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Qual será o futuro político de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel? O tema da política doméstica israelense não é nenhuma novidade em nosso espaço de política internacional, pelo contrário, deve ser um dos assuntos mais abordados por aqui. Nos últimos anos, por diversas vezes o futuro político de Netanyahu pareceu ameaçado, mas ele deu a volta por cima, mesmo que o preço para isso fosse altíssimo. As mais de mil mortes israelenses no último dia Sete de outubro, entretanto, devem ser o início de seu fim.
Um mês atrás, a posição de Netanyahu já era delicada. Enfrentava enormes processos em todo o país, com centenas de milhares de pessoas indo às ruas contra a sua proposta de reforma do equilíbrio entre os poderes. Na prática, a reforma deixaria o Judiciário impotente perante o Legislativo e, no caso de um país parlamentarista, consequentemente, também impotente perante o Executivo. Centenas de milhares de pessoas em um país de menos de dez milhões de habitantes.
A verdadeira motivação da proposta de reforma é o fato de que Netanyahu se considera um perseguido pelo Judiciário. O premiê responde por processos por corrupção e o equivalente ao que é tipificado no Brasil como tráfico de influência. Isso também explica a vontade de Netanyahu de pagar todo e qualquer preço para continuar no cargo, gozando de suas prerrogativas. Nem que o preço seja construir a coalizão mais nacionalista e religiosa da História do país.
Opinião pública
Após os ataques terroristas do Hamas do dia sete de outubro, a pergunta que a maioria dos israelenses se fez, foi: onde estava o governo? O que explica a inação de Netanyahu, que demorou quatro horas para se pronunciar? Além de o governo ter sido pego de surpresa, alguns cidadãos esperaram até vinte horas por socorro contra os terroristas. O que explica tanta incompetência? E, claro, Netanyahu, como chefe de governo, foi e deve ser responsabilizado.
Desde os primeiros dias, inclusive, como mostram diversas pesquisas de opinião. Já no dia nove de outubro, o jornal Haaretz repercutiu uma pesquisa que indicava que 55% da população israelense acha que Netanyahu deveria renunciar de maneira imediata, concordando com o editorial do jornal. Ele ficou atrás apenas do ministro da Segurança Pública, o extremista Itamar Ben-Gvir, cuja renúncia imediata era defendida por 58% das pessoas que responderam.
A demora de cinco dias para a formação de um governo de unidade nacional, com um dos líderes da oposição e ex-ministro da Defesa, Benny Gantz, também foi motivo de críticas. Mais recentemente, no dia 23 de outubro, pesquisa do Ynet mostra que, para 75% da população, Netanyahu tem grande responsabilidade pelo massacre ocorrido no dia Sete. Também indica que 66% dos israelenses defendem a renúncia do premiê e que 64% defendem eleições após a guerra.
Principalmente, essa pesquisa também diz que 66% dos israelenses acreditam que Netanyahu foge de assumir a responsabilidade pelo massacre. Isso se soma com outra pesquisa, a do Canal 13, que perguntou aos espectadores o que eles acreditavam, se Netanyahu se preocupa mais com o seu destino pessoal ou com o bem maior do país. 59% respondeu que a prioridade de Netanyahu é com seu destino pessoal, ou seja, se manter no cargo, enquanto apenas 28% responderam que seria com o bem do país.
Serviços de inteligência
Piorando ainda mais a situação de Netanyahu, no dia 28 de outubro o premiê realizou sua primeira entrevista coletiva para veículos de imprensa israelenses em quase uma década. Na coletiva, mesmo quando perguntado, ele continuou se esquivando de assumir a responsabilidade, assim como fez em seus pronunciamentos, respondendo de maneira vaga, que apenas depois da guerra “todos” teriam que prestar os devidos esclarecimentos, incluindo ele.
Netanyahu ainda foi além, tentando jogar a responsabilidade nas agências de inteligência israelenses, o Mossad e o Shin Bet. Ao ponto de postar em uma rede social que ele não teria recebido alerta algum da inteligência, o que acabou pegando muito mal. Para responder-lhe, Yair Lapid, outro líder da oposição, postou novamente, na mesma rede social, um vídeo que o próprio Lapid postou pouco depois do massacre. No vídeo, Lapid fala de uma “guerra que se aproxima”.
Como líder da oposição e ex-premiê, Lapid também recebe relatórios de segurança, embora menos detalhados do que os de Netanyahu. Ou seja, se Lapid sabia dos alarmes de uma escalada que se aproximava, Netanyahu também sabia. E, dessa vez, Lapid adicionou: “Aqueles que trouxeram a inteligência são os mesmos membros do sistema de segurança que Netanyahu agora acusa de não avisar-lhe.”. Netanyahu deletou seu post, o que aumentou ainda mais a cizânia.
Pouco depois, fez uma postagem se retratando e afirmando que confia plenamente nas agências de segurança. O dano já estava feito e apenas fortaleceu a perspectiva da maioria dos israelenses: Netanyahu não assume a responsabilidade pela pior falha de inteligência da História de Israel, mesmo ela tendo ocorrido em seu governo, mesmo com ele tendo várias vezes bradado que a segurança de Israel é a sua responsabilidade, o seu grande slogan eleitoral, agora jogado no lixo.
O motivo de ele não fazer isso é sua preocupação em manter seu cargo frente aos seus problemas jurídicos. Enquanto isso, milhares de cidadãos são trazidos do exterior para servirem nas forças armadas. Esse número não inclui seu filho, Yair Netanyahu, a salvo em Miami Beach. Salvo alguma reviravolta impressionante, o mês de outubro de 2023 deve marcar o início do fim da Era Netanyahu em Israel, uma figura que dominou a política israelense justamente com o discurso da segurança.
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Conteúdo editado por: Bruna Frascolla Bloise