“Estamos na primavera, estação que, para Al Gore, é mais uma prova do aquecimento global” (Bill Clinton fazendo piada no jantar anual do Clube Gridiron, em março de 2010)
Em 17 de janeiro de 1961, naquele que foi o seu último discurso à frente do cargo, o então presidente americano Dwight D. Eisenhower alertava para o surgimento de um perigoso “complexo-militar-industrial” na América, no qual a alocação de subsídios e contratos governamentais para o setor privado arriscava influenciar nocivamente as decisões referentes às políticas de segurança nacional e de desenvolvimento tecnocientífico.
Nos dias de hoje, pode-se dizer que aquela versão anunciada de capitalismo de compadrio (ou “crony capitalism”, como dizem os americanos) transformou-se em, e consolidou-se como, um complexo “climático-industrial” ou “eco-industrial”, no qual uma densa trama de atores – que inclui grandes corporações, entidades (em tese) sem fins lucrativos, executivos, lobistas e agentes governamentais – promove uma agenda energeticamente “sustentável”, estigmatizando a indústria de combustíveis fósseis (carvão e petróleo, sobretudo) como a grande vilã da humanidade. Para os privilegiados integrantes desse novo complexo, o verde é o novo ouro, e a agenda ecofundamentalista, um meio perfeito para criar monopólio e reserva de mercado.
Vimos, no artigo da semana passada, toda a hipocrisia de Al Gore, o grande pop star do ambientalismo globalista, e que pede aos compatriotas a redução de seu consumo doméstico de energia enquanto, na sua própria mansão, a esbanja com impressionante voracidade. Neste artigo, veremos como o sujeito se tornou, na descrição do The New York Times (um jornal insuspeito de ceticismo climático), “o primeiro bilionário do carbono”. E não, isso não aconteceu num ambiente de livre mercado, mas, justo ao contrário, via um hábil manejo da promiscuidade entre governo e iniciativa privada, numa das mais bem-sucedidas operações de capitalismo de compadrio que se tem notícia.
As aparências enganam, porque o mercado de créditos de carbono só existe em função da imposição governamental do teto de emissões
Para solucionar a dita “crise climática” – a maior ficção científica de todos os tempos –, o plano de Al Gore sempre foi o de impor um limite às emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE). Como se sabe, essas emissões consistem basicamente de dióxido de carbono (CO2), um subproduto da queima de combustíveis fósseis tais como petróleo, carvão e gás natural, responsáveis pela grande parte da energia dos países industrializados. A solução de Gore e demais ecofundamentalistas pressupõe a instauração de uma economia centralizada a nível global, em que os governos regulam quais tipos de energia estarão disponíveis ao setor privado, e em que quantidade. A ferramenta reguladora preferida de Al Gore é aquilo que se chama de mercado de créditos de carbono. E não por acaso.
No sistema conhecido como “cap-and-trade”, o governo estabelece limites (impõe um teto, um “cap”) de emissão de GEE às empresas, e emite licenças para poluir. Cada indústria ou conglomerado de indústrias recebe um número fixo de créditos de carbono, que lhes permite emitir quantidades determinadas de GEE. Ocorre que, se uma indústria ultrapassa o seu teto de créditos de carbono, ela pode ir ao mercado comprar créditos extras de outras companhias que tenham emitido abaixo do seu teto, optando por comercializar o excedente.
Aparentemente, tudo aí funciona dentro da lógica de uma economia de livre mercado. Mas as aparências enganam, porque o mercado de créditos de carbono só existe em função da imposição governamental do teto de emissões, que se justifica apelando à falsa ciência ambientalista, e que gera uma escassez artificial no direito de produzir energia. Num sistema de cap-and-trade, os clientes podem adquirir a mercadoria (isto é, as compensações de carbono) seja numa corretora, seja numa plataforma digital. Na Europa, por exemplo, o mercado de créditos de carbono já funciona desde 2005.
Esse mercado permite às empresas acumular créditos de carbono por meio de iniciativas que, em tese, reduzam as emissões de CO2 para além das fronteiras de suas instalações. Um dos exemplos mais conhecidos desse sistema de compensações é aquele em que empresas obtêm créditos de carbono mediante aquisição de sementes de árvores a serem plantadas em países subdesenvolvidos, sob a alegação de que a absorção de CO2 no processo de fotossíntese pode compensar a emissão do CO2 inerente à atividade industrial.
Pois bem. Al Gore é fundador e presidente de uma empresa de gestão de investimentos chamada Generation Investment Management (GIM), com sede em Londres. Seu objetivo declarado é investir em empresas que adotem posturas ecologicamente sustentáveis. A GIM é uma espécie de líder máxima do cartel do carbono, exercendo influência decisiva sobre algumas das principais empresas do ramo, tais como a Chicago Climate Exchange (CCX), nos EUA, e a Carbon Neutral Company (CNC), no Reino Unido.
Curiosamente, um dos integrantes do conselho administrativo da CCX é ninguém menos que Maurice Strong, o primeiro chefe do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, sujeito muito ligado a Al Gore, e sobre quem falamos no artigo da semana passada. Os clientes da CCX são cerca de 80 empresas que admitem ser emissoras de GEE, e que, a princípio, se comprometem voluntariamente (e essa palavra é crucial para entendermos a militância ambientalista de Al Gore, Strong e outros ecofundamentalistas) a reduzir consideravelmente os seus índices de emissão. Esses clientes compram créditos de carbono da CCX, e investem em outras empresas que busquem fontes de energia alternativas, renováveis e “limpas”.
À espreita, a GIM está sempre pronta a lucrar com o comércio de créditos de carbono. Como dissemos, o pertencimento a grupos como a CCX e CNC é mais ou menos voluntário, a depender do país. E é por isso que, por meio de intensa propaganda, e da atuação de instituições filantrópicas e supostamente não-lucrativas tais como a Alliance for Climate Protection (fundada por Gore em 2006), Al Gore e outros lobistas do clima batalham junto às organizações internacionais (e o IPCC da ONU é um dos principais instrumentos de chantagem) por regulações governamentais cada vez mais duras sobre as empresas emissoras de CO2, que, uma vez forçadas a ingressar no sistema de cap-and-trade, ficam na mão do grande monopolista do comércio de “indulgências” ambientais.
Como reconheceu em artigo no The Wall Street Journal o ambientalista dinamarquês Bjorn Lomborg: “Alguns líderes empresariais aconchegaram-se com políticos e cientistas para demandar ações drásticas e céleres contra o aquecimento global. Trata-se de nova modalidade de uma prática bem conhecida: empresas fazendo uso de políticas públicas para rechear os seus próprios bolsos… A parceria entre empresários gananciosos, raposas políticas e militantes alarmistas é, verdadeiramente, uma aliança nada sagrada”.
Inelegibilidade de Caiado embaralha ainda mais a disputa pela presidência em 2026
Oposição e juristas questionam prisão de Braga Netto sem indícios atuais de obstrução
Lula diz que Braga Netto tem direito à presunção de inocência que ele não teve
Revista da “direita woke” publica Karl Marx sem querer em pegadinha de crítico