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Veículo blindado da França passa pelo Monte Hombori no início da operação Barkhane de forças francesas na região de Gourma no Mali, 27 de março de 2019
Veículo blindado da França passa pelo Monte Hombori no início da operação Barkhane de forças francesas na região de Gourma no Mali, 27 de março de 2019| Foto: Daphné BENOIT / AFP

Aqui nesta coluna na Gazeta do Povo buscamos expor e discutir a política internacional. Mostrar sua importância, como ela pode afetar a vida dos leitores, ir além da superfície e do senso-comum, apontar caminhos e as origens de questões de nossos tempos. Nesse sentido, não basta ser reativo, falar das últimas semanas.

É importante ter em mente que alguns problemas são perenes, históricos e também que problemas podem surgir ou se agravarem a partir de fatos previstos. Seguindo a coluna anterior vamos passar por dez tópicos, de diferentes importâncias, para ficarmos de olho no ano de 2021. Para evitar um tom de hierarquização dos temas, vamos por ordem alfabética.

Mundo pós-soviético

É um pequeno orgulho da coluna ser um dos poucos espaços que trata das questões pós-soviéticas na imprensa brasileira. A Rússia, as antigas repúblicas soviéticas e as relações entre esses países estão presentes aqui desde o início e, infelizmente, acontecimentos recentes mostraram a necessidade disso.

A Armênia saiu derrotada da mais recente guerra com o Azerbaijão, perdendo territórios que ocupava desde o início da década de 1990. Isso causou ebulições internas e a necessidade de revisitar as alianças externas do país, especialmente com a Rússia, uma relação que ficou estremecida com o novo governo.

Já o Azerbaijão sai entusiasmado e com sua ditadura fortalecida. Ao norte, a Geórgia ainda vive um conflito congelado com a Rússia, assim como a Ucrânia, com o cessar-fogo no leste do país, de maioria russa da população. A vizinha Moldova também corre o risco de passar por crises separatistas em 2021.

Mais ao norte, a situação em Belarus caminha para uma solução do tipo “algo precisa mudar para que tudo continue como está”. Lukashenko não caiu, mas também não mais possui controle absoluto do país. Enquanto isso, a vizinha Lituânia terá um novo governo de postura crítica à Rússia.

Na Ásia central, o Quirguistão tenta superar a crise política com eleições no próximo domingo, dia dez. Outros governos autoritários da região também passarão por eleições para seus legislativos, o que abre margem para debates sobre fraudes e opositores, embriões de possíveis crises nesses países.

Oriente Médio

Esse é um tópico quase óbvio e presente em qualquer listagem possível desse tipo. Alguns dos casos concretos para o leitor ficar de olho são as eleições palestinas, abordadas dias atrás; as eleições em Israel, que serão abordadas em coluna próxima; e se o acordo nuclear com o Irã será retomado, algo citado na coluna anterior.

Outros temas ainda existem, entretanto. A guerra na Síria será afetada pelo novo governo Biden, retomando a presença militar dos EUA na região, ou o apoio aos curdos? O expansionismo turco será contido? Teremos alguma solução para a guerra no Iêmen, marcada pela intervenção saudita que causou a morte de milhares?

Principalmente, a tendência de aproximação entre Israel e os países árabes vai continuar, culminando em um acordo entre israelenses e sauditas, normalizando as relações entre os dois países? Netanyahu certamente vai correr atrás desse acordo antes das novas eleições nacionais, um grande trunfo eleitoral.

Por outro lado, esse acordo seria um golpe fatal para os palestinos e a solução de dois Estados, e não seria unânime em todos os países árabes. Finalmente, o Iraque continua na beira de uma guerra civil ou em ser o palco de um conflito indireto com o Irã, que conta com diversas milícias xiitas aliadas em território iraquiano.

Pandemia

É importante deixar muito claro: a pandemia não acabou. E não vai acabar num estalar de dedos. O mundo ainda terá que lidar com isso em 2021. Surtos maiores, confinamentos, setores da economia como o turismo ainda paralisados. E também a disputa política sobre as causas da pandemia, com o início da missão investigativa da OMS.

Sahel

Sahel é a faixa de quase seis mil quilômetros de extensão entre o deserto do Saara, ao norte, e a savana africana. Além de ser uma zona de transição geográfica e climática, o Sahel, por séculos, é também uma zona de transição cultural e demográfica, unindo diversas populações.

Em relação aos Estados modernos, o Sahel passa por Gâmbia, Senegal, Mauritânia, Mali, Burkina Faso, Níger, parte da Nigéria e dos Camarões, Chade, Sudão, Sudão do Sul e Eritreia. E, como alguns leitores devem ter notado, a região tornou-se um foco de conflitos e de grupos radicais jihadistas.

A França, antiga dominadora colonial de metade dos países citados, tem aumentado sua presença militar na região, interessada em manter alguma estabilidade, mesmo que em parceria com governos autoritários. Principalmente, dali vem o urânio que alimenta as usinas nucleares francesas, onde 70% da energia elétrica têm origem nuclear.

A região entra em 2021 com grupos jihadistas como o Boko Haram, presença militar estrangeira, conflitos internos, como a guerra no Mali, acompanhada de um golpe militar. E essas crises são cada vez mais sentidas fora da região. Infelizmente, olhar para a região do Sahel é olhar para um possível epicentro de novas crises.

Venezuela

Como será a situação venezuelana em 2021? Como serão as relações entre o governo Maduro e o governo Joe Biden? Pessoas próximas ao futuro presidente dos EUA disseram na imprensa de seu país que Biden estaria disposto a um acordo com Maduro, sem o condicional de sua saída imediata do poder, ao contrário da proposta de Trump.

Guaidó entra em 2021 bastante enfraquecido, com apostas mal feitas que não renderam nada. Leopoldo López está exilado na Espanha. Tudo indica que Capriles poderá retomar o protagonismo da oposição venezuelana. Finalmente, a situação interna da Venezuela, agora com Maduro controlando também o parlamento nacional.

Maduro precisará lidar com menor reconhecimento internacional, especialmente regional, com a pandemia e com a preocupante fuga de cérebros que a Venezuela sofreu nos últimos anos. E a sombra da pressão dos EUA e do cada vez maior poder dos militares venezuelanos.

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