Glória Perez (em foto de 2008) defendeu a anistia aos presos do 8 de janeiro.| Foto: Silvio Tanaka/Wikimedia Commons/Creative Commons Attribution 2.0 Generic license
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“No Brasil, quanto mais violentos são os crimes, mais benevolentes são as leis.” (Glória Perez)

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No último dia 16, Glória Perez, a consagrada autora de novelas da Globo, manifestou-se favoravelmente aos atos em prol da anistia política aos presos do 8 de janeiro. Como não poderia deixar de ser, sua opinião não foi bem aceita dentro da emissora em que trabalha, dominada majoritariamente por uma mentalidade de extrema esquerda simpática ao regime de exceção comandado pelo consórcio entre STF e PT sob o pretexto de “defender a democracia” contra os “golpistas”.

Ao longo de 2022, Glória Perez já havia manifestado uma inclinação à direita, ao apoiar o candidato Jair Bolsonaro contra o lulopetismo. No caso dela, não poderia ser diferente. Qualquer pessoa cujo parente tenha sido vítima de um crime brutal, como notoriamente ocorreu com a autora, não há de apoiar politicamente a esquerda, que tem na bandidolatria e no laxismo penal itens fundamentais de sua agenda. Ao rejeitar a esquerda, e apoiar a anistia aos assim chamados “bolsonaristas”, Glória Perez está sendo coerente, transformando a dor em decisão política. Afinal, se há alguém que sabe o que é um criminoso de verdade, esse alguém é ela. E exatamente por isso também sabe que a grande maioria dos presos do 8 de janeiro não é de criminosos, mas de perseguidos políticos de um regime que, em compensação, tudo faz para proteger criminosos reais, sejam eles corruptos ou traficantes.

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Os fatos estão ao lado de Glória Perez. Recorde-se, por exemplo, de um gráfico que circulou amplamente na internet há alguns anos. Extraído do Atlas da Violência, do Ipea, o gráfico mostra como os homicídios no Brasil foram escalando desde que o lulopetismo subiu ao poder. Quando o descondenado assumiu a Presidência pela primeira vez, em 2003, o número de homicídios no Brasil não parou de crescer, até explodir nas 62.517 mortes do último ano de governo de Dilma Rousseff. A partir do impeachment, já no governo Temer, os índices começaram a despencar significativamente. E no governo Bolsonaro, com uma abordagem mais dura contra o crime, eles desabaram de vez.

Em qualquer lugar onde socialistas assumam o poder, a criminalidade violenta tenda a aumentar. Para a mentalidade revolucionária, o crime não é um problema a ser resolvido, mas um meio de desestabilizar a ordem vigente

Dentre as diversas explicações possíveis para o fenômeno, eu costumo atribui-lo ao que venho chamando de “banditismo estrutural”, termo cunhado para descrever a conexão entre a ascensão da esquerda revolucionária ao poder e o aumento da criminalidade violenta. Essa conexão – cujo marco simbólico, no Brasil, foi o pacto selado nos anos 1970 entre criminosos comuns e guerrilheiros comunistas no presídio da Ilha Grande – assenta-se sobre fundamentos doutrinários e históricos.

No livro Combate nas Trevas: A esquerda brasileira: das ilusões perdidas à luta armada (1987), por exemplo, o historiador Jacob Gorender descreve como, entre 1964 e 1968, a esquerda brasileira revisou profundamente o cânone marxista-leninista quanto à classe que deveria liderar a revolução. Inspirados por movimentos como a Revolução Cubana, a Guerra do Vietnã e a Revolução Cultural Chinesa, os nossos esquerdistas passaram a buscar alternativas ao proletariado urbano no protagonismo revolucionário. Daí que, ao lado do campesinato, um outro grupo social tenha surgido como opção, aquele composto por marginais, delinquentes e criminosos, conhecidos no jargão marxista como lumpemproletariado. Embora Marx duvidasse da capacidade revolucionária do lumpen, composto por indivíduos degradados pelo vício e pelo crime, Gorender observa que, para a esquerda do Terceiro Mundo, “o marginal, seja cafetão ou prostituta”, poderia ser “arrancado da colaboração com a polícia e convertido em revolucionário”.

Em 2018, o blogueiro petista Eduardo Guimarães manifestou abertamente essa concepção, ao dizer quea revolução está chegando, mas não será daquele tipo em que o povo se arma e marcha tal qual exército para cima dos opressores. A revolução se dará através da explosão da criminalidade. Será uma revolução de guerrilha. A justiça será feita nos semáforos, em cada esquina”.

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Considerando essa mentalidade – que, mesmo quando não declarada assim tão abertamente, está na base da cultura política da esquerda revolucionária, e se traduz no laxismo penal do Judiciário ativista –, não surpreende que a criminalidade aumente sempre que agentes da extrema-esquerda conquistam poder e influência. O fenômeno pode ser observado em diversos países da América Latina governados por integrantes do Foro de São Paulo, organização fundada em 1990 por Lula e Fidel Castro para difundir o socialismo na região.

O caso venezuelano é um exemplo claro. Durante o chavismo – que conduziu uma intensa campanha de desqualificação das forças policiais tradicionais do país –, os homicídios dispararam. Em 1998, ano da eleição de Chávez, a Venezuela registrava 4.550 homicídios. Seis anos depois, esse número quase triplicara, chegando a 13.288. A taxa de homicídios por 100 mil habitantes saltou de 19,5 em 1998 para 51 em 2003, atingindo, já sob Nicolás Maduro, a impressionante marca de 92 assassinatos por 100 mil habitantes.

A Venezuela exemplifica bem os efeitos dessa cultura política, que enxerga o crime como ferramenta revolucionária. E é por isso que, em qualquer lugar onde socialistas e revolucionários assumam o poder, a criminalidade violenta tenda a aumentar. Pois, para a mentalidade revolucionária, o crime não é um problema a ser resolvido, mas um meio de desestabilizar a ordem vigente. Longe de ser uma mera consequência indesejada, a “explosão da criminalidade” – para usar as palavras do blogueiro petista – é um instrumento útil na luta contra a ordem estabelecida, pavimentando o caminho para a nova ordem socialista. E é isso, ao fim e ao cabo, o que Glória Perez parece ter intuído.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]