Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Filipe Figueiredo

Filipe Figueiredo

Explicações para os principais acontecimentos da política internacional

Eleições

Os conservadores ganharam na Espanha, mas vão governar?

Mais votado nas eleições gerais na Espanha no domingo (23), o PP de Alberto Núñez Feijóo enfrenta dificuldades para formar maioria na câmara baixa (Foto: EFE/Lavandeira)

Ouça este conteúdo

Tudo indica que os conservadores “ganharam, mas não vão levar” as eleições antecipadas na Espanha. No último domingo (23), os espanhóis votaram para a formação do novo parlamento, com especial destaque para a câmara baixa, onde é formado o governo no sistema parlamentarista espanhol. O desempenho do partido conservador em meio ao parlamento fragmentado torna o futuro espanhol incerto no curto prazo.

As eleições do último domingo estavam originalmente previstas para dezembro, mas foram antecipadas pelo primeiro-ministro Pedro Sánchez, líder do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), no final de maio. O motivo oficial foi a derrota marcante do PSOE nas eleições locais e regionais, mas Sánchez fez uma aposta para evitar maior crescimento da oposição, especialmente do partido neofranquista Vox.

Seu cálculo era o de que o conservador Partido Popular e o Vox poderiam fazer alianças e viabilizar governos regionais, contribuindo para uma ampliação do Vox e, principalmente, para o fim do potencial tabu que seria uma aliança nacional entre PP e Vox. Esse tabu se dá pelo fato de setores do PP rejeitarem a negociação com o Vox pelas bandeiras do partido, como o resgate da imagem de Franco e a crítica à nova lei de crimes sexuais.

Outro fator de crescimento do Vox é o fato de o PSOE ter se fiado nos partidos separatistas, republicanos e de esquerda radical para governar, três bandeiras rejeitadas pelo Vox. Essa aproximação alienou parte do eleitor moderado, que historicamente flutua entre as duas forças tradicionais, o PSOE e o PP. Esse eleitor, justamente, migrou para o PP, e não para o Vox, como algumas pesquisas apontavam.

Vitória do PP e derrota do Vox

O comparecimento eleitoral foi de 66%, o mesmo da eleição de novembro de 2019. O conservador PP ficou em primeiro, com 136 das 350 cadeiras, conquistando 33% do voto popular e aumentando sua bancada em 47 cadeiras. O voto no PP cresceu em 12% e isso é explicado principalmente por dois motivos. Primeiro, o antigo Ciudadanos, que tentou ser uma alternativa ao PP, desapareceu após menos de 20 anos.

Segundo, o próprio Vox perdeu eleitores para o PP, provavelmente consequência de seu discurso mais extremo em algumas bandeiras vistas como ideológicas demais, como o passado da ditadura franquista. Com isso, o PP liderado por Alberto Núñez Feijóo igualou seu desempenho de 2016, última vez em que havia vencido as eleições e o então líder Mariano Rajoy chefiou um governo de minoria por menos de dois anos.

Em segundo lugar ficou o PSOE, com 122 assentos e 31,7% dos votos. Ambos os números maiores do que os da eleição anterior, curiosamente. O Vox ficou em terceiro, com 33 cadeiras e 12,4% dos votos, perdendo 19 assentos e 2,7% do voto, saindo menores do que entraram. As pesquisas indicavam um empate técnico entre o Vox e a coalizão de esquerda e esquerda-radical, o Sumar.

A diferença entre os dois foi de apenas duas cadeiras, com o Sumar conquistando 31 assentos e 12,3% dos votos. Comparando com o desempenho de seus antecessores, como o Unidas Podemos, o bloco de esquerda também encolheu. Em seguida ficaram os dois partidos separatistas catalães, um de esquerda e outro mais ao centro, ambos com sete cadeiras cada.

Logo após estão os dois partidos bascos, o separatista de esquerda EH Bildu, com seis cadeiras, e o centrista e regionalista EAJ, com cinco. Fecham a casa uma cadeira cada para partidos regionais das Canárias, da Galícia e de Navarra, sendo duas de direita e uma de esquerda. A proposta, vista em alguns meios de comunicação, de separar o parlamento espanhol apenas entre direita e esquerda, entretanto, é complicada.

Cálculos para formar um governo

Por exemplo, o basco EAJ e o catalão Junts não são de esquerda, mas dificilmente teriam diálogo com o Vox, já que o caráter regionalista do primeiro e independentista do segundo são totalmente opostos ao que o Vox propõe. O EAJ, por exemplo, que governa a Comunidade Autônoma Basca quase de forma ininterrupta desde a redemocratização, já apoiou governos tanto do conservador PP quanto do social-democrata PSOE.

Justamente por rejeitar o Vox, o EAJ, liderado por Andoni Ortuzar, afirmou que não cogita apoiar Feijóo no momento. A ideia do líder conservador era criar um bloco de PP, Vox, EAJ e os partidos regionais das Canárias e de Navarra, obtendo a maioria mínima de 176 cadeiras. Esse plano já foi por água abaixo. Sem o Vox, não há coalizão de direita. Com o Vox, os regionalistas não sentam.

Restam três cenários. Primeiro, um frágil governo de minoria do PP, que seria empossado com a abstenção de alguns partidos, mas sem a formação de coalizão. Esse governo provavelmente ruiria na primeira discórdia maior, como uma votação orçamentária. O segundo cenário é o de Pedro Sánchez do PSOE articular uma frente ampla de esquerda com seis partidos, especialmente os catalães independentistas.

Somados, PSOE, Sumar, os dois partidos catalães e os dois partidos bascos possuem 178 cadeiras, pouco acima do mínimo. A conta é simples, difícil é colocar seis partidos espanhóis no mesmo barco. Além disso, Pedro Sánchez teria que fazer ainda mais concessões aos independentistas, especialmente a eventual oferta de anistia aos líderes catalães que enfrentam acusações judiciais desde 2016.

Mesmo que Sánchez argumente que os dois partidos catalães perderam deputados, eles ainda serão a bancada decisiva nessa negociação. Finalmente, existe a terceira opção, que é a Espanha disputar mais uma eleição geral, a décima desde 2000. Com um parlamento fragmentado e travado, espelho do país, esse é quase um caminho habitual para os espanhóis na última década.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Tudo sobre:

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.