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Na mais recente coluna aqui do nosso espaço, mencionamos que o próximo mês de novembro será marcado pela vasta quantidade de eleições importantes que ocorrerão pelo mundo. Tratamos dos pleitos nacionais na Dinamarca e em Israel, mas uma eleição legislativa também será muito importante. No próximo dia 8 de novembro, os eleitores dos EUA vão eleger 35 senadores e 435 deputados. A renovação do congresso dos EUA pode impactar não apenas os cidadãos do país, mas também a guerra na Ucrânia.
As chamadas eleições de meio de mandato renovam uma parte do Senado, composto por cem representantes, e toda a Câmara dos Representantes, os deputados do país. Hoje, o Senado dos EUA está dividido ao meio, com 50 cadeiras sob controle democrata e 50 sob controle republicano. Isso significa um tênue domínio democrata, já que o “voto de minerva” é exercido pela presidência da casa, cumulativa com a vice-presidência do Executivo. Hoje, a democrata Kamala Harris.
Dos 35 assentos que serão disputados, 14 são atualmente ocupados por democratas e 21 são atualmente ocupados por republicanos. A maioria das projeções especula um cenário apertado, em que o empate vai continuar, com a Pensilvânia como uma disputa chave. Novamente, o empate favorece minimamente os democratas. Na Câmara, entretanto, tudo indica que será formada uma maioria republicana. Hoje, dos 435 assentos da casa, 220 estão com os democratas, 212 estão com os republicanos e três estão vagos.
Os democratas precisam de alguma grande virada ou fato novo para se recuperar. No pior cenário para Joe Biden, os republicanos podem até controlar as duas casas do Congresso. Ou seja, poderiam travar algumas das pautas atuais do governo, como aumento do teto da dívida, reformas de saúde, pacote ambiental e até mesmo os investimentos federais em infraestrutura. Principalmente, o apoio dos EUA aos ucranianos contra a invasão pela Rússia pode sofrer reveses.
US$ 60 bilhões
Apenas em assistência militar direta, o governo dos EUA já forneceu o equivalente a US$ 17 bilhões aos ucranianos. Juntando o auxílio militar direto, o indireto, como treinamentos, e a assistência não-militar, a conta chega na casa dos US$ 60 bilhões. Isso é uma quantia enorme de dinheiro para qualquer padrão de referência. O tamanho do montante, mais a falta de perspectiva de um fim ao conflito, fazem com que esse auxílio seja questionado.
Por exemplo, Kevin McCarthy, líder republicano na Câmara, já criticou o que ele chama de “cheque em branco de graça” aos ucranianos e apontou que os cidadãos dos EUA não querem uma recessão por causa da Ucrânia e merecem prestação de contas. Uma conta oficial do Comitê de Ação Política Conservadora, conhecido pela sigla em inglês CPAC, perguntou quando acabariam o “fornecimento de presentes” aos ucranianos. Após repercussão negativa, o post foi retirado do ar e um pedido de desculpas foi publicado.
Outra repercussão negativa foi a de um comentário feito pelo deputado republicano Jim Banks, de que os arsenais das forças armadas dos EUA estariam sendo exauridos para o envio de munições para a Ucrânia, e que, supostamente, até a própria segurança americana estaria em risco. Além disso, existe uma postura entre as figuras mais próximas de Donald Trump de que é necessária uma solução negociada, e não uma escalada do conflito, com o envio de armamentos.
É importante frisar e analisar o principal ponto da queixa de políticos republicanos. Muitas vezes o foco é restrito às supostas ligações entre Trump e Putin, ou uma suposta infiltração russa dentro do Partido Republicano. A questão, entretanto, gira em torno do dinheiro e do equilíbrio fiscal, uma bandeira importante para o partido. Novamente, é uma quantia de dinheiro que não pode ser subestimada, mesmo dentro de um orçamento paquidérmico como o do governo dos EUA.
Fraturas em ambos os partidos
Além disso, mesmo que o Partido Republicano controle ambas as casas do Congresso, é improvável que o auxílio militar à Ucrânia simplesmente cesse. Ele provavelmente seria diminuído ou passaria por algum tipo de fiscalização. A maioria dos cidadãos dos EUA apoia o auxílio militar aos ucranianos, assim como diversas figuras importantes do Partido Republicano. Ainda assim, deve ser lembrado que todos os votos contrários aos pacotes militares de assistência vieram de políticos republicanos.
Finalmente, é importante mencionar também que a posição de auxiliar os ucranianos não é mais unânime dentro do Partido Democrata. Recentemente, foi publicada uma carta assinada por deputados da ala mais à esquerda do partido, pedindo por um fim negociado ao conflito e afirmando que os EUA estão se envolvendo diretamente na guerra, usando dinheiro do contribuinte. Uma argumentação muito parecida com a de alguns republicanos. Os signatários se retrataram pouco depois, devido à repercussão negativa.
O cenário na Ucrânia faz com que mesmo uma diminuição no auxílio militar dos EUA possa influenciar o conflito. Talvez possamos esperar um grande pacote de auxílio militar antes das eleições. Por isso, o pleito será observado com atenção desde Kyiv e também de Moscou. Junto com o inverno europeu, o preço do gás natural e a consequente inflação para os cidadãos europeus são alguns fatores que podem arrefecer o apoio militar aos ucranianos. Putin, inclusive, talvez conte com isso.