A chanceler alemã, Angela Merkel. País administrou bem a crise no início da pandemia, mas desde o mês passado vê casos contaminações aumentarem a cada dia| Foto: Kay Nietfeld / POOL / AFP
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Chega o período em que o ano que está terminando é encaixotado e começam os planos para o período que começará. Colabora o fato de que o ano que está terminando não deixará saudades em ninguém. Pela terceira vez (o tempo passa rápido!), aqui no nosso espaço de política internacional, vamos fazer um balanço dos principais tópicos que nos aguardam no ano que se aproxima.

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Essa seleção de temas, além de informar o leitor, também contribui para antecipar o estudo e aprofundamento em relação aos assuntos que mais despertem o interesse de cada um. Continuamos esse balanço, agora abordando as principais eleições europeias de 2021.

Países Baixos

No dia 17 de março, os neerlandeses vão escolher seus 150 parlamentares. O líder do partido conservador VVD, Mark Rutte, busca sua quarta vitória eleitoral, com a popularidade em alta devido aos aparentes sucessos do país no combate ao novo coronavírus. Hoje, o parlamento está dividido ao meio, com 75 cadeiras na mão da coalizão de governo, formada pelo VVD, os liberais do D66 e dois partidos democratas-cristãos. As outras 75 cadeiras estão pulverizadas entre nove partidos, mais dois parlamentares independentes. Os maiores são o nacionalista e populista PVV, os verdes e o Partido Socialista.

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Em uma ponderação das pesquisas, caso a coalizão seja mantida, Rutte não terá um número de cadeiras muito maior do que esse, algo entre 70 e 77 cadeiras. Ou seja, talvez sequer consiga uma “reeleição” pura e simples, necessitando negociar a entrada de mais algum partido em seu governo. Provavelmente, um dos dois partidos verdes neerlandeses, talvez ambos.

De qualquer maneira, Rutte e o VVD são os favoritos para liderar o pleito. A grande pergunta é qual será o desempenho do PVV, liderado por Geert Wilders, conhecido por sua cabeleira, sua postura nacionalista e seus comentários anti-Islã, que já lhe renderam uma condenação por incentivo ao preconceito.

O PVV é o maior partido da oposição, com vinte cadeiras. Internacionalmente, é alinhado com a Reunião Nacional de Marine Le Pen e com a Lega Nord, de Matteo Salvini. Segundo as pesquisas, o partido provavelmente crescerá sua representação parlamentar em algumas cadeiras.

Oficialmente, porém, todos os partidos rejeitam uma coalizão com o PVV, diversas vezes acusado de possuir integrantes racistas ou simpatizantes do fascismo. E tais comentários não são feitos apenas por políticos de esquerda, mas por líderes democratas-cristãos e conservadores também. Extraoficialmente, existe um “acordo de convivência” entre o VVD e o PVV. Caso Wilder aumente seu poder político, será mais difícil ignorar a existência de sua plataforma.

Bulgária

Alguns dias depois, em 28 de março, será a vez dos búlgaros escolherem seu novo governo, votando para as 240 cadeiras do parlamento. É curioso que a Bulgária tem metade da população neerlandesa, mas o dobro de cadeiras parlamentares. Idealmente, isso significaria maior representatividade democrática; por outro lado, de acordo com a Transparência Internacional, a Bulgária é um dos países mais corruptos da Europa. Fiquem à vontade para tirarem suas conclusões. Falando em corrupção, esse será um dos principais temas da eleição, com Boyko Borisov buscando permanecer no cargo que ocupa, praticamente, desde 2009, com breves interrupções.

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Borisov é um bom exemplo de burocrata herdado do período socialista que se reinventa como uma amálgama de políticas sociais, conservadorismo nos costumes e discurso pró-União Europeia. Uma espécie de “centrão pós-Guerra Fria”, que tenta agradar todos os setores da sociedade, desde os jovens que desejam ser cidadãos europeus plenos até os mais velhos, que são tanto nacionalistas quanto saudosos do aparato social existente até o final dos anos 1980. Nesse sentido, além da corrupção, ele é acusado de tentar cooptar todo o aparato estatal para seus aliados e seus interesses próprios.

Ambas as acusações foram as bases dos protestos que tomaram a Bulgária em 2020, mobilizando quase 10% da população nas ruas. O estopim dos protestos foi uma batida policial, ordenada pelo governo Borisov, ao escritório de seu principal opositor, o presidente Rumen Radev. No sistema parlamentarista búlgaro, como na maioria dos governos parlamentaristas, o presidente possui pouco poder concreto. A batida policial foi vista como uma manobra política e como abuso de poder.

A questão é que Borisov e seu “centrão” ainda estão no topo das pesquisas eleitorais, tecnicamente empatados com o principal partido opositor, o social-democrata, de centro-esquerda. Formar uma coalizão não será fácil, com outros cinco partidos com provável participação parlamentar. Junto com isso, as suspeitas das instituições europeias de possíveis fraudes eleitorais na Bulgária não são novas.

Uma eleição apertada, a dificuldade de formar um governo, os protestos populares e possíveis fraudes tornam a eleição búlgara importante de ser observada, como prenúncio de risco de severa crise política em um país integrante da União Europeia.

Reino Unido

Embora as eleições locais não costumem ser o foco do nosso espaço, os londrinos vão escolher um novo prefeito no dia seis de maio. E essa eleição é interessante por três motivos. Primeiro, será um voto influenciado por alguns meses de consequências práticas do Brexit, não apenas pela incerteza e pela negociação. Segundo, o prefeito Sadiq Khan busca reeleição. Muçulmano e de origem paquistanesa, ele foi o primeiro prefeito da capital de uma minoria demográfica. Retratado como figura “exótica” nos círculos conservadores, foi até mesmo alvo de ataques racistas e xenófobos, embora tenha nascido em Londres. O principal mérito de sua administração talvez seja o transporte público londrino, e ele lidera as pesquisas, despontando como possível liderança nacional do Partido Trabalhista.

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O terceiro motivo é que o Partido Conservador resolveu “trucar” e também apostar em um representante de minorias. Seu candidato para a prefeitura será Shaun Bailey, neto de jamaicanos, que chegaram ao país após a Segunda Guerra Mundial. Anglicano, defende pautas conservadoras em questões sociais e um aumento do tamanho e dos poderes da polícia metropolitana, acusando o atual prefeito de ser “leniente” com a criminalidade. Como curiosidade, tanto Khan quanto Bailey, além de descendentes de imigrantes recentes, cresceram em iniciativas habitacionais governamentais de baixo custo.

Alemanha

Será em setembro, na Alemanha, que ocorrerão as eleições (talvez) mais importantes de 2021. Depois de quinze anos, Angela Merkel deixará o comando de seu país. Ela deixa também uma Alemanha e uma União Europeia muito diferentes de quando chegou. Sua carreira, entretanto, é assunto para outra hora. Outros temas urgem. Como, por exemplo, o fato de que seu partido, a centro-direita União Democrata-Cristã (CDU), está sem liderança. Merkel abdicou do posto em dezembro de 2018, já pensando na transição de poder do partido e nas eleições de 2021. Sua sucessora foi Annegret Kramp-Karrenbauer, ex-governadora do Sarre (Saarland, em alemão) e atual ministra de Defesa. Como consequência da derrota nas eleições europeias, AKK, como é conhecida, renunciou ao posto de liderança partidária em fevereiro de 2020. De qualquer forma, nos dias 15 e 16 de janeiro de 2021, mil e um delegados da CDU vão escolher o novo líder do partido.

Claro, há também candidatos conservadores para as eleições de setembro. Os três candidatos são homens na casa dos sessenta anos de idade do estado da Renânia do Norte-Vestfália, o mais populoso da Alemanha. O principal deles é Armin Laschet, atual governador do estado. Outro candidato é Friedrich Merz, mais à direita, frequentemente derrotado por Merkel nas eleições internas ao partido. Finalmente, Norbert Röttgen, ex-ministro do meio-ambiente.

Mesmo com a indefinição, as pesquisas eleitorais não aparentam um grande prejuízo para a coalizão entre a CDU e seu partido irmão União Social-Cristã (CSU), da Baviera. Na verdade, pelas pesquisas até o momento, os partidos conservadores teriam um desempenho eleitoral muito semelhante ao de 2017. Enquanto isso, a centro-esquerda social-democrata (SPD), os liberais (FDP), a direita nacionalista (AfD) e a esquerda (Linke) teriam desempenhos piores. A grande diferença promete ser o Partido Verde, que teve 9% do voto popular quatro anos atrás e, atualmente, as pesquisas indicam o dobro, o que os colocaria como a segunda bancada do parlamento. Não chega a ser novidade, apenas continuidade de um fenômeno que já foi analisado por aqui antes.

Hoje, a Alemanha é governada pela chamada Grande Coalizão, a aliança entre os dois maiores partidos, CDU/CSU mais o SPD. Tudo indica que os verdes se tornarão indispensáveis após a próxima eleição, mas talvez não suficiente para substituir o SPD. Nesse caso, ocorreria o que é chamado de Coalizão Quênia na Alemanha, entre os conservadores, representados pela cor preta, os social-democratas, vermelho, e os verdes. Claro que as pesquisas são apenas um indicativo, ainda mais faltando nove meses para o pleito. Questões como a pandemia do novo coronavírus, campanhas de vacinação, relacionamento com a Rússia e com os EUA, tudo isso certamente pode influenciar o eleitorado alemão até lá.

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Lembrando que essas são apenas um recorte das principais eleições europeias. Outras eleições em 2021 no Velho Mundo serão para presidente em Portugal (24 de janeiro) e eleições gerais na Albânia (25 de abril), na Noruega (13 de setembro), na Islândia (25 de setembro), na Tchéquia e no Kosovo (ambos sem data). Diferentes pleitos vão aparecer por aqui no decorrer do ano, certamente.