O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, cumprimenta o primeiro-ministro da Suécia, Ulf Kristersson, na presença do secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg. Na segunda (10), Erdogan aceitou apoiar a entrada da Suécia na aliança militar.| Foto: EFE/EPA/FILIP SINGER
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Erdogan e seu governo na Turquia saíram ganhando novamente no processo de adesão da Suécia e da Finlândia à OTAN. A Turquia já havia retirado seu “veto” à entrada dos países escandinavos na aliança, com a adesão finlandesa concluída no último mês de abril. O governo Erdogan, entretanto, mantinha sua postura de barganha em relação aos suecos, “criando a dificuldade para vender a facilidade” no ditado popular. Isso acabou na véspera da atual cúpula da OTAN, com mais ganhos para Erdogan.

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Em julho do ano passado, os três países já haviam assinado um memorando de cooperação. Suécia e Finlândia não iriam mais embargar vendas de armas para a Turquia, apoiariam a entrada da Turquia no mecanismo PESCO, da União Europeia, interromperam “apoio” aos grupos curdos, alteariam suas leis sobre terrorismo e extraditariam “suspeitos” de terrorismo para a Turquia. Os três países vão compartilhar inteligência e estabelecer um “mecanismo conjunto” de consultas sobre justiça e segurança.

A questão é que a Turquia alega que a Suécia não colaborou com a extradição dos “terroristas”, na maioria dos casos lideranças curdas que buscaram refúgio no país. Esse é o exato cenário que foi antecipado aqui em nosso espaço no ano passado. O governo Erdogan, então, mesmo após a aprovação da Finlândia, manteve a resistência aos suecos, também como uma maneira de pressionar seus outros aliados. Especialmente o caso dos EUA, que excluíram a Turquia do programa F-35.

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A Turquia, então, buscava o fornecimento de caças modelo F-16, em suas versões mais modernas. Mesmo a venda desses vetores estava travada, por uma série de razões, como as sanções dos EUA contra a Turquia desde o governo Trump, o histórico turco recente de Direitos Humanos e o receio de causar um desequilíbrio de poder entre Turquia e Grécia, rivais históricos. No ano passado, Joe Biden afirmou que “apoia os esforços turcos de modernizar sua força aérea”.

Cúpula da OTAN

Hoje, dia 11 de junho, e amanhã, ocorre a cúpula anual da OTAN, em Vilnius, capital da Lituânia. Na noite do dia dez, o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg realizou uma reunião com Erdogan e o primeiro-ministro sueco Ulf Kristersson. Após várias horas de conversas, Stoltenberg anunciou que o governo turco finalmente concordou em desbloquear a adesão da Suécia à OTAN e garantir a ratificação o mais rápido possível. O que Erdogan conseguiu de concessões dessa vez?

O governo dos EUA prometeu se esforçar perante o Congresso do seu país para liberar o pacote armamentista solicitado pela Turquia ainda em 2021. Serão quarenta novos jatos e kits de modernização para 79 aviões já no inventário da força aérea turca, totalizando seis bilhões de dólares. A Suécia também se comprometeu a apoiar “maior agilidade" na adesão da Turquia à União Europeia, algo que é muito mais complexo do que parece à primeira vista.

Países como Ucrânia e Turquia são, para padrões europeus, gigantescos, em território e em população. A inclusão de países como esses na UE significaria uma necessidade de adaptação muito grande. A Turquia é uma “eterna candidata” à UE. Tornou-se membro associado da então Comunidade Europeia em 1963, assinaram um memorando de união aduaneira em 1995, foi reconhecida como candidata em 1999 e, finalmente, as negociações para a adesão plena começaram em outubro de 2005.

Existem muitos fatores que afastam a Turquia da UE. Principalmente, o demográfico, já citado. Seriam 85 milhões de novos cidadãos europeus, imediatamente tornando a Turquia o país mais populoso do bloco. Questões como democracia, estabilidade jurídica e Direitos Humanos são alguns dos principais obstáculos. Dos 35 pontos necessários para concluir o processo de adesão, apenas dezesseis tiveram conversas iniciadas e apenas um foi concluído, em maio de 2016.

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Vistos da UE

A Turquia não vai se tornar um membro da União Europeia tão cedo. O que o governo turco deseja, então, com esse apoio sueco? Nos últimos anos, especialmente após a pandemia de covid-19, o governo turco reclama que seus cidadãos são desproporcionalmente barrados de entrarem na União Europeia. Segundo o governo turco, a negativa de vistos da área Schengen para cidadãos turcos aumentou de 4% dos pedidos em 2014 para 12,7% em 2020 e 19% em 2021.

A Turquia é o único país reconhecido como candidato à UE cujos cidadãos necessitam até mesmo de vistos de trânsito. Isso afeta a economia turca e também o orgulho nacional de parte da sociedade. O plano do governo Erdogan, então, é conseguir apoio para a facilitação da concessão de vistos, ao menos para os de curto prazo, facilitando viagens de negócios e trânsito. A isenção de vistos de turismo, como ocorre com cidadãos brasileiros, é outro objetivo, mas em uma segunda etapa.

A cúpula de Vilnius também discutirá outros temas, especialmente, claro a guerra na Ucrânia e o possível prospecto da adesão ucraniana à aliança em algum momento. Também será discutido o contínuo apoio militar aos ucranianos. Além dos países-membros, da Suécia e da Ucrânia, outros países que estarão presentes na cúpula são Austrália, Japão, Nova Zelândia e Coreia do Sul. Por enquanto, a principal notícia é a vitória turca em sua barganha sobre a adesão escandinava.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]