Jonas Gahr Store, líder do Partido Trabalhista, a caminho do parlamento após as eleições parlamentares, em Oslo, Noruega, 13 de setembro| Foto: EFE/EPA/Javad Parsa
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Os leitores desse espaço de política internacional já devem ter notado o interesse da coluna em eleições pelo mundo. Nos próximos doze dias, seis eleições nacionais serão realizadas pelo mundo. Talvez a mais importante delas seja a alemã, que escolherá a sucessão de Angela Merkel, e já esteve presente por aqui. Outras três são as parlamentares de Noruega, Canadá e Islândia, cada uma com um contexto diferente.

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Noruega

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Os noruegueses foram às urnas nesse último dia treze de setembro. Ou seja, a coluna comentará o pleito baseada nos números provisórios, com algumas pequenas mudanças ainda possíveis. A Noruega possui uma característica interessante. Ao contrário da maioria dos países parlamentaristas, o parlamento norueguês não pode ser dissolvido fora do prazo eleitoral. Ele é renovado a cada quatro anos e pronto.

Isso faz com que as negociações para a formação de uma coalizão ou de um governo viável precisem ser realizadas obrigatoriamente com aquela configuração da casa, a Storting. Caso um governo perca o apoio de um partido, ou a primeira-ministra deseje expandir sua maioria, não podem simplesmente dissolver o parlamento e convocar novas eleições, um cenário comum na maioria dos países parlamentaristas.

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A conservadora Erna Solberg, que governava o país desde 2013, buscava mais um mandato de quatro anos. Seu partido era o segundo maior do parlamento e sua coalizão de governo era de minoria, com apenas 61 dos 169 assentos, bastante longe das 85 cadeiras necessárias para a maioria. Junto dos conservadores, governavam o Partido Liberal e os democratas-cristãos.

O verbo no passado é explicado pelo fato de que Solberg já concedeu a derrota. Com 76% do eleitorado comparecendo nas urnas, os conservadores tiveram um de seus piores resultados da História. Levaram apenas 20% dos votos e perderam nove cadeiras, mantendo a segunda maior bancada, agora com 36 parlamentares. Ainda não se sabe se ela vai deixar a liderança de seu partido.

A maior bancada continuou com os trabalhistas, de centro-esquerda, agora com 48 cadeiras, 26% dos votos. Provavelmente, o primeiro-ministro do país será Jonas Gahr Støre, formando um governo com o Partido do Centro, o maior vencedor das eleições, que cresceu em nove cadeiras, e o Partido da Esquerda Socialista. Os dois partidos possuem, respectivamente, 28 e 13 cadeiras. Na soma, a coalizão teria 89 cadeiras.

No geral, a centro-direita e a direita perderam vinte cadeiras, enquanto a esquerda cresceu, incluindo o Partido Vermelho, sucessor do Partido Comunista local e segundo maior vencedor das eleições, conquistando sete cadeiras. O partido, entretanto, não deve fazer parte da coalizão de governo. Como curiosidade, algo que não ocorria há vinte anos vai se repetir: todos os países escandinavos serão governados por coalizões de esquerda.

A conexão é curiosa já que os países escandinavos são considerados os mais fortes exemplos de Estados de Bem-estar social. Isso foi abordado em coluna recente, quando comentamos sobre a possibilidade da Suécia ter, pela primeira vez em sua História, uma primeira-ministra. Finlândia e Dinamarca também são lideradas por mulheres, mas a Noruega vai destoar nesse aspecto.

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Islândia

No dia 25 de setembro, outro país nórdico, mas não escandinavo, também vai eleger seu parlamento, a Althing islandesa. O atual governo da Islândia é fruto de uma aliança curiosa. A primeira-ministra, Katrín Jakobsdóttir, é do “Partido da Esquerda Verde”, em uma tradução livre, que conta com nove cadeiras. Na coalizão estão o partido conservador, o Independência, com dezesseis cadeiras, e o Partido Progressista, com oito.

Esse último é um partido de centro, representativo da comunidade rural islandesa. No contexto eleitoral, especificamente, defensores dos subsídios agrícolas no país. Além de diferenças ideológicas, algo curioso da coalizão é o fato de que a maior bancada, a conservadora, não é a liderança do governo. Isso ocorre pelo fato de que o governo anterior, que ruiu, era do ex-premiê Bjarni Benediktsson, líder do Independência.

O motivo da crise foi um escândalo de possível tráfico de influência. Sendo assim, ele teve sua legitimidade como premiê questionada, motivando a formação do novo arranjo. Segundo as pesquisas, Benediktsson manterá a maior bancada do parlamento e não deve ser descartada uma nova rodada de negociações para formação de um novo governo. Agora contando com o mandato popular, ele deve retornar ao cargo de premiê.

Canadá

Finalmente, no nosso continente americano, os canadenses vão eleger seu parlamento no dia 20 de setembro. O país passou por eleições em 2019 e, teoricamente, só retornaria às urnas em 2023. O primeiro-ministro Justin Trudeau, do partido Liberal, de centro-esquerda, entretanto, pediu a dissolução do parlamento e a convocação de eleições antecipadas. Sua decisão foi uma aposta política bem fundamentada, mas que está dando errado.

Com 338 assentos, a Câmara dos Comuns canadense conta com cinco partidos, mais alguns parlamentares independentes. Os liberais, embora possuam a maior bancada, com 155 parlamentares, governam com minoria. Os conservadores contam com 119 assentos, o francófono Bloc Québécois com 32 e o social-democrata Novo Democrata (NDP, na sigla em inglês) possui 24 cadeiras. “Fecha” a casa o Partido Verde, com apenas duas cadeiras.

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É graças ao “silêncio” dos francófonos e dos social-democratas que Trudeau é o primeiro-ministro, governando com minoria. Seus projetos para o pós-pandemia, entretanto, necessitam de maioria parlamentar. Em um português claro, ele deseja emular os pacotes de Joe Biden, nos EUA, com estímulos para a retomada da economia, financiamento em infraestrutura e para a adoção de iniciativas ambientais nesse processo de retomada.

Buscando essa maioria, ele dissolveu o parlamento. Novamente, uma aposta política bem fundamentada. Ainda assim, uma aposta, que não está se pagando. Pelas pesquisas, conservadores e liberais estão numa corrida apertada, e hoje é impossível cravar quem ficará em primeiro no pleito. Algo possível de ser cravado, entretanto, é o fato de que, mesmo que Trudeau continue no cargo, ele perderá poder.

O voto da esquerda se dividiu e se radicalizou, motivado em parte pelo que foi visto como uma traição de Trudeau em pedir o voto antecipado ainda durante a pandemia. Tudo indica que o NDP sairá do pleito como terceira força, e de tamanho respeitável. Trudeau desejava o bolo inteiro para si e pode acabar terminando com a necessidade de formar uma coalizão de governo com os social-democratas. Uma derrota, mesmo que ele vença.