“Vendo Simão que o Espírito era dado com a imposição das mãos dos apóstolos, ofereceu-lhes dinheiro e disse: ‘Deem-me também este poder, para que a pessoa sobre quem eu puser as mãos receba o Espírito Santo’. Pedro respondeu: ‘Pereça com você o seu dinheiro! Você pensa que pode comprar o dom de Deus com dinheiro?’’ (Atos 8: 18-20)
“Esse é um dos truques mais antigos, mas sempre funciona. Eu adoro pregar peças nos Quem! Eles não gostam de mim, e eu não gosto deles! Vou fazer deste Natal o pior Natal da história de Quemlândia. Sim, me sinto mal. Mas ninguém me telefona. Ninguém me visita. Tudo bem. Eu não preciso de ninguém para conversar! Preciso?” – diz o Grinch em Como o Grinch Roubou o Natal, o clássico de Theodor Seuss Geisel, conhecido como Dr. Seuss.
Como se sabe, o Grinch é uma figura ranzinza, amargurada e ressentida que vive no alto de uma montanha vizinha à cidade dos Quem, um povo amistoso, feliz e apaixonado pelo Natal. A devoção natalina dos Quem exaspera Grinch, que então elabora um plano para arruinar a celebração: descer a Quemlândia na véspera de Natal para saquear todos os presentes e decorações natalinas, acabando assim com a alegria da cidade, especialmente a das crianças.
Crianças como Cindy Lou, a encantadora habitante de Quemlândia. Na véspera de Natal, ela acorda no meio da noite, no exato instante em que Grinch saqueia a sua casa. Pensando tratar-se do Papai Noel, Cindy Lou pergunta o que ele estava fazendo. Insensível diante da inocência infantil, Grinch a engana, pretextando estar levando a árvore de Natal para o conserto e prometendo trazê-la de volta no dia seguinte.
“Eu me diverti. Peguei todos os presentes debaixo das árvores de Natal. Levei a árvore de Natal também. Roubei até os presentes dos sonhos das crianças Quem. Tirei a comida de suas geladeiras” – considerou, satisfeito, o Grinch, contemplando de sua casa na montanha o resultado de suas maldades anti-natalinas.
Neste Natal de 2024, o espírito do Grinch baixou no coração dos homens ocos que conduzem o regime de exceção ora em vigência no Brasil. Sem ter o que dar de positivo ao povo – exceto o presente de grego de uma economia em colapso, que empobrece o cidadão e retira-lhe a comida da mesa –, o mandatário brasileiro, seus ministros e aliados de toga mais uma vez concentraram todos os esforços no cardápio único até aqui oferecido: o ódio e a vingança contra a oposição, notadamente o assim chamado “bolsonarismo”.
Alexandre de Moraes, por exemplo, resolveu substituir o espírito de harmonia e perdão característico da época pela vingança sádica contra Daniel Silveira, solto dias antes apenas para poder ser preso na véspera de Natal.
Cada vez mais confortável na posição de vilão histórico, e ciente do desprezo de que goza junto à sociedade para além dos limites dos estúdios da Globo News, o anti-juiz resolveu exibir Silveira como um troféu de caça, e um recado ambulante a todos os congressistas, reduzidos a meros figurantes nessa democracia modelo norte-coreano, que revogou a imunidade parlamentar e a representatividade.
Moraes, o espírito orgulhoso encarnado, não suportou a ideia de que Silveira tivesse uma noite feliz de Natal
Tal como o Grinch, obcecou-lhe a ideia de arruinar o Natal dessa família. E de outras tantas. Eis o sentimento de poder que lhe preenche a alma obscura, de todo esvaziada de justiça.
A isso se reduz o lulopetismo em todas as suas frentes: um bando de funcionários públicos destituídos de virtudes intelectuais e morais trabalhando incansavelmente para estragar o Natal e o ethos cristão ainda predominante na população brasileira.
É esse o sentido do meme que circulou amplamente entre os partidários do regime, e que trazia o mandatário em trajes de Papai Noel oferecendo ao país a única coisa que pode oferecer: um cartaz escrito “Sem anistia!”. Com efeito, aos presos políticos do 8 de janeiro, um Grinch ébrio de vingança negou o indulto natalino, de modo a arruinar o Natal de muitas famílias e, com isso, o próprio espírito de Natal no coração do brasileiro.
Na história original do Dr. Seuss, o ogro acreditou poder destruir o Natal roubando os presentes, os enfeites e a comida, mas ele havia compreendido mal a natureza da celebração.
O Grinch ficou espantado ao notar que, em Quemlândia, o roubo dos presentes e adereços não bastara para arruinar o Natal, e esse espanto começou a transformar-lhe o espírito: “Veja, Max [o cachorro do Grinch]! Os Quem estão se beijando. O que está acontecendo em Quemlândia? Eu roubei todos os presentes... todas as árvores de Natal... toda a comida. Eles não podem ter o Natal. Eu o roubei, não foi? Mas talvez o Natal não tenha a ver com essas coisas. Talvez tenha a ver com... um sentimento”.
Cindy-Lou notou-o desde o começo, e não desistiu do Grinch. Ao contrário, para ela, o Grinch a havia salvado de um Natal reduzido à superficial troca de dons materiais. Diz o pai da menina: “Cindy-Lou está certa. Estou feliz que o Grinch tenha roubado os nossos presentes. O Natal não tem a ver com isso, com presentes, enfeites e luzes fantásticas. O Natal tem a ver com estarmos reunidos em família”. A menina riu e desejou Feliz Natal ao pai. “Eu não preciso de presentes” – disse alegremente.
Em seguida, a menina sobe a montanha para visitar o Grinch, cujo coração de pedra já começara a amolecer. “Eu vi vê-lo. Ninguém deveria passar o Natal sozinho” – diz Cindy-Lou. E o sorriso da menina fortalece o Grinch. Com ela, o monstro sobe no trenó carregado com os presentes roubados e desce rumo à cidade, onde devolve todos os presentes e arruma tudo o que antes desarrumara.
Como o Grinch Roubou o Natal rescende aos Evangelhos. É uma história de redenção e de conversão. Uma história sobre a transformação do ódio em amor, do pecado em graça. O Grinch original é um pecador que, mediante insight sobre a grandiosidade daquilo que em vão tentara destruir, se arrepende e muda de vida. Infelizmente, é difícil esperar o mesmo dos Grinches tupiniquins, cuja escolha por afastarem-se de Deus foi deliberada e, ao que parece, irreversível.