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Donald Trump deve combater o Deep State no segundo mandato.
O presidente eleito Donald Trump conversa com deputados republicanos durante encontro em Washington.| Foto: Allison Robbert/Pool/EFE/EPA

“Nossa batalha contra o Deep State não é apenas outro palco na luta entre democratas e republicanos. Na essência, isso não é partidário. É sobre a natureza do nosso governo. O Deep State é uma cabala de tiranos não eleitos que acham que devem determinar quem o povo americano pode ou não eleger como presidente, que acham que podem decidir o que o presidente pode ou não fazer, e que acreditam ter o direito de escolher o que o povo americano pode ou não saber.” (Kash Patel, Government Gangsters: The Deep State, the Truth, and the Battle for Our Democracy).

Em seu mandato anterior, Donald Trump cometeu o mesmo erro de Bolsonaro: tentou primeiro governar bem para, só então, num segundo momento, adquirir musculatura para enfrentar o sistema político que sempre o tratou como um corpo estranho a ser expelido. O resultado foi que o Deep State – aquele governo paralelo formado por burocratas não eleitos a serviço de uma agenda própria e alheia à soberania popular – o boicotou de todas as formas e, por muito pouco, não aniquilou a sua carreira política e a sua própria vida.

Trump parece ter aprendido com o erro e, tendo sobrevivido aos ataques dos inimigos e renascido triunfalmente para o poder, demonstra estar disposto a inverter a ordem dos fatores – o que, em política, altera, sim, inteiramente o produto. Com efeito, todas as suas declarações iniciais, bem como os nomes aventados ou já indicados para compor a sua equipe no novo governo, sugerem que o enfrentamento e a punição aos “gângsters” infiltrados no Estado americano terão prioridade máxima, consagrando a percepção atualizada de que, para governar bem e executar a agenda eleitoralmente vitoriosa, será preciso antes de tudo, e agora para valer, drenar o pântano.

“O pântano” americano – em especial a sua corrompida comunidade de inteligência – foi o grande sustentáculo e promotor da seção brasileira do Complexo Industrial da Censura

Durante esse processo, que já está sendo chamado de “a vingança de Trump contra o Deep State, o Brasil bem pode colher algumas consequências políticas interessantes, beneficiando-se indiretamente da drenagem. Afinal, hoje sabemos que “o pântano” americano – em especial a sua corrompida comunidade de inteligência, instrumentalizada pelos democratas para a espionagem interna, a censura e a perseguição política contra adversários – foi o grande sustentáculo e promotor da seção brasileira do Complexo Industrial da Censura. Sim, ao longo de todo o governo de Joe Biden (que, aliás, interferiu diretamente no processo eleitoral de 2022), os nossos censores tiveram as costas quentes...

Isso ficou muito claro com um relatório recém-publicado pela Civilization Works, entidade fundada pelo jornalista Michael Shellemberger, pioneiro na revelação dos Twitter Files e do Complexo Industrial da Censura. Intitulado “O papel do governo dos Estados Unidos no Complexo Industrial da Censura no Brasil”, e coautorado pelos jornalistas brasileiros Eli Vieira e David Ágape, o documento mostra, com farta documentação, a que ponto os principais agentes da censura no Brasil foram auxiliados, subsidiados e financiados por organizações não governamentais e governamentais estrangeiras, sobretudo americanas, para impor na marra a hegemonia de uma agenda político-ideológica de esquerda.

Como se sabe, posto que impedidos por lei, os nossos militantes de toga não se vexam em exercer atividade político-partidária e alardear a sua missão de “combater a extrema direita populista” ou “derrotar o bolsonarismo”. E o relatório da Civilization Works destrincha todas as ações que, ao menos desde 2019, têm acompanhado essas declarações de intenção. “Embora pareçam operar de forma independente, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) têm sido fortemente influenciados por organizações não governamentais (ONGs) financiadas pelo governo dos EUA”, diz o documento em seu sumário executivo. “Além disso, diversas agências e autoridades dos EUA desempenharam um papel no incentivo e na facilitação da censura no Brasil. O Complexo Industrial da Censura do Brasil – uma grande rede de ONGs, verificadores de fatos e agentes estatais – com frequência parece acolher sugestões, treinamento e apoio financeiro do seu homólogo norte-americano”.

Entre as organizações americanas direta ou indiretamente envolvidas no Complexo Industrial de Censura do Brasil são mencionadas o Atlantic Council, o Congresso americano, o Federal Bureau of Investigations (FBI), o National Endowment for Democracy (NED), a National Science Foundation (NSF), o Departamento de Estado, a Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), a Casa Branca e outros. “Tomadas em conjunto, as atividades das agências e grupos financiados pelo governo dos EUA apresentam uma campanha clara para interferir no processo democrático do Brasil”, lê-se no relatório.

Só para citar um exemplo dessa interferência, destaco a atuação do Laboratório de Pesquisa Forense Digital do Atlantic Council (DFRLab), financiado pelo Fundo Nacional para a Democracia (NED), pelo Departamento de Estado e pela Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (Usaid). Em vários eventos realizados pelo DFRLab, palestrantes pressionaram pela censura generalizada no Brasil. Em um painel de 2019, por exemplo, estudiosos da desinformação afirmaram que mensagens privadas criptografadas eram uma ameaça à democracia no Brasil. Nesse contexto, o DFRLab foi citado no plano estratégico do TSE para as eleições de 2022, marcadas por uma avassaladora censura contra adversários do lulopetismo, que o tribunal eleitoral desejava fosse vitorioso. Naquele ano, algumas das consequências práticas da parceria entre TSE e o DFRLab foram o banimento do Telegram e a operação policial contra os empresários “bolsonaristas”, acusados do “crime” de manifestar privadamente opiniões políticas – ou simplesmente postar stickers – num grupo de WhatsApp.

Esse é apenas um exemplo, protagonizado apenas por uma organização. O relatório cita dezenas, e indica um sem-número de documentos pertinentes para quem queira se aprofundar na participação estrangeira na destruição da democracia representativa e da liberdade de expressão no Brasil. Pode-se imaginar que, agora que as forças políticas na América mudaram tão radicalmente, e sobretudo com a nomeação do anticomunista Marco Rubio para o cargo de secretário de Estado, teremos ainda mais conhecimento dessa engrenagem nefasta. A vingança de Trump está apenas começando, e os censores tupiniquins, desnudados, já não contam com a cobertura estrangeira de que vinham gozando para perseguir a direita no Brasil.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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