Os conservadores croatas tiveram o seu pior resultado nos últimos dez anos. A eleição, realizada no último dia 17 de abril, potencialmente abre um período de incerteza no país balcânico, já que nenhuma coalizão conseguiu a maioria. Assim como em outros pleitos europeus recentes, vide a Eslováquia, o apoio militar europeu aos ucranianos tornou-se uma pauta importante da eleição. Considerando o domínio conservador no país na última década, podemos ter uma guinada na política externa do país.
Primeiro, como sempre, os resultados. O partido conservador União Democrata Croata, conhecido pela sigla HDZ, continuou em primeiro. Com 34,4% dos votos, entretanto, teve seu pior resultado em dez anos, ficando com 61 dos 151 assentos do parlamento, perdendo seis cadeiras. O partido é liderado por Andrej Plenkovic, o atual primeiro-ministro.
Em segundo lugar ficou a coalizão do Partido Social-Democrata, o SDP, tradicional rival do HDZ nas últimas décadas. A coalizão, batizada de “Rio de justiça”, é formada por outros cinco partidos pequenos e regionais. A aliança teve 25,4% dos votos, conquistando 42 cadeiras, uma a mais do que possuía. O candidato é o presidente Zoran Milanovic, algo que já será abordado.
Em terceiro lugar e com poder de decidir quem formará o governo está o Movimento da Pátria, DP, nacionalista de direita. O foco desse nacionalismo é, especificamente, a existência de minorias étnicas na Croácia, especialmente a minoria sérvia. O DP teve 9,5% dos votos e conquistou catorze cadeiras, perdendo duas.
Todas as opções estão na mesa. A mais provável é um governo conservador liderado pelo HDZ, mas menos europeísta do que os anteriores, com concessões aos aliados.
O maior crescimento da eleição foi do verde Mozemo, que teve 9% dos votos e dez cadeiras, mais do que dobrando sua bancada. Outra coalizão conservadora, a Most, “ponte”, teve 8% dos votos e onze cadeiras. Fecham a casa onze cadeiras divididas entre vários partidos e dois candidatos independentes. Assim como em outros países, as minorias étnicas da Croácia possuem uma cota reservada no parlamento, com três cadeiras para sérvios étnicos e uma cada para húngaros, bosníacos e roma.
A campanha eleitoral foi marcada por dois escândalos, um de cada lado. Os governos do HDZ foram marcados por diversos episódios de corrupção e de tráfico de influência. Desde 2016 foram trinta mudanças ministeriais, um número assombroso considerando o tamanho do país. Muitas dessas mudanças foram por escândalos dos tipos mencionados, com direito até a ministro renunciando por ser detido pela polícia por dirigir alcoolizado.
O que é visto como corrupção generalizada por parte do eleitorado inspirou o nome da coalizão adversária e, principalmente, o segundo maior comparecimento eleitoral nesse século. Dos três milhões e meio de eleitores, cerca de 62% compareceu no pleito, em uma quarta-feira, com muitos motivados pelo desejo de mudança. Esse enorme comparecimento é essencial para a compreensão dos resultados da eleição.
A coalizão social-democrata também não ficou imune. No papel de chefe de Estado, Milanovic seria uma figura suprapartidária e não poderia disputar a eleição. Ele anunciou sua candidatura no dia 15 de março. Três dias depois, a Suprema Corte afirmou que ele deveria renunciar à presidência para poder participar de atividades de campanha. Milanovic, adepto de discurso populista, retrucou que a corte agiu como “gangsteres” à serviço “do sistema” dominado pelos conservadores.
Milanovic recuou ligeiramente e afirmou que renunciará à presidência caso seja empossado premiê. Ambas as coalizões reivindicaram vitória e o DP já anunciou que vai negociar com ambos e que apenas não aceita os verdes e os sérvios no governo. Os verdes também podem ter um papel importante, especialmente para um governo que queira sinalizar uma aproximação com a União Europeia.
Essa seria a intenção inicial de Plenkovic, manter um governo pró-EU e pró-Ucrânia, com uma postura anti-Rússia que contrasta com a Sérvia. Se ele conseguirá, é improvável. Hoje, todos os principais partidos possuem alas críticas ao apoio aos ucranianos. O SDP é abertamente crítico e fez disso parte de sua campanha, afirmando que produtos agrícolas ucranianos estão prejudicando a economia local.
Todas as opções estão na mesa. A mais provável é um governo conservador liderado pelo HDZ, mas menos europeísta do que os anteriores, com concessões aos aliados. Um governo de centro, liderado pelo SDP mas com partidos de direita contrários ao HDZ, ou um governo de esquerda, com SDP, verdes e partidos menores, também são possíveis. Com isso, a Croácia serve de prévia para as várias eleições que nos aguardam em 2024 no leste europeu.
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