Mikhaïl Gorbatchev agiu incansavelmente para maquiar o comunismo.| Foto: UN Photo/Jean-Marc FERRE/ Fotos Públicas
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“O objetivo do socialismo não é apenas acabar com a divisão da humanidade em pequenos Estados e com o isolamento das nações sob todas as formas, não é apenas unir as nações, mas integrá-las (V. I. Lenin, A Revolução Socialista e o Direito das Nações à Autodeterminação, 1914)

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“O objetivo da estratégia comunista é estabelecer a Nova Ordem Social Mundial” (William Z. Foster, Por Uma América Soviética, 1932)

“A transição para a Nova Ordem Social Mundial requer a integração das novas nações cativas em governos regionais” (F. Petrenko e V. Popov, Política Externa Soviética: Objetivos e Princípios, 1985)

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“A Comunidade Europeia deve se transformar numa nova superpotência, e deve trabalhar num novo programa político e institucional visando a uma estrutura que abarque 24 ou 30 países” (Jacques Delors, ex-presidente da Comissão Europeia, 1991)

“Anseio pelo dia em que a Rússia se torne membro pleno da Comunidade Europeia” (John Major, ex-Primeiro-Ministro britânico, 1992)

“Se, por natureza, somos tão primitivos a ponto de não conseguir superar os nossos instintos agressivos e a nossa ganância egoísta, não deveríamos ser forçados por alguma autoridade supranacional a nos submeter a uma Nova Ordem Mundial que garanta a sobrevivência?” (Max Jakobson, ex-embaixador da Finlândia na ONU, As Nações Unidas nos anos 1990: uma segunda chance?, 1993)

“Devo falar hoje sobre um mundo novo, que se encontra num arriscado, mas promissor, estágio em sua longa marcha histórica rumo à unidade” (Michel Camdessus, ex-diretor do FMI, em discurso no encontro anual do Banco Mundial/FMI, 1995)

Na condição de grande teórico da perestroika, o ex-ministro soviético de relações exteriores Eduard Shevardnadze dedicou boa parte do seu livro L’Avenir s’Écrit Liberté (1991) à tarefa de expor a nova visão comunista sobre os assim chamados “problemas globais” – que, como vimos no artigo anterior, foi o grande pulo de gato na mudança de estratégia revolucionária adotada pelos comunistas desde o final dos anos 1950.

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Naquele tom pretensamente supraideológico tão comum à retórica globalista contemporânea, Shevardnadze levanta a questão: “Como, num clima de divisão do mundo em sistemas e blocos sociopolíticos, admitir a formação de um mundo interdependente e coerente, no qual a necessidade urgente de sobrevivência da humanidade derrube os muros da confrontação ideológica?” (grifos meus).

Dirigindo-se aos camaradas mais dogmáticos, e dessa vez empregando um estilo que rescende ao centralismo democrático leninista, Shevardnadze explica por que a retórica da luta de classes deveria ser substituída: “No 28º congresso do PCUS, respondi a um delegado que me perguntava quais as diferenças fundamentais que eu via entre os interesses da classe trabalhadora e os interesses universais que aquela me parecia uma maneira equivocada de colocar a questão. Jamais opus os interesses de classe aos interesses universais; trato unicamente da relação entre ambos. A primazia dos interesses universais subentende que todas as pessoas normais, quaisquer que sejam suas diferenças, estão interessadas em mesma medida na paz, na prosperidade e no progresso, na saúde da sociedade e do homem, na defesa da civilização em face das ameaças nucleares e ecológicas, na solução dos problemas de desenvolvimento… Renunciar ao princípio de primazia dos valores universais e retornar ao princípio de classe absoluto seria reavivar a imagem do inimigo” (grifos meus).

Fica claro que, em lugar de representar um autêntico recuo ideológico do comunismo, o abandono doutrinal da “luta de classes” em favor dos “interesses universais” manifestava uma adaptação tática visando ao avanço da revolução mundial, agora em nova etapa. Como explica Anatoliy Golitsyn em The Perestroika Deception (1995), a incapacidade demonstrada por tantos “sovietólogos” ocidentais em compreender o fenômeno reside no fato de haverem negligenciado a estratégia de longo prazo adotada pelos comunistas na virada dos anos 1950 para os anos 1960, que consistiu basicamente na transição da “ditadura do proletariado” ao “estado de todo o povo”.

Nas palavras do ex-oficial da KGB: “As reformas políticas e econômicas, bem como a ‘democratização’ na Rússia, podem ser vistas como o resultado planejado de vinte e cinco anos de preparação e ensaio na URSS e na Europa Oriental. As ‘reformas’ dos ‘ex’-comunistas e sua ‘democracia’ são bem peculiares. O ‘Estado de todo o povo’ é na verdade a adoção da ideia de Lenin da retirada do Estado (que se coloca na perspectiva do futuro governo mundial comunista) e de sua substituição pelas organizações sociais de massa”.

Shevardnadze, é claro, tenta nos convencer de que essa reconfiguração tática foi, na verdade, uma mudança global de paradigma, tendo como resultado a emergência de um novo modo de pensamento político. No livro já citado, o ideólogo soviético argumenta: “A nova mentalidade – uma revolução global nos espíritos – deve esperar sua hora, quando a tomada de consciência quanto à iminência do perigo e do caráter incontornável da evolução histórica obrigará os homens políticos a pensar de forma diferente” (grifos meus).

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A linguagem aí utilizada já não tem qualquer pessoalidade ou estilo próprio, degenerando-se naquela língua de pau, pseudouniversalista e pacifista, comum aos tantos agentes do sistema-ONU. Começa a aparecer também o idioma ecologista (uma vez que as crises ambientais surgiam como candidatas perfeitas a ocupar o posto de “problemas globais” por excelência), bem como uma arenga pretensamente ecumênica em prol de uma nova “espiritualidade” global.

“A política só será coerente se a ideologia tiver como princípios fundamentais a bondade, a justiça, o humanismo, a espiritualidade” – continua Shevardnadze. “Enquanto existirem armas nucleares, a segurança nacional continuará sendo uma ficção, qualquer que seja o nível de armamento. Enquanto não se organizar, em escala mundial, uma cooperação ecológica eficaz, cada Estado estará sob ameaça de uma degradação das condições físicas de sua existência. Enquanto as nações não adotarem valores humanitários comuns e uma norma única de respeito dos direitos da pessoa, nenhum dos problemas que se lhes impõem, e à comunidade internacional como um todo, poderá ser resolvido, o que significa que a segurança geral não poderá ser garantida”.

Como mostra Pascal Bernardin em O Império Ecológico (1998), no livro Perestroika (1987) Mikhail Gorbachev dá ainda mais ênfase à tal “nova mentalidade” que ele e seus camaradas pretendem difundir no âmbito das relações internacionais. A questão dos “problemas globais” é recorrente na obra, bem como a insistência na “interdependência” entre as nações do mundo e na necessidade de uma “consciência ecológica”. Reforça-se também a proposta de uma espiritualidade universal, pretensamente ecumênica, e de sabor panteísta. Seguindo a linha gramsciana, a ideia geral era que o futuro governo mundial fosse antecedido e preparado, consensualmente, por aquilo que Shevardnadze chamou de uma revolução global nos espíritos.

“Vivemos num mundo de mudanças sociais fundamentais, um mundo de revoluções científicas e técnicas generalizadas, um mundo em que pioram os problemas globais referentes à ecologia, às matérias primas etc.” – começa Gorbachev, à guisa de aquecimento. “Um novo modo de pensamento político é necessário, proveniente do reconhecimento da interdependência geral e do postulado que a civilização deve sobreviver. Se conseguirmos chegar a um acordo fundado sobre os critérios de tal pensamento novo, chegaremos a decisões eficazes quanto aos problemas globais… Paralelamente à ameaça nuclear, o novo modo de pensamento político considera a solução dos outros problemas globais, aí inclusos o desenvolvimento econômico e a ecologia, como condição indispensável para assegurar uma paz justa e durável” (grifos meus).

Gorbachev lembra também que o tal “novo modo de pensamento político” derivava de resoluções internas do Politburo. Em particular, conceitos operacionais tais como o de interdependência, interesses comuns a toda a humanidade e ecologia haviam sido decididos pela linha partidária em reuniões no Comitê Central do PCUS no 27º Congresso do partido, ocorrido em 1985: “Tendo adotado, quando do 27º Congresso do PCUS, o conceito de um mundo contraditório, mas interconectado, interdependente e essencialmente integrado, começamos a edificar, sobre tais bases, nossa ética quanto aos assuntos externos... Tratava-se, mais precisamente, de uma mudança rumo a um novo modo de pensamento político, rumo a novas ideias, com respeito à correlação entre os princípios de classe e os princípios comuns à humanidade no mundo moderno”.

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Rendendo homenagens ao camarada Ulianov – em quem, como já vimos, sempre buscou inspiração –, Gorbachev prossegue: “Tiramos nossa inspiração de Lenin… Sendo ele chefe do partido proletário, e justificando em nível teórico e político as pautas revolucionárias deste último, Lenin podia ver mais longe, transcender os limites de classe do partido. Mais de uma vez, ele falou da prioridade dos interesses comuns a toda humanidade, para além dos interesses de classe. Somente hoje é que conseguimos alcançar toda a profundidade, toda a significação dessas ideias… A espinha dorsal do novo modo de pensamento é o reconhecimento da prioridade que se deve dar aos valores humanos, ou, para ser mais preciso, aos valores da sobrevivência humana” (grifos meus).

Embora, nesse novo modo de pensamento político (ou, deveríamos dizer, nessa nova etapa revolucionária), a sobrevivência humana viesse a substituir os interesses da classe proletária, nem por isso Gorbachev deixa de sinalizar a sua continuidade com a cultura política comunista tradicional. Faz isso, por exemplo, ao afirmar a sua convicção quanto à interdependência entre as nações e os povos: “A raça humana alcançou um estado em que somos todos dependentes uns dos outros. Nenhum país, nenhuma nação deveria ser considerada de forma isolada das outras, muito menos oposta às outras. É o que nosso vocabulário comunista chama de internacionalismo, o que significa nosso anseio de promover os valores humanos universais” (grifos meus).

Em Perestroika (1987), reafirma-se a todo instante o projeto, de inspiração gramsciana, de consolidação de um novo senso comum universal, que deverá ser construído gradualmente por meio da influência exercida pelos comunistas sobre os assim chamados “aparelhos privados de hegemonia”: igrejas, escolas, universidades, organizações sociais, associações, sindicatos, órgãos de imprensa, indústria cultural, redes sociais etc. Em particular, o papel preponderante da religião na consolidação do senso comum foi sempre enfatizado por Gramsci, cuja estratégia revolucionária repousava sobre “a necessidade de novas crenças populares, isto é, de um novo senso comum e, portanto, de uma nova cultura e de uma nova filosofia, que se enraízem na consciência popular com a mesma solidez e imperatividade das crenças tradicionais”.

Como começamos a ver no artigo anterior, Gorbachev e camaradas universalizaram aquele projeto de reforma e homogeneização das consciências. Com a perestroika, os comunistas pretendiam conduzir uma ampla revolução psicológica e moral, realizada mediante a construção de uma religiosidade global, pretensamente livre dos vícios arcaicos das religiões tradicionais – um projeto, aliás, acalentado também por organizações internacionais globalistas. Em vista desse objetivo, escreve o último líder soviético: “A necessidade de uma mudança se faz sentir não só no campo material da vida, mas também naquele da consciência pública… Estamos preparando as massas para mudanças radicais. Isso implica fornecer condições econômicas e psicológicas indispensáveis”.

Gorbachev dedica grande dose de energia à formulação desse programa estratégico, que, tendo iniciado dentro dos limites do PCUS, ele pretende exportar para o mundo: “A economia era e continua sendo, entenda-se bem, nossa principal preocupação. Mas nós decidimos empreender, ao mesmo tempo, uma transformação psicológica e moral de nossa sociedade. Desde os anos setenta, muitos são aqueles que tomaram consciência de que não poderíamos mudar nada sem uma transformação radical do pensamento e da psicologia, da organização, do estilo e dos métodos de trabalho em todos os níveis – dentro do Partido, nas engrenagens do Estado assim como nos escalões superiores”.

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A linguagem torna-se mais e mais espiritualizada e etérea. Paradoxalmente (em se tratando de um teórico marxista), mais e mais ideal e distante da realidade histórica material. Referindo-se, por exemplo, à Declaração de Délhi (1986) – que redigiu junto com Rajiv Gandhi, primeiro-ministro da Índia, e que propunha a destruição completa dos arsenais nucleares antes do fim do século –, Gorbachev comenta: “O interesse planetário desse documento é óbvio. A Declaração de Délhi é algo sem precedentes. Ela revela uma maneira filosófico-religiosa de abordar as relações interestado que é inteiramente nova… Pela primeira vez na história, fundar a política internacional sob as normas morais e éticas comuns à humanidade inteira, assim como humanizar as relações interestados, tornou-se uma exigência vital” (grifos meus).

A essência panteísta e anticristã da religiosidade biônica universal pretendida pelos camaradas fica patente em outro livro de Gorbachev, intitulado Em Busca de um Novo Começo (1995), e cujo subtítulo, por si só, escancara o alcance das ambições comunistas/globalistas: Desenvolvendo uma nova civilização. Essa “civilização” artificial – imposta de cima para baixo por uma elite globalista secular e culturalmente desenraizada – deveria vir a substituir a civilização judaico-cristã, responsável, segundo essa cosmovisão, por uma filosofia antropocêntrica e essencialmente antiecológica, que, primeiro, teria apartado os homens da natureza e, depois, uns dos outros.

O enfrentamento da crise ecológica global que ameaça a humanidade – sugere, pois, o fiel discípulo de Lenin e Gramsci – requer uma conscientização sobre a unidade da humanidade, bem como de sua comunhão com a natureza. “Precisamos de um novo paradigma, que nos conduzirá à realidade, então reconheceremos que a humanidade é apenas um elemento da natureza… A humanidade é uma parte da biosfera, ela e a biosfera formam uma unidade”.

Para Gorbachev, espécime prototípico daquele gênero antropológico que, em A Teoria dos Sentimentos Morais (1759), Adam Smith batizou de homem de sistema – o sujeito que “parece imaginar poder dispor dos diferentes membros de uma grande sociedade com a mesma facilidade com que dispõe as diferentes peças sobre um tabuleiro de xadrez” –, a política mundial deveria ser “ecologizada”, visando à construção dos tais “valores comuns a toda a humanidade”. A ideia, essencialmente totalitária, segundo a qual a política deve ter uma função pedagógica e moralizante, aparece de maneira explícita: “A ‘ecologização’ da política é a afirmação da prioridade dos valores comuns à humanidade, enriquecendo, desde a infância, a educação e a formação com um conteúdo ecológico, e desenvolvendo uma atitude nova e moderna com relação à natureza. Ao mesmo tempo, a ‘ecologização’ da política é o retorno da humanidade à consciência de seu pertencimento à natureza. O aperfeiçoamento moral da sociedade e o amadurecimento da civilização são impossíveis sem tal”.

Sim, o último líder nominal do regime político mais corrupto, imoral e genocida da história não demonstrava qualquer pudor em assumir para si o papel de agente moralizador da humanidade inteira, contando para isso, é claro, com a cumplicidade de seus companheiros de viagem: a elite globalista ocidental. Dessa húbris revolucionária, nem os Dez Mandamentos escaparam: “A meu ver, a atitude individual com relação à natureza deve tornar-se um dos principais critérios que assegurem a moralidade. Nos dias de hoje, não basta mais dizer ‘Não matarás’. A educação ecológica implica, sobretudo, respeito e amor por todos os seres vivos. É aqui que a cultura ecológica e a religião se encontram”.

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Gorbachev recruta os intelectuais orgânicos do globalismo, a nova casta supranacional de brâmanes responsável pela moralização universal (leia-se, uniformização forçada) dos indivíduos, povos e culturas: “Os papéis da cultura, religião, ciência e educação devem ser consideravelmente aumentados. A responsabilidade dos centros intelectuais, científicos e religiosos é imensa, e deve tornar-se premente… As interações entre os homens de Estado em exercício ou reformados, líderes espirituais, altos executivos, cientistas, artistas, jovens e intelectuais devem crescer, tanto em nível nacional quanto em nível internacional”.

E abusa do hocus pocus pacifista, universalista e supra-ideológico, com o evidente objetivo de apagar os rastros da orientação comunista do projeto. Em suma, dezinformatsiya da mais pura safra: “Devemos encontrar um paradigma que integre todas as realizações do espírito e das ações humanas, sem nos ater à ideologia ou ao movimento político no qual se originam. Esse paradigma só pode se apoiar em valores comuns, que a humanidade desenvolveu ao longo dos séculos. A busca por um novo paradigma deveria ser a busca por uma síntese daquilo que é comum e une os povos, os países e as nações, e não daquilo que os divide” (grifos meus).

Dotado daquele pensamento estratégico de longo prazo tão típico da formação comunista, o obstinado Gorbachev jamais desistiu do projeto. Hoje, a pandemia do coronavírus serve-lhe de pretexto para reforçar a necessidade de supressão das soberanias nacionais e da imposição de uma consciência universal homogênea, ditada por um pequeno círculo de iluminados, formado por ele próprio, alguns de seus velhos camaradas, e seus novos camaradas da elite globalista ocidental.

No artigo recente que escreveu para a revista Time, por exemplo, a velha raposa soviética repisa os temas de sempre, e volta a falar da necessidade do desarmamento das nações – condição essencial, por óbvio, do enfraquecimento das soberanias nacionais – para a construção de “uma nova consciência” e “uma nova civilização”.

Ao fim da vida, “o camarada ordinário de Stavropol” (como o chamava Anatoly Chernyaev, seu assessor de política externa) parece mais perto de realizar o seu sonho – aliás o mesmo, conquanto repaginado, do camarada Ulianov, e de companheiros de viagem como Rockefeller, Soros e que tais. Com a pandemia de totalitarismo a que estamos assistindo em todo o mundo, a “nova civilização” acalentada pelos globalistas inicia a sua ascensão histórica.

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O recrudescimento do ataque às soberanias nacionais (representado, por exemplo, pela campanha internacional orquestrada contra líderes políticos soberanistas tais como Trump e Bolsonaro), o desprezo “iluminista” por valores culturais tradicionais tidos por “obscurantistas”, a coletivização de cada aspecto da existência humana, a supressão das liberdades individuais, a obliteração dos fundamentos judaico-cristãos de nossa civilização, o desenvolvimento, via terrorismo psicológico em ampla escala, de uma mentalidade global uniforme (o “consenso”, a “ciência”, o “bem comum”) e as reiteradas propostas de redação de uma Constituição Mundial, tudo isso, enfim, aponta para um mundo pós-pandemia bem parecido com aquilo que os soviéticos projetaram ainda em fins dos anos 1950.

Portanto, não é difícil imaginar a possibilidade de que, nas próximas décadas, a humanidade venha a sofrer com novas cepas desse oportuno “problema global”, para o qual, utilizando as organizações internacionais como plataforma, e os monopolistas do Ocidente como aliados, os camaradas contemporâneos pretendem vender a solução. E, para quem ainda se deixe iludir pelo açucarado vocabulário kantiano da “paz perpétua” aí adotado, convém jamais esquecer a substância essencial das personalidades políticas com as quais estamos lidando.

“É somente unindo os esforços de todos os Estados que poderemos estabelecer a Nova Ordem Mundial” – escreve Shevardnadze na obra já citada. “Talvez seja uma idéia audaciosa demais, mas eu a formularei assim mesmo: virá talvez um momento – quem sabe? – em que a ONU aplicará sanções contra os governos que se recusem a dialogar, a entrar em negociação com os outros participantes nos conflitos. O diálogo seria, assim, reconhecido como o princípio universal e obrigatório para a resolução de problemas litigiosos. Já colocamos em operação as ‘inspeções sem direito a recusa’. Talvez seja preciso adotar também o princípio de ‘negociações sem direito a recusa”.

Eis aí o lobo soviético falando por sob a pele do cordeiro globalista. Não importa quão bem-sucedidas tenham sido as suas campanhas de desinformação, e quão reformulada tenha sido a nova imagem do inimigo (do tipo “Lulinha paz e amor”) projetada para o mundo. Para um comunista, o conceito de “diálogo” significa sempre, e em toda parte, substancialmente o mesmo: um cano de pistola na nuca do interlocutor desarmado. Ao fim e ao cabo, esse continua sendo o fundamento da “nova consciência” e da “nova civilização” prometida pelos camaradas do presente.

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