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Imagem ilustrativa.| Foto: Marcio Antonio Campos com Midjourney

Quando a coluna de hoje estiver indo ao ar, é possível que o X já tenha sido banido do país. Diante desse desdobramento iminente, já previsto por quem se manteve atento à evolução da ditadura imposta por Alexandre de Moraes, Lula e seus camaradas no Brasil, resolvi fazer uma retrospectiva da minha luta particular contra a censura, que se confundiu com a de outros tantos brasileiros com princípios e valores inegociáveis. Numa homenagem póstuma à rede social que concentrou todo o debate político e cultural no Brasil ao longo da última década, e que justamente por isso está sendo alvo da covardia dos tiranos, resolvi pinçar alguns dos meus tuítes sobre o assunto, começando no ano de 2018.

Em 17 de maio de 2018, tuitei: “Censura no Facebook: só a esquerda vai determinar o que é fake news”.

Nessa mesma data, também opinei que “o compartilhamento de notícias falsas é um risco inerente à liberdade de expressão. A alternativa é o controle e a censura prévia, onde só notícias ‘verdadeiras’ (ou seja, aprovadas oficialmente pelo comitê de salvação pública) serão permitidas”. Comentário que foi acrescido das hashtags “Internet Livre” e “Censura Nunca Mais”.

Ainda em 17 de maio de 2018, eu retruquei o jornalista Ricardo Setti, que havia se indignado com críticas às autoproclamadas “agências de checagem”. Segundo o jornalista, só mesmo criadores de “fake news” poderiam se opor ao nobre trabalho de “checar fatos” e “expor o banditismo” de disseminadores de fake news. Minha resposta foi a seguinte: “Prezado Ricardo Setti, talvez você ainda não tenha tido tempo de verificar o perfil ideológico e a atuação dessas agências. A iniciativa é perigosa e autoritária, pois desconfia da capacidade do público e, com o pretexto de sanear o debate, o que faz na prática é censura prévia”.

Em meados de 2018, havia estourado o escândalo conhecido como “Mensalinho do Twitter”, sobre o qual dediquei um artigo aqui nesta Gazeta. Pouco tempo antes, o MBL havia sido censurado pelo Facebook, acusado de manipular o debate público e disseminar “fake news”. Na época, o jornalista de esquerda (já falecido) Gilberto Dimenstein comemorou a censura com um tuíte. O tuíte pró-censura foi compartilhado alegremente por um procurador da República, ex-assessor de Rodrigo Janot, que qualificou a atitude do Facebook de “ação exemplar”. O mais preocupante, todavia, foi o fato de o seu comentário ter sido curtido pelo perfil oficial do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em tuíte de 27 de agosto de 2018, eu então denunciei o apoio do tribunal eleitoral à censura: “No aguardo do posicionamento do TSE sobre o Mensalinho do Twitter, lembrando que o tribunal celebrou no Twitter a censura ao MBL”.

“Sob o pretexto do combate às ‘fake news’, a grande imprensa preparou o terreno para a censura que agora a ameaça. Queria a censura só para os outros, mas a censura é um bicho de apetite voraz, que não hesita em devorar os próprios donos assim que a ração acaba.”

Tuíte de 17 de abril de 2019

Ainda em 2018, tuitei no dia 17 de outubro: “Abaixo a censura! Viva a internet livre!”.

Em 17 de abril de 2019, escrevi: “Sob o pretexto do combate às ‘fake news’, a grande imprensa preparou o terreno para a censura que agora a ameaça. Queria a censura só para os outros, mas a censura é um bicho de apetite voraz, que não hesita em devorar os próprios donos assim que a ração acaba”.

Este foi o tuíte de 15 de outubro de 2019: “Nós estamos entrando numa era de censura escancarada, inclusive às redes sociais, e o processo está sendo subscrito por gente que, inclusive, já foi vítima disso, até mesmo alguns outrora (pretensos) defensores de uma ‘internet livre’. É tudo muito lamentável”. O contexto era um tuíte de J. R. Guzzo, no qual o grande jornalista e defensor da liberdade comunicava ter sido censurado pela revista Veja por causa de um artigo com críticas ao STF.

No mesmo dia, reforcei o meu alerta: “O combate às assim chamadas ‘fake news’ nunca passou de um pretexto para a censura. Essa verdade não mudou. O que parece ter mudado é o fato de alguns novos atores terem decidido adotar a estratégia”.

Em 19 de outubro de 2019, tuitei: “Já está na hora de uma CPI da Censura às redes sociais e ao WhatsApp. Os autoproclamados ‘checadores’ de ‘fake news’ precisam ser conhecidos do público. Eles precisam se explicar. Chega de obscuridade e sombras. O Brasil não admite censura!” O contexto era um comentário do jurista Ailton Benedito sobre censura ao senador Flávio Bolsonaro.

Em 1.º de novembro de 2019: “Disse desde o começo e repito: toda a conversa sobre fake news não passa de um pretexto para a censura e a perseguição política contra vozes divergentes”.

23 de março de 2020: “Censura naturalizada, consagrada e celebrada. Mas um dia chega a sua vez, e aí?” O contexto era uma matéria da Folha reportando com toda a naturalidade a censura praticada pelo YouTube (talvez já cumprindo ordens ilegais de nossos militantes de toga) contra Olavo de Carvalho. Parece que a minha previsão se cumpriu, e chegou a vez da Folha, não é mesmo?

Em 5 de abril de 2020, no contexto da pandemia e da histeria dos covidocratas, tuitei acerca de uma tentativa de censura ao então deputado federal Osmar Terra, que havia criticado a política de quarentena: “Não aceitem censura. Não se intimidem com histeria e pose de escândalo moral. Concordem, discordem ou duvidem de Osmar Terra, mas agora mesmo é que a sua opinião deve ser ouvida e divulgada. Ela tem direito à existência. Não deixe que o pânico os leve a naturalizar o totalitarismo”.

Em 6 de maio de 2020: “Que nome pomposo para CENSURA”. Referia-me a uma proposta da Câmara dos Deputados de criar a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência Digital.

“Não é o Alexandre de Moraes. Não é o Toffoli. O STF inteiro está comprometido com a censura.”

Tuíte de 27 de maio de 2020

20 de maio de 2020: “Articulações para censura”. O contexto era um bate-papo organizado pela agência de censura Agência Lupa, integrante da The International Fact-Checking Network (ver, a respeito, esta minha coluna de 2018), para discutir como combater “fake news” em tempos de coronavírus.

Em 21 de maio de 2020, eu comentava um artigo publicado na Folha de S.Paulo por Pablo Ortellado, personagem importante na indústria de censura (eufemisticamente chamada de “monitoramento”) às redes: “Eis os novos camaradas dos ex- (ou pseudo-) conservadores que agora passaram a defender a censura sob pretexto de ‘combate às fake news’. Em vez de seguir na luta por uma internet livre, os covardes preferiram se juntar aos censores, por calcularem que estes sairão vitoriosos”.

Em 27 de maio de 2020: “Não é o Alexandre de Moraes. Não é o Toffoli. O STF inteiro está comprometido com a censura. A pandemia abriu caminho para que trilhemos o caminho da China. O pânico fez o seu papel e desarmou os espíritos. E os carrascos da liberdade completam o serviço. O contexto era o anúncio de uma sessão plenária do STF para conceber ações de censura.

27 de maio de 2020: “O esquema de censura e perseguição política sendo eviscerado”. O contexto era uma matéria de Robson Bonin, da Veja, dando conta de que os depoimentos de Alexandre Frota e Joice Hasselmann haviam sido cruciais para a investigação que resultou na operação de busca e apreensão ordenada pelo STF contra 29 “bolsonaristas” acusados de integrar o tal “gabinete do ódio”.

Também em 27 de maio de 2020: “Os atores do esquema mafioso de censura na internet estão todos mostrando a cara. A pandemia deu-lhes a oportunidade que faltava. Agora está oficializado o crime de opinião: ser de direita, defender a volta do comércio e ser contra o isolamento virou crime. A ‘ciência’ afirma”. O contexto era uma postagem da Agência Pública (também agente da Internacional da Censura no Brasil) contra o jornalista exilado Allan dos Santos, que havia criticado as políticas de lockdown e o fechamento do comércio (opiniões, aliás, que se revelaram corretas).

Em 29 de maio de 2020, eu comentava sobre uma opinião expressa pelo general Augusto Heleno, então chefe do GSI, segundo quem a esquerda radical teria dificuldade em voltar ao poder no Brasil. Tuitei: “Com todo o respeito que tenho pelo general Heleno, lamento dizer: a esquerda não saiu do poder. O STF governando o país de forma tirânica e absolutista é a prova disso. A iminente censura total aos conservadores na internet é outra. Enxergar a realidade com precisão é urgente”. Infelizmente, enxergar a realidade foi tudo o que parte da direita brasileira, sobretudo o bolsonarismo no poder, não fez. Pelo menos, não a tempo de reagir de maneira eficaz.

Em 5 de junho de 2020, eu respondia a um tuíte de Deltan Dallagnol, que àquela altura ainda não havia compreendido plenamente a gravidade da situação, limitando-se a apontar “equívocos” na atuação da CPMI das Fake News. Hoje, felizmente, Dallagnol não só entendeu, como tem sido um bom combatente contra a ditadura em curso. Respondi-lhe na ocasião: “A CPMI como um todo é o equívoco, rapaz. Aliás, equívoco nada. Ela foi criada com esse intuito: censura”.

A censura não foi um raio em céu azul, mas um processo gradualmente construído, de avanço e avanço sobre espaços não adequadamente defendidos pelos adeptos da liberdade

Em 24 de julho de 2020, eu repudiava a censura às redes sociais de Bernardo Küster: “Bernardo foi totalmente censurado nas redes sociais. Eis a ditadura abjeta em que estamos metidos. E os cínicos continuam por aí, calados sobre a censura e a ditadura reais, e fingindo combater heroicamente a ditadura fictícia do governo Bolsonaro”.

Em 14 de outubro de 2022: “Se o sujeito viola o sistema acusatório e nada é feito. Censura a imprensa e nada é feito. Ordena prisões políticas e nada é feito. Faz o MP e a PF de gato e sapato e nada é feito. Por que ele não pensaria que pode também decidir quem será o presidente do país?”

Eu poderia citar muitos outros tuítes sobre o assunto dos anos de 2023 e 2024, mas penso que os exemplos elencados já mostram o caminho que nos levou até aqui, e como a censura não foi um raio em céu azul, mas um processo gradualmente construído, de avanço e avanço sobre espaços não adequadamente defendidos pelos adeptos da liberdade. Neste momento em que o X nos será arrancado à força por um ditador alérgico à liberdade de expressão, que insiste em revelar ao público os seus procedimentos aviltantes ao Estado de Direito (como se expressou recentemente o Estadão em editorial), deixo apenas um dos meus últimos tuítes, redigido no dia de hoje, o dia da morte definitiva da liberdade de expressão no Brasil. Referindo-me ao indecente, vil e nauseante apoio das Organizações Globo ao fechamento do X – provavelmente por ver na aliança com o ditador a possibilidade de recuperar o monopólio sobre o mercado de informação e opinião – fiz questão de registrar para a posteridade: “A cadela da censura está no cio”.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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