualquer corrente ideológica.

Mesmo a política de segurança de Bukele, tida como exemplo por muitos, possui seu lado sombrio, com denúncias de que algumas das principais lideranças criminosas do país pagaram para ficarem livres, ou até fornecerem apoio político ao presidente. Novamente, as pesquisas apontam uma larga margem de vitória de Bukele e de seu partido, liderado por seu primo Xavier Zablah, e certamente falaremos mais dele por aqui no futuro próximo.

Caribe

Em maio ocorrerão duas eleições em países caribenhos. Primeiro, no dia cinco de maio, no Panamá, onde serão eleitos presidente e os 71 integrantes da Assembleia Nacional. Um dos países mais importantes geopoliticamente do mundo, o Panamá é um país ainda sob grande influência dos EUA. Isso é visto no favorito nas pesquisas, o ex-presidente conservador Ricardo Martinelli.

Martinelli governou entre 2009 e 2014, e hoje lidera o partido Realizando Metas. O atual presidente Laurentino Cortizo, de esquerda, não pode ser candidato, já que o país proíbe a reeleição. Martinelli é um dos homens mais ricos do país. Estudou na  Staunton Military Academy, em Virgínia, nos EUA, onde fez faculdade e carreira nos negócios, primeiro no sistema bancário, depois como empresário.

Foi também nos EUA onde ele foi preso, em 2017, por corrupção, e também é procurado pela Espanha. Ele e seus filhos são acusados de terem embolsado dezenas de milhões de dólares em diversos contratos do governo, incluindo contratos da construção do metrô da Cidade do Panamá, pela empresa brasileira Novonor, na época conhecida pelo nome Odebrecht, que se tornou muito presente no noticiário brasileiro.

Já no dia dezenove de maio ocorrem as eleições da República Dominicana, para eleger presidente, 32 senadores e 190 deputados. O atual presidente Luis Abinader, de esquerda, é candidato e favorito nas pesquisas. Líder do Partido Revolucionário Moderno, ele foi eleito em 2020 como o “mais rico presidente da América Latina”, com uma fortuna de dezenas de milhões de dólares.

Abinader também marcou presença em diversos vazamentos de documentos, como os Pandora Papers. Sua presidência foi marcada por diversas ações anti-Haiti. A República Dominicana tem um questionável histórico recente em relação aos seus vizinhos, como os massacres de dezenas de milhares de haitianos realizados pelo ditador Rafael Trujillo. Por sua vez, no século XIX, o Haiti ocupou e anexou o país vizinho.

Durante o governo Abinader, houve uma disputa por água entre os dois países, cuja fronteira é parcialmente estabelecida pelo curso do rio Dajabón, que os haitianos chamam de Rio do Massacre. Por essa disputa, e também pela migração de haitianos fugindo da situação miserável de seu país, o presidente ordenou a construção de uma cerca em trechos que somam 164 dos 380 quilômetros de fronteira.

México

Em junho ocorrerão as que podem ser as eleições mais importantes da região em 2024, no México. No dia dois de junho, os mexicanos elegerão uma nova presidente para um mandato de seis anos, todos os quinhentos membros da Câmara dos Deputados e todos os 128 senadores. Os membros do Legislativo eleitos em 2024 serão os primeiros que poderão concorrer à reeleição nas próximas eleições.

O leitor talvez tenha notado o uso do artigo feminino. O atual presidente Andrés Manuel López Obrador não pode concorrer à reeleição, o que é um grande trauma histórico do país e uma das razões da Revolução de 1910. Sua sucessão, entretanto, certamente será feminina. Sua candidata é Claudia Sheinbaum, chefe de governo da Cidade do México entre 2018 e 2023.

Com mais de nove milhões de habitantes, a Cidade do México, além de ser a capital do país, é lar de cerca de 8% de toda a população e de 16% do produto interno bruto do país, sem mencionar a zona metropolitana. A chefia de governo da Cidade do México não é uma mera prefeitura, é quase como um estado, uma entidade federal com muito mais autonomia. Algo que poderia ser pensado no Brasil, no que é tema para outra coluna.

Contra Sheinbaum está a frente ampla dos principais partidos de oposição, que escolheu a senadora Xóchitl Gálvez como candidata. Correndo por fora está Jorge Álvarez Máynez, do progressista Movimiento Ciudadano. Hoje, as pesquisas apontam vitória da candidata governista, mas, até junho, muita coisa vai acontecer e certamente falaremos mais do México aqui em nosso espaço.

Países vizinhos

Já em 27 de outubro ocorrem eleições gerais no Uruguai, nosso vizinho e parceiro de Mercosul. Além do presidente, serão eleitos trinta senadores e 99 deputados. O atual presidente de direita, Luís Lacalle Pou, não pode ser candidato, já que o país proíbe a reeleição imediata. As candidaturas serão definidas entre abril e junho e, novamente, o país deve ficar entre o conservador Partido Nacional e a esquerda da Frente Ampla.

Finalmente, no segundo semestre também está prevista a realização da eleição presidencial na Venezuela. Quando, como, com quais candidatos e em quais condições, ninguém sabe ainda: nem Maduro, que negocia e ganha tempo pois, basicamente, essa é a situação que lhe foi imposta, tema de nossa última coluna de 2023. Infelizmente, para nós, resta esperar como se desenvolverá a situação no nosso vizinho.

Conteúdo editado por: Bruna Frascolla Bloise

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