O presidente do Equador, Guillermo Lasso, fala aos membros do conselho permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) em Washington DC (Estados Unidos) .| Foto: EFE / Lenin Nolly
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O próximo domingo, dia cinco, pode decidir o futuro próximo do Equador. Um dos três países sul-americanos com um governo de direita, do presidente Guillermo Lasso, um dos homens mais ricos de seu país, o Equador vive um cenário político travado. Uma queda de braço entre o congresso, dominado pela esquerda, e o executivo, que, pela falta de apoio legislativo, não consegue aprovar nada. Para contornar isso, o presidente buscou um referendo constitucional, com oito perguntas.

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As questões do referendo já foram aprovadas previamente pelo tribunal constitucional do país. No histórico recente, nos dois últimos referendo realizados no país, o governo saiu vencedor. Em 2017, o governo Rafael Correa, de esquerda, aprovou a proibição de ocupantes de cargos eletivos ou servidores públicos terem bens ou capitais em paraísos fiscais. Em 2018, Lenin Moreno conseguiu a aprovação de sete questões em um grande referendo similar ao do próximo final de semana.

Quais são as questões envolvidas, então? A primeira busca autorizar a extradição de equatorianos que tenham cometido crimes relacionados a crime organizado transnacional, como narcotráfico, tráfico de armas e tráfico de pessoas. Hoje, a constituição equatoriana proíbe a extradição de nacionais em qualquer caso. Essa pergunta está obviamente ligada ao fato do Equador sofrer cada vez mais, nos últimos anos, com o tráfico internacional de drogas, incluindo centenas de mortes.

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A segunda pergunta modifica o processo de seleção, avaliação, fiscalização e promoção da promotoria equatoriana, hoje conduzido pelo Conselho do Judiciário. Os defensores da medida afirmam que os promotores terão mais autonomia, enquanto os críticos afirmam que a promotoria agirá com menos transparência e mais poderes. Um debate similar ao papel do judiciário brasileiro nos últimos anos, com questões como o comportamento de agentes do Estado na operação Lava-Jato e de ministros do STF.

A terceira pergunta visa diminuir o tamanho do congresso nacional, de 137 cadeiras para 100, e estabelecer novos critérios proporcionais para a eleição de congressistas. Proporcionalmente, a medida seria aplicada às assembleias locais. A quarta pergunta feita aos eleitores propõe que movimentos políticos tenham um número mínimo de filiados equivalente a 1,5% do cartório eleitoral de sua jurisdição. Além disso, os movimentos precisariam manter um cadastro atualizado e auditável de seus integrantes.

A proposta visa diminuir o número de movimentos e partidos políticos, forçando fusões que criem apenas representações nacionais, em meio uma série de denúncias de “filiados fantasmas” em partidos políticos, incluindo pessoas que foram filiadas sem seu conhecimento. A quinta pergunta busca, na prática, esvaziar o Conselho de Participação Cidadã e Controle Social, que participa da nomeação de autoridades. O órgão é uma criação do governo Rafael Correa.

Os defensores da medida afirmam que o conselho é uma espécie de filtro ideológico para a nomeação de autoridades e uma herança política de um governo tido como divisivo. Os críticos da medida, por sua vez, alegam que a transparência da nomeação de autoridades será diminuída, favorecendo jogos políticos e troca de favores. Não é à toa que as pesquisas indicam que o placar dessa pergunta será o mais apertado, com um intenso debate político em torno dela.

Meio ambiente

A sexta pergunta, inclusive, propõe modificar a maneira de eleição dos integrantes do mesmo Conselho de Participação Cidadã e Controle Social. A sétima pergunta propõe a criação de um sistema de proteção da água potável ao sistema nacional de áreas protegidas. Além de preservação de áreas ricas em água, a medida proíbe que indivíduos e empresas estrangeiras adquiram terrenos ou concessões em áreas protegidas, por razões ambientais ou de água potável.

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Essa medida é interessante e remete à chamada Guerra da Água, no final do século passado, na Bolívia, quando intensos protestos forçaram o governo a reverter a lei que privatizava o fornecimento de água potável. Na ocasião, seis bolivianos morreram. Os protestos fizeram do então deputado Evo Morales uma liderança conhecida nacionalmente, e o líder cocalero foi eleito presidente cinco anos depois. Retornando ao Equador, a oitava pergunta do referendo também trata de pautas ambientais.

A pergunta propõe que pessoas, comunidades, povos e nacionalidades possam ser beneficiários de compensações pela geração de serviços ambientais. Ou seja, pessoas, empresas, organizações e populações indígenas que colaborarem com a preservação ambiental poderiam ser recompensados e remunerados por isso. Segundo as pesquisas, as duas propostas ambientais devem ser aprovadas com ampla vantagem no placar, sem grandes dúvidas.

Em linhas gerais, o partido governista CREO defende a aprovação de todas as questões, enquanto os partidos de oposição, a maioria de esquerda, são contra as questões que alteram questões políticas e jurídicas. Para uma questão ser aprovada, não basta a maioria dos votos, mas também mais da metade dos votantes. Ou seja, por exemplo, se uma pergunta tiver um grande número de votos em branco, mesmo que a maioria a aprove, ela não será considerada aprovada.

As pesquisas apontam a aprovação de todas as perguntas. Caso o governo Lasso consiga aprovar suas propostas constitucionais, ele terá sobrevida e demonstrará força popular suficiente para governar e, eventualmente, adotar medidas executivas em relação ao tráfico de drogas no país. Por outro lado, caso ocorra alguma reviravolta e o governo Lasso será derrotado, o Equador corre o risco de viver uma paralisia institucional até 2025, data da próxima eleição presidencial.