Dezenas de eleições são realizadas todo ano pelo mundo, nos mais diversos níveis. Todas elas possuem alguma importância, maior ou menor, para as pessoas envolvidas. Em um olhar global, entretanto, umas são mais importantes que outras. Apenas um olhar realista, não é falta de respeito; claro que as eleições do município em que uma pessoa vive são importantíssimas para a vida dessa pessoa. Desse conjunto todo de eleições, pode-se destacar uma dezena que terão impacto no noticiário.
Começando pela óbvia, a eleição presidencial dos EUA, a maior economia do mundo e principal potência militar. Hoje, Donald Trump é favorito para o dia 3 de novembro. Primeiro, a economia vai bem e o desemprego em baixa, fatores sempre importantes para o comportamento eleitoral. O impeachment, até o momento, pouco atingiu a popularidade de Trump perante seu eleitorado fiel. Finalmente, quem será o candidato democrata? Enquanto a oposição se confronta entre si, Trump está em campanha desde meses atrás.
Na vizinhança pela América do Sul, duas eleições importantes em 2020. A primeira é a eleição presidencial na Bolívia. Ainda não se sabe a data, mas essa é a menor das incertezas. Como será sua organização? Ela contará com supervisão internacional? Como será a campanha? Existirá isonomia entre as candidaturas e os partidos, incluindo o maior partido do país, o MAS, de Evo Morales? A eleição pode ser desde o início da recuperação boliviana até um aprofundamento ainda mais grave da crise do país.
Fazendo fronteira com a Bolívia, o Peru terá eleições parlamentares no dia 26 de Janeiro. Após uma crise política profunda, que culminou na dissolução do congresso pelo presidente Martín Vizcarra, o Peru tenta solucionar essa crise. Corrupção política por parte de empresas brasileiras, a ocupação de instituições do Estado pelo fujimorismo e reforma constitucional são algumas das pautas que vão dominar as próximas semanas no cenário político peruano.
Cruzando o Oceano Pacífico, quatro pleitos serão importantes. Dois deles pela sua relação com a República Popular da China, hoje a potência em ascensão e vista como principal rival em Washington. Em Taiwan, uma província rebelde para Pequim desde o fim da guerra civil, em 1949, os cidadãos vão escolher, já em 11 de Janeiro, os ocupantes das 113 cadeiras do equivalente ao legislativo; o governo taiwanês é um pouco diferente do que os leitores podem estar habituados, com cinco ramos de separação de poderes.
Os taiwaneses também vão eleger a presidência do país, com Tsai Ing-wen buscando a reeleição; ela é talvez a política mais pró-independência dos últimos anos. Seu principal adversário será Han Kuo-yu, do Kuomintang; ela é favoritíssima nas pesquisas. O Kuomintang, partido que governou Taiwan por boa parte de sua História, quase lançou como candidato o bilionário Terry Gou, dono da gigante Foxconn; ele foi derrotado nas primárias partidárias e cogita um partido próprio.
A outra eleição com relação direta com Pequim é a do Conselho Legislativo de Hong Kong, em setembro. Ao contrário das recentes eleições distritais, esse pleito pode garantir algum poder político aos manifestantes anti-Pequim. Certamente questões de segurança durante as eleições ocuparão os noticiários. Uma eventual derrota dos candidatos anti-Pequim possivelmente será contestada, com acusações de fraude e demais reações do tipo. Uma vitória retumbante de algum dos lados é improvável.
Ainda na Ásia, será a vez dos sul-coreanos irem às urnas no dia 15 de Abril. O presidente Moon Jae-in estará no cargo até 2022, no mínimo; salvo algum imprevisto, claro. O que estará em jogo é o tamanho do apoio que ele terá na Assembleia Nacional até o fim de seu mandato. Hoje seu partido é o maior da câmara, com 128 cadeiras das 300. O desempenho de sua sigla tem caído nas pesquisas, entretanto, e, obviamente, o apoio legislativo é essencial para os projetos do presidente.
Mais que isso, a eleição será vendida ao público como uma espécie de “referendo” sobre a política de aproximação com a Coreia do Norte, defendida e empreendida por Moon Jae-in. No ano que marca os setenta anos do início do conflito que dividiu a nação coreana, como será a reação do eleitorado? Qual será o papel de outras potências interessadas no pleito? Ocorrerão acusações de interferência? Em caso de vitória expressiva, e improvável, do presidente, pode-se esperar novo fôlego nas conversas com Pyongyang.
Mantendo o foco no Pacífico, mas na Oceania, a Nova Zelândia realizará eleições até o dia 21 de Novembro, ainda sem data definida. Mesmo que não se possa considerar a Nova Zelândia como uma potência mundial que pode ditar os rumos do mundo, sua eleição será importante. Primeiro, o governo reformista de Jacinda Ardern será colocado à prova, em um pleito que promete ser extremamente equilibrado. Cada um dos 120 assentos do parlamento local vão importar.
Hoje ela governa com minoria, graças ao apoio dos verdes; apoio, o partido verde local não é parte formal da coalizão de governo. Os neozelandeses também votarão em dois referendos, realizados no mesmo dia para economia de custos. Um sobre a regulamentação, ou não, do uso pessoal de cannabis. O outro é sobre a legalização, ou não, da eutanásia, ou suicídio assistido. A Nova Zelândia é o primeiro país do mundo que submete a matéria ao voto popular, o que pode inspirar outros casos pelo mundo.
Do Pacífico ao Oriente Médio, mais especificamente Israel. No dia 2 de março os israelenses vão votar pela terceira vez em um ano, um tema abordado em diversas colunas aqui nesse espaço. Em jogo estão as 120 cadeiras do Knesset, o futuro da identidade política de Israel e o futuro de Benjamin Netanyahu, tanto na política como também até no judiciário. As últimas pesquisas apontam maior vantagem do Azul e Branco de Benny Gantz, algo que poderia destravar o parlamento.
Finalmente, duas eleições no continente africano. Em maio, a Etiópia vai renovar as 547 cadeiras da Câmara de Deputados. Nas últimas décadas, o país foi dominado por uma única facção política, que está sendo reformada pelo primeiro-ministro Abiy Ahmed, laureado com o Nobel da Paz em 2019. E é claro que sua reforma não é unânime, como nenhuma seria. Dissidências políticas, tensões étnicas e a reação ao tratado de paz com a Eritreia vão influenciar o futuro de um dos governos mais promissores da África.
No vizinho Sudão, o clima é de esperança e de desejo por eleições ainda não confirmadas. Como parte do processo de paz e de estabilização pós-ditadura de Omar al-Bashir, eleições em diversos níveis de governo serão realizadas num prazo de 39 meses, pouco mais de três anos. Primeiro será formado o Conselho Legislativo Transitório, uma espécie de parlamento provisório. A falta de notícias e de um calendário definido mantém manifestantes nas ruas, exigindo respostas práticas ainda em 2020.
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Aproveito o fato dessa coluna ser publicada em um dia 24 de dezembro e desejo um Feliz Natal e boas festas para todos os leitores e leitoras que me acompanham aqui na Gazeta do Povo. Agradeço o carinho e a companhia de cada um, independente do grau em que cada leitor concorde ou discorde dos meus escritos.