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Japão-evacuação-Sudão
Membros da força aérea japonesa embarcando, no dia 21 de abril, em um avião militar com destino a Djibuti. Os oficiais foram enviados para preparar a evacuação de cidadãos japoneses do Sudão.| Foto: EFE/EPA/JIJI PRESS

A crise no Sudão se agravou e já deixou centenas de mortos. Os combates entre as Forças de Apoio Rápido, conhecidas pela sigla em inglês RSF, e o exército sudanês chegaram à capital Cartum. Representações estrangeiras foram atacadas e, dentre os mortos e feridos, estão inclusive funcionários de agências humanitárias da ONU. Nesse cenário, diversos países, como EUA e França, iniciaram a evacuação total de seus cidadãos. Para entender esse processo, precisamos olhar para uma interessante situação de um pequeno país da região.

O cenário sudanês foi tema da penúltima coluna aqui de nosso espaço de política internacional. A crise, desde o início, tem envolvimento internacional, com os interesses do grupo Wagner, ligado ao governo russo. Com a escalada das tensões, temos evidências da intervenção ativa do Egito, aliado do governo militar sudanês. Cerca de duzentos militares egípcios foram tomados prisioneiros pelo RSF, e um avião de combate da força aérea egípcia foi destruído pelos rebeldes.

A vizinha Etiópia também está ativamente envolvida no conflito, por dois motivos. Primeiro, a divergência fronteiriça entre Etiópia e Sudão. A crise sudanesa representa uma oportunidade para uma eventual ocupação etíope em territórios que são do Sudão, mas contestados pela Etiópia. Segundo, a instabilidade sudanesa é interessante para a Etiópia, já que as relações entre os dois países está em crise, devido o uso das águas do rio Nilo, com a construção da usina hidroelétrica da Renascença Etíope.

Operações militares

Nessa crise, o Egito é aliado do Sudão, como países da jusante do Nilo, enquanto Uganda apoia a Etiópia, como países da montante do rio. E existe outro país na equação da atual crise, o pequeno Djibuti. Ali está a base militar de Camp Lemonnier, a única base militar permanente dos EUA no continente africano, que conta com uma guarnição e com uma base aérea. Foi dessa base que o governo dos EUA realizou a operação de evacuação de seus cidadãos e de parte de seu corpo diplomático no Sudão.

Operação semelhante foi realizada pela França, a partir de sua base também no Djibuti, antiga potência imperial que controlava o território. Trata-se da maior base militar francesa fora de seu território europeu. A base possui componentes de terra, ar e mar. As duas menções não são necessariamente surpreendentes, já que tratam-se de bases da maior potência militar do planeta e da antiga potência colonial da região. Inclusive, a atual base dos EUA é no local da antiga base francesa no Djibuti.

Essas não são as únicas presenças militares estrangeiras no pequeno país africano, entretanto. A Itália, outro país da OTAN, possui um destacamento permanente no país, desde 2014. Os italianos também realizaram uma operação de evacuação de seus cidadãos do Sudão. Anos antes, em 2011, o Japão inaugurou sua base militar no Djibuti. Com seiscentos militares, a base possui componentes navais e aéreos. Trata-se da primeira e, até o momento, única base permanente militar japonesa no exterior.

Em 2017, foi inaugurada a base militar chinesa no Djibuti. A instalação representou uma guinada estratégica, sendo a primeira base militar chinesa no exterior. Com cerca de mil e quinhentos militares, ela representa um dos extremos do chamado Colar de Pérolas, a planejada cadeia de bases aeronavais chinesas que irá do território continental até a África, percorrendo o Mar do Sul da China, o sudeste asiático e o oceano Índico. A base chinesa foi motivo de tensões e protestos por EUA e Japão.

Localização como riqueza

O que explica tantas bases estrangeiras no pequeno país africano? Para as potências, significa projeção de força, apoio logístico e bases para combate à pirataria que ameaça o tráfego marítimo pela África. Já para o Djibuti, representa, principalmente, divisas econômicas. O país está na parte de baixo de quase todos os índices internacionais. Dos menores países, com menos população, produto interno bruto pequeno e baixo índice de desenvolvimento humano. A grande riqueza do país é sua localização.

O país controla o estreito de Bab-el-Mandeb, um gargalo natural entre o golfo de Aden e o mar Vermelho. Por ali passam praticamente todos os navios que transitam pelo canal de Suez, e o Djibuti é um importante porto de reabastecimento. O porto também é o principal escoamento de exportações de países vizinhos, como a Etiópia, que não possui litoral. Do território do Djibuti é possível garantir a segurança do canal e de navios que transitam pelo Chifre da África. Ou, então, ameaçar essa mesma segurança.

Devido sua importância portuária, o Djibuti tem grande participação do setor de serviços em sua economia. As potências pagam aportes iniciais e aluguéis pelas bases, constituindo fonte de renda para o país. Infelizmente, nem todo esse dinheiro beneficia a população, já que o governo é uma ditadura corrupta desde a independência, em 1977. O atual mandatário, Ismail Omar Guelleh, sucedeu seu tio em 1999.

Outro benefício das bases estrangeiras no país é o fato de servirem como dissuasão frente a eventuais agressões de países vizinhos mais fortes, como a Eritreia ou a já citada Etiópia. A questão é que a atual crise no Sudão, um país grande e rico em recursos minerais, também serve para ilustrar a importância geopolítica de países que são diametralmente diferentes. Como o pequeno, pobre e pouco conhecido Djibuti.

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