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No texto A Crise na Educação, a filósofa Hannah Arendt diz que a base do totalitarismo é uma concepção pedagógica da política. Em suas palavras:
“A educação não pode desempenhar nenhum papel na política porque na política se lida sempre com pessoas já educadas. Aqueles que se propõem a educar adultos, o que realmente pretendem é agir como seus guardiões e afastá-los da atividade política. Como não é possível educar adultos, a palavra ‘educação’ tem uma ressonância perversa em política – há uma pretensão de educação quando, afinal, o propósito real é a coerção sem uso da força.”
Se, como diz a filósofa, não é possível educar adultos nesse sentido (o que significa infantilizá-los e tutelá-los), imagine então tentar educar logo um adulto como o psicanalista Jordan Peterson, um dos mais importantes intelectuais públicos da atualidade, cujos livros são best-sellers e cuja audiência nas redes sociais atinge a casa dos milhões de seguidores? Pois é exatamente o que o movimento woke canadense pretende fazer, imitando, no seu estilo cultural passivo-agressivo, os projetos stalinistas e maoístas de reeducação política dos opositores.
O Canadá tornou-se um pesadelo woke, uma espécie de trem fantasma reunindo todas as aberrações político-ideológicas da esquerda mundial contemporânea
Tudo começou em janeiro deste ano, quando, após receber denúncias sobre o mau comportamento de Peterson nas redes sociais – que consistia basicamente em expressar opiniões não alinhadas às do establishment progressista mundial –, o Conselho de Psicólogos da Província de Ontário (CPO) exigiu do profissional que passasse por um programa de reeducação e treinamento de mídia a fim de não perder a sua licença e, consequentemente, a sua prerrogativa de clinicar. O documento do CPO acusava-o de “falta de profissionalismo em manifestações públicas nas redes sociais e durante participação num podcast [de Joe Rogan]”. Em vista disso, Peterson deveria aceitar submeter-se a “trabalhar com profissionais para rever, refletir sobre e corrigir a minha postura professional em manifestações públicas”. E também “completar o Programa de Coaching”, cuja regra era a de que “o coach pode, a seu critério, requisitar do educando a permanência mais ou menos duradoura no programa”, com base na avaliação de seu progresso educacional.
Os parâmetros oficiais também determinavam que Peterson deveria concordar que “se o coach fornecer qualquer informação desfavorável sobre a minha prática”, o comitê de reeducação política poderia abrir novas investigações sobre a sua conduta. O psicanalista deveria subscrever ainda a seguinte declaração: “Entendo que, caso o coach não apresente um relatório final atestando que as preocupações acima descritas foram remediadas a contento em vista do interesse público, não serei reconhecido como tendo completado o programa”. Em outras palavras, Peterson deveria submeter-se a um processo de reeducação – ademais, pago do próprio bolso – cuja duração seria determinada única e exclusivamente pela vontade dos educadores. Além disso, em sua comunicação com o CPO, ele foi orientado a buscar um advogado e concordar com todas as condições estabelecidas, sob pena de perda da licença. Em lugar de garantir a competência técnica do professional, o que estaria em sua alçada, o comitê de psicologia woke buscava forçar a adesão a uma certa ortodoxia política, agindo como polícia do pensamento e fiscal da linguagem.
Em 4 de janeiro de 2023, Peterson publicou a peça totalitária em sua rede social, com o seguinte comentário: “Eis as demandas para a minha reeducação. Já anunciei formalmente a minha recusa em aquiescer”. No mesmo dia, publicou um artigo no jornal canadense National Post, prometendo “arriscar a sua licença para escapar da reeducação na mídia social”.
Mas quais foram os delitos tão gravas cometidos por Peterson, capazes não apenas de ameaçar a reputação da psicologia canadense, como prejudicar os seus clientes e o público geral? Simples. Como ele vem fazendo publicamente desde 2016 – quando despontou para a fama ao se posicionar contra o uso compulsório dos pronomes de gênero –, Peterson havia se posicionado contra a esquerda. Além de retuitar as opiniões do líder conservador Pierre Polievre contra o lockdown, criticara o primeiro-ministro Justin Trudeau e parte de sua equipe, além de se posicionar frequentemente contra a ideologia de gênero e, em especial, à banalização das terapias de “redesignação de gênero” para crianças e adolescentes. Note-se que nada disso tinha a ver com sua atuação clínica, mas com o seu posicionamento político e o seu exercício de cidadania.
Além de se manifestar em jornais, revistas e nas suas redes sociais, Jordan Peterson também entrou com um processo contra o CPO junto ao Tribunal de Divisão de Ontário. A decisão do recurso saiu no último dia 23 de agosto, e, posto que infame, não chega a ser surpreendente. O tribunal decidiu contra Peterson, concluindo que o CPO tem o direito de chantagear o psicanalista antiwoke e corrigir a sua visão de mundo subversiva. “O dr. Peterson não pode ter tudo ao mesmo tempo: não pode falar como membro de uma profissão regulamentada sem assumir a responsabilidade pelo risco de causar dano, algo inerente à sua condição” – decretou o juiz Paul Schabas, falando em nome da corte.
Como dissemos acima: não surpreende. Como bem descreveu o repórter Steven Edginton para o britânico The Telegraph, o Canadá tornou-se um pesadelo woke, uma espécie de trem fantasma reunindo todas as aberrações político-ideológicas da esquerda mundial contemporânea. No fim das contas, é mesmo isso que se espera de um país comandado pelo filho espiritual de Fidel Castro, o qual já admitiu “admirar em alto grau a China, porque a sua ditadura básica tem permitido aos chineses dar uma guinada em sua economia e dizer ‘precisamos ser mais sustentáveis’... ‘precisamos começar a investir em energia solar’”. O Canadá é resultado do vazamento laboratorial do vírus totalitário chinês. E, na condição de um irredutível guerreiro da liberdade, Jordan Peterson decerto não escaparia da mira dos liberticidas.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos