Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Filipe Figueiredo

Filipe Figueiredo

Explicações para os principais acontecimentos da política internacional

Eleições parlamentares

Três eleições no norte para ficarmos de olho

Jonas Gahr Store, líder do Partido Trabalhista, a caminho do parlamento após as eleições parlamentares, em Oslo, Noruega, 13 de setembro (Foto: EFE/EPA/Javad Parsa )

Ouça este conteúdo

Os leitores desse espaço de política internacional já devem ter notado o interesse da coluna em eleições pelo mundo. Nos próximos doze dias, seis eleições nacionais serão realizadas pelo mundo. Talvez a mais importante delas seja a alemã, que escolherá a sucessão de Angela Merkel, e já esteve presente por aqui. Outras três são as parlamentares de Noruega, Canadá e Islândia, cada uma com um contexto diferente.

Noruega

Os noruegueses foram às urnas nesse último dia treze de setembro. Ou seja, a coluna comentará o pleito baseada nos números provisórios, com algumas pequenas mudanças ainda possíveis. A Noruega possui uma característica interessante. Ao contrário da maioria dos países parlamentaristas, o parlamento norueguês não pode ser dissolvido fora do prazo eleitoral. Ele é renovado a cada quatro anos e pronto.

Isso faz com que as negociações para a formação de uma coalizão ou de um governo viável precisem ser realizadas obrigatoriamente com aquela configuração da casa, a Storting. Caso um governo perca o apoio de um partido, ou a primeira-ministra deseje expandir sua maioria, não podem simplesmente dissolver o parlamento e convocar novas eleições, um cenário comum na maioria dos países parlamentaristas.

A conservadora Erna Solberg, que governava o país desde 2013, buscava mais um mandato de quatro anos. Seu partido era o segundo maior do parlamento e sua coalizão de governo era de minoria, com apenas 61 dos 169 assentos, bastante longe das 85 cadeiras necessárias para a maioria. Junto dos conservadores, governavam o Partido Liberal e os democratas-cristãos.

O verbo no passado é explicado pelo fato de que Solberg já concedeu a derrota. Com 76% do eleitorado comparecendo nas urnas, os conservadores tiveram um de seus piores resultados da História. Levaram apenas 20% dos votos e perderam nove cadeiras, mantendo a segunda maior bancada, agora com 36 parlamentares. Ainda não se sabe se ela vai deixar a liderança de seu partido.

A maior bancada continuou com os trabalhistas, de centro-esquerda, agora com 48 cadeiras, 26% dos votos. Provavelmente, o primeiro-ministro do país será Jonas Gahr Støre, formando um governo com o Partido do Centro, o maior vencedor das eleições, que cresceu em nove cadeiras, e o Partido da Esquerda Socialista. Os dois partidos possuem, respectivamente, 28 e 13 cadeiras. Na soma, a coalizão teria 89 cadeiras.

No geral, a centro-direita e a direita perderam vinte cadeiras, enquanto a esquerda cresceu, incluindo o Partido Vermelho, sucessor do Partido Comunista local e segundo maior vencedor das eleições, conquistando sete cadeiras. O partido, entretanto, não deve fazer parte da coalizão de governo. Como curiosidade, algo que não ocorria há vinte anos vai se repetir: todos os países escandinavos serão governados por coalizões de esquerda.

A conexão é curiosa já que os países escandinavos são considerados os mais fortes exemplos de Estados de Bem-estar social. Isso foi abordado em coluna recente, quando comentamos sobre a possibilidade da Suécia ter, pela primeira vez em sua História, uma primeira-ministra. Finlândia e Dinamarca também são lideradas por mulheres, mas a Noruega vai destoar nesse aspecto.

Islândia

No dia 25 de setembro, outro país nórdico, mas não escandinavo, também vai eleger seu parlamento, a Althing islandesa. O atual governo da Islândia é fruto de uma aliança curiosa. A primeira-ministra, Katrín Jakobsdóttir, é do “Partido da Esquerda Verde”, em uma tradução livre, que conta com nove cadeiras. Na coalizão estão o partido conservador, o Independência, com dezesseis cadeiras, e o Partido Progressista, com oito.

Esse último é um partido de centro, representativo da comunidade rural islandesa. No contexto eleitoral, especificamente, defensores dos subsídios agrícolas no país. Além de diferenças ideológicas, algo curioso da coalizão é o fato de que a maior bancada, a conservadora, não é a liderança do governo. Isso ocorre pelo fato de que o governo anterior, que ruiu, era do ex-premiê Bjarni Benediktsson, líder do Independência.

O motivo da crise foi um escândalo de possível tráfico de influência. Sendo assim, ele teve sua legitimidade como premiê questionada, motivando a formação do novo arranjo. Segundo as pesquisas, Benediktsson manterá a maior bancada do parlamento e não deve ser descartada uma nova rodada de negociações para formação de um novo governo. Agora contando com o mandato popular, ele deve retornar ao cargo de premiê.

Canadá

Finalmente, no nosso continente americano, os canadenses vão eleger seu parlamento no dia 20 de setembro. O país passou por eleições em 2019 e, teoricamente, só retornaria às urnas em 2023. O primeiro-ministro Justin Trudeau, do partido Liberal, de centro-esquerda, entretanto, pediu a dissolução do parlamento e a convocação de eleições antecipadas. Sua decisão foi uma aposta política bem fundamentada, mas que está dando errado.

Com 338 assentos, a Câmara dos Comuns canadense conta com cinco partidos, mais alguns parlamentares independentes. Os liberais, embora possuam a maior bancada, com 155 parlamentares, governam com minoria. Os conservadores contam com 119 assentos, o francófono Bloc Québécois com 32 e o social-democrata Novo Democrata (NDP, na sigla em inglês) possui 24 cadeiras. “Fecha” a casa o Partido Verde, com apenas duas cadeiras.

É graças ao “silêncio” dos francófonos e dos social-democratas que Trudeau é o primeiro-ministro, governando com minoria. Seus projetos para o pós-pandemia, entretanto, necessitam de maioria parlamentar. Em um português claro, ele deseja emular os pacotes de Joe Biden, nos EUA, com estímulos para a retomada da economia, financiamento em infraestrutura e para a adoção de iniciativas ambientais nesse processo de retomada.

Buscando essa maioria, ele dissolveu o parlamento. Novamente, uma aposta política bem fundamentada. Ainda assim, uma aposta, que não está se pagando. Pelas pesquisas, conservadores e liberais estão numa corrida apertada, e hoje é impossível cravar quem ficará em primeiro no pleito. Algo possível de ser cravado, entretanto, é o fato de que, mesmo que Trudeau continue no cargo, ele perderá poder.

O voto da esquerda se dividiu e se radicalizou, motivado em parte pelo que foi visto como uma traição de Trudeau em pedir o voto antecipado ainda durante a pandemia. Tudo indica que o NDP sairá do pleito como terceira força, e de tamanho respeitável. Trudeau desejava o bolo inteiro para si e pode acabar terminando com a necessidade de formar uma coalizão de governo com os social-democratas. Uma derrota, mesmo que ele vença.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.