Manifestantes participam de protesto “Sextas para o futuro” sobre emergência climática, em 21 de fevereiro, em Hamburgo, Alemanha| Foto: MORRIS MAC MATZEN / AFP
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As mais recentes eleições para o Parlamento europeu consagraram o crescimento dos partidos verdes na composição dos governos do Velho Mundo. Desde então, os verdes conseguiram sucessos repetidos em eleições europeias, tanto nacionais quanto locais. Cada vez mais importantes para os cálculos de formação de coalizões de governo em uma região quase toda parlamentarista, agora chega a hora dos verdes serem testados no centro das atenções, e das cobranças.

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Na eleição europeia de maio de 2019, a coalizão verde saltou de 52 para 74 cadeiras, quase 10% de todo o Europarlamento. O terceiro grupo que mais cresceu teve mais de 25 milhões de votos. Foi o sinal de partida para um sentimento de "onda verde" pela Europa, com diversas análises dos motivos desse crescimento. Como manda a prudência, a espera de mais resultados e eleições mostrou que não se tratava apenas de sentimento momentâneo.

Onda Verde nas urnas

Olhando apenas para o último trimestre de 2019 e o começo de 2020, os partidos de pauta ambientalista cresceram em cinco eleições nacionais. Em Portugal, os Verdes continuaram com dois assentos, mas o Livre estreou no Parlamento e o Pessoas-Animais-Natureza (sim, é o nome do partido) foi de um para quatro; no total, os ambientalistas lusos foram de três para sete no parlamento. Na Polônia, como parte da coalizão da União Cívica, os verdes voltaram ao parlamento depois quatro anos, com três cadeiras.

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Foi em outubro, na Suíça, onde talvez os verdes tenham conseguido seu resultado mais espetacular. Antes com 7% do eleitorado, os verdes quase dobraram o número de votos. O partido tinha 11 cadeiras no Conselho Nacional, a câmara baixa, e uma no Conselho dos Estados, a câmara alta. O resultado das eleições significou 28 cadeiras no primeiro caso, e cinco no segundo, se tornando o maior partido fora do governo. Os verdes liberais, de perfil centrista, também cresceram, de oito para 16 cadeiras, mas fora da câmara alta.

Na Espanha, o impacto dos verdes foi menor, com duas cadeiras para o novo Equo e uma para os verdes catalães, que foi incorporado ao Unidas Podemos. Mesmo reduzido, o Equo possui a característica de ser atualmente parte do governo, como parte da coalizão Más País. Já em 2020, nas recentes eleições irlandesas, que consagraram o crescimento do Sinn Féin, os verdes quase triplicaram seus votos, levando 7% do eleitorado, traduzido em 12 cadeiras no parlamento; antes eram apenas três.

E a Onda Verde não fica restrita aos governos nacionais. No último mês de outubro, Budapeste, capital da Hungria do populista Orbán, foi conquistada pelo prefeito Gergely Karácsony, do partido verde Diálogo. Além disso, o outro partido verde do país faz parte de sua coalizão; um é uma dissidência do outro. Já no estado alemão da Turíngia, que gerou alta dose de controvérsia pela formação de um breve governo com a extrema-direita da AfD, os verdes, embora perdedores de um assento, farão parte do novo governo interino.

Na mais recente eleição de um estado alemão, realizada ontem, em Hamburgo, os verdes foram de longe os maiores vencedores, o que inspirou essa coluna. Foram o segundo partido mais votado, com 24% dos votos e conquistando 31 cadeiras, mais que o dobro das 15 anteriores. O governo será formado entre o Partido Social-Democrata (SPD), o mais votado, e os verdes. Juntos ficarão com 82 cadeiras das 121 totais, uma quantidade que permite coalizão confortável.

Verdes no governo

A Alemanha talvez seja o principal centro dessa Onda Verde. Dos 16 estados alemães, os verdes fazem parte do governo de 12 deles, tanto com coalizões mais à direita, com os conservadores da CDU e os liberais do FDP, quanto em governos mais à esquerda, com o SPD e A Esquerda. Como a câmara alta do Parlamento alemão representa os governos dos estados, isso significa também que os verdes são dos maiores partidos em nível federal, com 16 possíveis votos dos 69 totais do Bundesrat.

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O grande desafio verde em 2020 será mais ao sul, em outra terra germânica. Em 7 de janeiro foi empossado o novo governo austríaco, uma coalizão entre o conservador Partido Popular Austríaco (OVP) e os verdes. Na última eleição, em setembro, após um escândalo envolvendo a direita populista que compunha o governo, o OVP ficou com 71 cadeiras e os verdes com 26. Detalhe importante: saindo do zero, já que, em 2017, os verdes não passaram a cláusula de barreira.

Considerando a necessidade de 92 cadeiras, era a única coalizão viável que não envolvesse a direita populista. Ou então, novas eleições. O sistema parlamentarista, com sua necessidade de cálculos delicados para coalizões, costuma permitir um cenário em que um partido ganha as eleições, mas não leva o prêmio. Para garantir sua vitória, o chanceler Sebastian Kurz teve que negociar com o "descolado" Werner Kogler, líder verde conhecido por rejeitar o uso de gravatas, como o ex-premiê grego Alexis Tsipras.

Kogler será o vice-chanceler e ministro. Outros quatro ministérios serão ocupados por verdes, incluindo o novo Ministério da Ação Climática, Meio Ambiente, Energia, Mobilidade, Inovação e Tecnologia, versão repaginada do Ministério dos Transportes, Inovação e Tecnologia. A mudança de nome deixa clara sua origem e a mudança de foco. O plano dos verdes austríacos é taxar a poluição em um novo sistema em que o dinheiro seja imediatamente direcionado para medidas ambientais, fugindo da burocracia.

Além disso, expandir e melhorar a malha de transporte do país. Baratear o transporte público e priorizar trens e veículos menos poluentes. Segundo Kogler, ao defender o fato de ter aceitado uma coalizão com um partido tão diferente ideologicamente, sua ideia é transformar a Áustria em um "exemplo pioneiro" para a Europa, neutra em emissões de carbono até 2040. Tudo isso convivendo com um plano de governo bastante rígido em temas como imigração e cultura.

Os eleitores verdes

Essa Onda Verde é explicada por alguns fatores. O primeiro é o descontentamento com os partidos mais tradicionais, que se revezaram em governos por décadas. Esse eleitor descontente entretanto, não é seduzido por uma radicalização de pautas, não migra para partidos mais de esquerda ou mais de direita, preferindo uma política mais ao centro. Outro diferencial é que os verdes são, por definição, pró-cooperação internacional. Gases poluentes não respeitam fronteiras.

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Isso colabora para o afastamento desse eleitor em relação aos partidos nacionalistas, mantendo sua opção de centro. Outro fator que explica esse crescimento é demográfico. Em países com voto facultativo, os eleitores jovens se tornam cada vez mais decisivos e com maior participação nas urnas; jovens esses que já nasceram em um mundo que debate questões climáticas e ambientais. Finalmente, a moderação dos próprios verdes, permitindo que eles atinjam mais eleitores.

De partidos radicais e próximos dos partidos socialistas, os verdes hoje estão muito mais próximos da social-democracia, do centro e do liberalismo clássico. Não é possível desvincular o amplo sucesso verde na Alemanha de Winfried Kretschmann, que governa Baden-Württemberg desde 2011. O estado é o terceiro mais populoso do país e seu governo é marcado pela articulação entre a indústria automotiva de Stuttgart com as universidades locais para desenvolvimento de carros mais limpos.

Seu governo também expandiu e fortaleceu o ensino público básico do estado, que já era lar de algumas das mais prestigiadas universidades do mundo, também públicas. Seu governo investe pesadamente em desenvolvimento tecnológico e o estado possui uma taxa de desemprego diminuta. Se a Onda Verde vai durar e se provar quando estiver em posições de governo, ainda não se pode afirmar, mas o cenário desenhado indica que os verdes serão centrais na política europeia ao menos nos próximos anos.