O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, conversa com a vice-presidente, Kamala Harris, após o discurso do Estado da União, no Capitólio, em Washington, DC , EUA, 07 de fevereiro de 2023.| Foto: EFE/EPA/Jacquelyn Martin
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Na última terça-feira (07), Joe Biden, realizou seu terceiro discurso perante uma sessão conjunta do Congresso, seu segundo pronunciamento do Estado da União. Sua fala foi centrada em economia, bem-estar social e segurança internacional, especialmente a rivalidade com a China e a guerra na Ucrânia. Com pouco mais de uma hora de duração, alguns pontos merecem nossos comentários.

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Biden manteve o costume das últimas décadas de convidar diversas pessoas ligadas aos temas de seu discurso ou de relevância em eventos recentes. Por exemplo, a mãe e o padrasto de Tyre Nichols, homem que foi morto pela polícia no último dia sete de janeiro, cujas imagens brutais impactaram os EUA. Ou, então, Oksana Markarova, embaixadora da Ucrânia em Washington.

Foram dezenas de convidados, incluindo líderes sindicais, empresários e representantes da organização civil. Também estiveram presentes os dois ex-juízes que mais recentemente se aposentaram da Suprema Corte, algo que não ocorria desde o governo Bill Clinton. O fato é que o número de convidados foi enorme, mesmo para os padrões recentes inaugurados por Trump, e esse número acabou soando como uma situação forçada por Biden.

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Biden, em diversos momentos, faz gracejos e piadas. Por exemplo, ao parabenizar o novo líder democrata na Câmara, Hakeem Jeffries, o primeiro líder  afro-americano na História da casa, ele comentou que Jeffries venceu “apesar de eu ter feito campanha para ele”. Isso é parte da personalidade de Biden, sem dúvida, já foi visto antes, mas a linha para o exagero é bastante tênue, parecendo um desespero em parecer um “cara legal” perante o público.

Gestão e Trump

Em uma crítica a Trump e seus apoiadores, Biden afirmou que “dois anos atrás, a democracia enfrentou sua maior ameaça desde a Guerra Civil”, referência aos eventos no Capitólio no início de 2021. Importante contextualizar que foi o primeiro discurso de Biden em um Congresso composto por uma Câmara de maioria republicana, algo que não ocorria desde 2018.

Principalmente, Biden louvou os trabalhos de sua própria gestão em relação ao desempenho econômico do país, afirmando que sua gestão criou mais empregos do que qualquer outra na História, doze milhões de postos de trabalho. Essa estatística é verdadeira, mas sabe-se que podemos dizer muitas coisas com estatísticas, nem sempre são totalmente verdadeiras.

Os índices econômicos melhoram nos EUA em parte por méritos da gestão Biden, sim, mas em parte pois eles simplesmente não tinham como piorar mais comparados aos números do auge da pandemia de covid-19. Os números acabam inflacionados por um “efeito rebote” pós-pandemia. Nessa seara, Biden também defendeu as medidas protecionistas de seu governo, inclusive citando o declínio na participação dos EUA no mercado mundial de chips.

Segundo a Associação da Indústria de Semicondutores dos EUA, a participação dos EUA na capacidade global de fabricação de semicondutores diminuiu de 37% em 1990 para 12% atualmente. Isso está ligado à ascensão de centros produtores mais baratos, como Taiwan e a China. Hoje, entretanto, isso não é mais apenas uma questão econômica de preços mais baratos, mas também geopolítica.

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Além do protecionismo e das correlatas medidas de incentivo fabril, Biden também defendeu outra “menina dos olhos” de sua visão de mundo: mais impostos para grandes empresas. Segundo Biden, 55 das maiores empresas do país tiveram, juntas, quarenta bilhões de dólares de lucros e não pagaram nada de imposto de renda federal, o que não seria justo com os trabalhadores.

Visão de mundo de Biden

Quando Biden fala em questões como essas, é importante relembrarmos sua visão de mundo, já debatida aqui em nosso espaço. Ele tem como grande referência Franklin Delano Roosevelt e os programas New Deal. Algumas de suas ideias são legitimar o papel dos sindicatos, de incentivar a produção doméstica nos EUA e de fazer do Estado um ator importante na transformação econômica.

Também faz parte da visão de Biden a proposta de taxar as grandes empresas e grandes fortunas para financiar a melhoria da qualidade de vida da classe média trabalhadora. Foi nesse tema que ocorreu o melhor momento do discurso. Biden falava sobre o teto da dívida do governo federal e afirmou que os republicanos querem cortar programas de Seguridade Social e o Medicare.

Biden foi vaiado, chamado de mentiroso por alguns, outros balançaram a cabeça negativamente, incluindo o líder da Câmara, Kevin McCarthy, enquadrado pelas câmeras, já que ele fica sentado atrás do presidente. Biden, então, afirmou que, pela reação, “todos concordavam que Seguridade Social e Medicare deviam ficar de fora, não deveriam ser tocados e as propostas republicanas seriam retiradas.

Os democratas presentes adoraram a invertida e aplaudiram, assim como alguns republicanos, em um raro momento de fora do roteiro nesse tipo de ocasião. A questão da dívida pública dos EUA é outro aspecto que é sequestrado pela mágica da estatística. Por exemplo, Biden afirma que seu antecessor, Trump, expandiu muito a dívida, ao contrário dele. Novamente, as medidas contra a pandemia que explicam isso.

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Em diversos pontos, como a competição com a China e o apoio aos ucranianos, Biden tentou frisar que busca união bipartidária. E, como não poderia deixar de ser, evocou o excepcionalismo dos EUA, uma nação “construída numa ideia” e que é “um farol para o mundo”. Curiosamente, um comportamento muito criticado por Putin. Não à toa o mundo vive um choque não apenas de interesses, mas de ideias de mundo.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]