Disseram para ele que as coisas deveriam ser exatamente do jeitinho que são e ponto final. Ele acreditou, não questionou e apenas seguiu a boiada.
Disseram para ele que trabalhar era algo abominável, um mal necessário e um castigo. Disseram que existiriam dias intermináveis, que o tempo pareceria nunca passar — até que enfim terminasse o martírio de mais um expediente de trabalho. Ele acreditou, não questionou e apenas seguiu a boiada.
Disseram para ele que o diploma era algo tão importante que ele deveria, a qualquer custo, ainda que sem projeto, propósito ou vocação, vagar por qualquer faculdade, não importasse em qual curso, para deixar a sua família muito orgulhosa. Além disso, disseram para ele que as festinhas regadas a bastante bebida e a maconha o tornariam parte de uma elite intelectual e descolada de nosso país careta e analfabeto, pois um diploma pendurado na parede seria um grande diferencial, necessário e suficiente para o seu sucesso. Ele acreditou, não questionou e apenas seguiu a boiada.
Disseram para ele que empreender e correr riscos era algo abominável, que um emprego com estabilidade era o bicho. E que todos que acreditassem ser possível construir um projeto grandioso seriam considerados sonhadores alienados, bitolados, pobres coitados, dignos de pena e alvos de muitas gargalhadas em rodas de amigos. Eles garantiram a ele que esses sonhadores desajustados sempre acabariam explorados pelo sistema inescrupuloso e insaciável. Ele acreditou, não questionou e apenas seguiu a boiada.
Eles também disseram para ele que horário de trabalho que se preze é das 9h às 18h, no máximo. Mas que, de preferência, o trabalho seja em meio expediente, de segunda a — porque o domingo era dia de assistir programas de auditório na TV, dia de lavar minuciosamente o carro pago em 60 prestações, com o som tocando bem alto, para depois seguir para a um churrasco na laje e, ao final do dia, começar a se lamentar nas redes sociais porque a segunda-feira já está chegando. Ele acreditou, não questionou e apenas seguiu a boiada.
Disseram para ele que a casa própria, paga em 30 anos, financiada por um banco do governo, era sinal de status e segurança, ainda que no final ele pagasse mais de 3 vezes o valor de uma casa e que isso acabasse lhe prendendo a uma cidade, tirando-lhe a mobilidade de aceitar um desafio profissional ou negócios em outro estado ou país. Ele acreditou, não questionou e apenas seguiu a boiada.
Disseram para ele que quem nasce pobre morre pobre, que existiam cartas marcadas, que somente prospera quem se envolve em algo ilícito, quem se torna jogador de futebol ou quem ganha na Mega Sena. Disseram que quem não tivesse capital morreria com suas ideias debaixo do braço, e que nada poderia ser feito para mudar esta situação. Também disseram para ele que, na dúvida, seria melhor acreditar em tudo que estava sendo dito para ele. Para que, no mínimo, esta prerrogativa pudesse ser usada como um bom consolo para sua frustração no futuro. Disseram também para ele, em todas as rádios e programas de TV, que a melhor filosofia de vida seria a do “Deixa a vida me levar…”
Ele acreditou, não questionou e apenas seguiu a boiada.
Disseram para ele muitas outras coisas, como “mais vale o certo do que o duvidoso”, que rico é tudo safado, que pobreza é uma virtude, que o Brasil é um país que não tem jeito, que o valor do jovem é muito pequeno por não ter experiência. Disseram para ele de forma enfática: as coisas são desse jeitinho há séculos, ponto final e não se discute mais. Infelizmente ele acreditou, não questionou e apenas seguiu a boiada.
Só não disseram para ele que é possível subverter toda essa lógica através do empreendedorismo. Também não disseram para ele que apenas seguindo a boiada (e não questionando) ele vai passar pela vida realizando muito pouco, apenas como um a mais numa imensa multidão. Também esqueceram de dizer para ele que o seu valor era enorme e que, independentemente de sua origem, ele poderia transformar a sua realidade e mudar o mundo e influenciar a todos ao seu redor.
Esconderam dele que, segundo o Banco Central, na última década surgiram milhares de novos empreendedores milionários no Brasil a cada ano e que, apesar de todas as contradições, a economia do país ainda é alvo de bilhões de dólares em investimentos internacionais e que, apesar de todos os problemas sociais e da enorme burocracia estatal e do complexo sistema tributário, pela força de seu mercado interno, o Brasil se tornou a 9.ª maior economia do mundo e um dos principais mercados para se empreender.
Esqueceram de dizer para ele que a maioria dos que ganham na loteria empobrece poucos anos mais tarde, que a média salarial de um jogador de futebol é menor do que a média salarial de um professor (ainda que este precise melhorar muito), que as subcelebridades dos reality shows têm uma efêmera fama, muito diferente de sucesso, e que logo caem no ostracismo. E que devemos escolher melhor os nossos referenciais a serem seguidos.
Que pena que não disseram tudo isso pra ele. Por isso, ele terminou sua vida acreditando nisso tudo, gastando intermináveis horas na frente de uma televisão e, por fim, enterrado num cemitério juntamente com todos os seus projetos, sem ter desfrutado da conquista de todos eles com a sua família e sem ter deixado legado algum para as próximas gerações.
Um grande desperdício…
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