Os democratas saíram melhores do que o esperado nas eleições de meio de mandato nos EUA. O pleito, ocorrido no último dia oito de novembro, foi tema da coluna anterior aqui em nosso espaço e, agora, vamos ver alguns dos resultados já disponíveis. Alguns ainda terão que aguardar, seja pela contagem dos votos, seja pelas regras de cada disputa. Algumas coisas, entretanto, já ficam claras.
Primeiro, Ron DeSantis consagrou seu nome como principal quadro do Partido Republicano para as vindouras eleições presidenciais. Nossos leitores já sabiam disso, na mais recente coluna comentamos que ele ganhava força como potencial candidato em 2024 por ser “um nome que conseguiria unir tanto republicanos tradicionais quanto republicanos trumpistas”. O que não era esperado era o tamanho da vitória que ele conseguiu.
DeSantis foi reeleito governador da Flórida com quase 60% dos votos, derrotando o ex-governador Charlie Crist, hoje democrata, mas anteriormente também republicano. Em números proporcionais, foi a maior vitória eleitoral no estado desde 1982 e, em números absolutos de votos, foi a maior lavada da História. Diversos veículos de imprensa já estão coroando DeSantis como potencial candidato presidencial republicano.
Donald Trump, que deve oficializar sua candidatura na próxima semana, já sabe que terá um adversário duro nas primárias do partido, caso esse cenário seja concretizado. Ao ponto que, em uma rede social, já partiu para o ataque contra DeSantis. É do jogo da política, claro, com direito ao estilo habitual de Trump: apelidinho no criticado, se colocar como mais republicano do que qualquer outro e que DeSantis é um “fruto” dele próprio.
Novamente, é do jogo da política, mas mostra que o faro de Trump detectou as movimentações em torno de DeSantis. Se ele fosse um “presidenciável” apenas na visão da coluna ou de outros veículos de imprensa, Trump não partiria para o embate. Hoje, muitos figurões do partido veem em DeSantis a saída e a salvação. Inclusive a salvação em relação à influência do próprio Trump.
Câmara e estados
E o Congresso federal, o principal foco da eleição? Enquanto a coluna é escrita, os republicanos possuem 211 cadeiras na Câmara, contra 192 dos democratas. Os 32 assentos restantes ainda estão sob contagem ou recontagem. A tendência é de maioria republicana, claro, mas com uma vantagem menor do que a projetada nas pesquisas e do que a esperada pelo governo Joe Biden.
O título da mais recente coluna fazia referência à “sina” dos presidentes dos EUA ao enfrentarem sua primeira eleição de meio de mandato. Joe Biden escreveu em uma rede social uma celebração de como sua derrota foi menor do que a sina histórica apontada. “Perdemos menos cadeiras na Câmara dos Deputados do que a primeira eleição de meio de mandato de qualquer presidente democrata em pelo menos 40 anos.”.
Joe Biden também celebrou que seu partido teve “as melhores eleições para governadores desde 1986.”. Nos resultados já confirmados, os democratas venceram em dois estados antes governados por republicanos, em Maryland e em Massachusetts. O Arizona pode ser adicionado à lista, ainda sem resultados finais. Por outro lado, os democratas podem perder o governo de Nevada.
Suspense no Senado
A situação no Senado, por outro lado, será um suspense por quase um mês, pelo menos. Novamente, no momento em que a coluna é escrita, os democratas possuem 48 cadeiras e os republicanos possuem 49. Das três restantes, o Arizona está com tendência democrata e Nevada está pendendo para os republicanos. E a Geórgia novamente vai para o segundo turno da sua eleição para senador.
A mesma coisa já havia ocorrido em novembro de 2020, na eleição especial após a renúncia de Johnny Isakson por razões de saúde. O republicano faleceu menos de dois anos depois. Na ocasião foi eleito Raphael Warnock, o primeiro afro-americano a representar o estado no Senado e o primeiro democrata negro a ser eleito senador em um antigo estado da Confederação.
Agora Warnock enfrenta Herschel Walker no primeiro embate entre dois candidatos afro-americanos para o senado da Geórgia. Caso a vitória em Nevada se confirme e Walker seja eleito, os republicanos conseguirão 51 cadeiras no Senado e a maioria em ambas as casas do Congresso. A vitória de Warnock significa empate, o que favorece os democratas, com o desempate sendo feito por Kamala Harris, vice-presidente do país.
Ao menos num futuro próximo, os olhos da política dos EUA não estarão apenas centrados na cosmopolita Nova Iorque ou nos superlativos Texas e Califórnia. Da Flórida, o swing state sempre tema de reportagens em períodos eleitorais, pode vir o novo rosto republicano dos EUA. E da Geórgia, estado de violenta história e atualmente sede de grandes corporações, virá o fiel da balança do Senado dos EUA.
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