Mark Zuckerberg anunciou que vai desmontar a máquina de censura estruturada nos últimos anos em suas redes sociais.| Foto: Tasos Katopodis/EFE/EPA
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“A recente eleição [de Donald Trump] também parece marcar um ponto de inflexão cultural na direção, mais uma vez, da valorização da liberdade de expressão.” (Mark Zuckerberg, 7 de janeiro de 2025)

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Antes de 2016, as redes sociais, e especialmente o Facebook, eram muito estimadas pela esquerda mundial, por ela consideradas plataformas livres, abertas e acessíveis a grupos sociais e políticos sub-representados. A campanha de Barack Obama em 2012, por exemplo, foi amplamente elogiada pelo uso criativo do Facebook. E o mesmo era dito dos agentes da assim chamada “Primavera Árabe”. Essa avaliação mudou radicalmente em 2016, quando eventos como o Brexit e a primeira eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA fizeram a esquerda começar a temer o poder subversivo e contra-hegemônico das redes.

Em 17 de novembro daquele ano fatídico, uma semana após a eleição de Trump, duas dezenas de agências de “checagem de fatos” enviaram uma carta aberta a Mark Zuckerberg propondo uma parceria para “encontrar e desmontar informações falsas” na internet e promover um “debate público sadio”. Entre as agências signatárias, constavam as brasileiras Lupa, Aos Fatos e Agência Pública-Truco. Formadas invariável e exclusivamente por militantes políticos de extrema esquerda, as agências manifestavam um diagnóstico consensual a que haviam chegado as elites globalistas do Ocidente: a internet livre era uma ameaça à sua hegemonia.

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Todas as agências de checagem signatárias da carta a Zuckerberg integravam um troço chamado Rede Internacional de Fact-Checking (The International Fact-Checking Network), sediada num tal de Poynter Institute, organização sem fins lucrativos cujo objetivo declarado era incrementar a prática jornalística ao redor do mundo. O instituto também começava a formar candidatos a uma novíssima (ou nem tanto) profissão: a de “especialista em desinformação”. Dentre os primeiros financiadores do Poynter Institute, destacam-se Pierre Omidyar (idealizador do eBay) e George Soros, dois inimigos declarados de Donald Trump e grandes doadores do Partido Democrata. Em junho de 2017, por exemplo, as fundações de Omidyar e Soros doaram um total de US$ 1,3 milhão Poynter, com a finalidade específica de fortalecer as ações da Rede Internacional de Fact-Checking.

Essas agências de checagem faziam parte de uma grande engrenagem hoje conhecida como Complexo Industrial da Censura, mas que eu gosto de chamar de A Internacional da Censura. Essa nova Internacional (de muitos modos herdeira da velha Internacional Comunista) envolve entidades governamentais e privadas numa grande rede operando para restringir a liberdade de expressão de certos atores nas redes sociais, de modo a influenciar e manipular processos político-eleitorais nos mais variados países. Os estrategistas e ideólogos dessa sofisticada máfia haviam chegado à conclusão de que, para retomar o controle político perdido com a vitória do Brexit e a eleição de Trump, resultados políticos diretamente tributários do fenômeno da internet livre, seria preciso deslegitimar a representatividade popular desses resultados, atribuindo-os a alguma patologia do mercado da opinião pública.

Foi então criada a narrativa sobre a terrível ameaça das “fake news” e do “discurso de ódio” nas redes, fruto da liberdade excessiva concedida pelas plataformas, que estaria gerando todo tipo de crime, tanto no mundo virtual quanto no mundo real. Dali em diante, qualquer coisa passou a ser desculpa para propostas de “regulação das redes”, um mal disfarçado eufemismo para censura. Toda opinião desagradável à Weltanschauung particular das elites globalistas passou a ser descrita como um “ataque” a bens humanos universais tais como a democracia, a paz, o amor, a civilidade, o meio ambiente, a saúde, a vida etc. Em 2020, com a pandemia de coronavírus, os liberticidas da internet encontraram o pretexto ideal para impor e justificar a sua política totalitária: as “fake news” estavam causando milhões de mortes em todo o mundo. Portanto, a censura estava justificada.

Criou-se uma vasta orquestração política de esquerda – envolvendo agentes públicos e privados, políticos, intelectuais e cientistas da informação, instituições acadêmicas e agências governamentais –, imbuída da missão de enfrentar a materialização político-partidária das “fake news” e do “discurso de ódio”: o assim chamado “nacional-populismo”, também conhecido como “extrema direita”. Estava aí, segundo a tese dos internacional-elitistas criadores do Complexo Industrial da Censura, a origem, a encarnação, o rosto visível daqueles terríveis crimes virtuais. Estavam aí, em figuras como Trump, Javier Milei, Viktor Orbán, Giorgia Meloni e Jair Bolsonaro, juntamente com seus eleitores e simpatizantes, o alvo a ser abatido.

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Em 2016, Zuckerberg aceitou a parceria com as agências de checagem. A partir de então, suas redes sociais foram as mais ativas na censura a opiniões e informações oriundas do espectro político de direita. A partir da controversa vitória de Joe Biden em 2020, o Partido Democrata e o deep State por ele controlado passaram a ser protagonistas no Complexo Industrial da Censura, pressionando e intimidando as redes sociais para censurar postagens e perfis inteiros de cidadãos comuns, jornalistas e políticos de direita, incluindo Donald Trump, banido do Facebook e do Instagram no dia 7 de janeiro de 2021.

No Brasil, a colaboração do grupo Meta com o aparato local de censura à direita chegou a ser elogiada pelo líder dos censores, Alexandre de Moraes, que, em abril de 2024, a chamou de “uma das maiores colaboradoras da Justiça Eleitoral aqui no Brasil”. Eu, na condição de censurado pelo Facebook, mas também na de duplamente vitorioso contra a rede social na Justiça, posso atestar esse colaboracionismo – o qual, hoje, depois dos “Twitter Files Brazil” e da “Vaza Toga”, sabemos que foi em parte por ideologia, mas também por pressão e ameaças clandestinas provenientes do Judiciário brasileiro.

Ocorre que, com a segunda eleição de Donald Trump, o jogo mudou. Foi também num dia 7 de janeiro – ou seja, exatos cinco anos após a Meta ter censurado Trump – que Mark Zuckerberg anunciou a sua virada de 180 graus no relacionamento com o usuário e, sobretudo, com o novo presidente americano. E, tal como 2016 havia marcado a transição da liberdade para a censura, 2025 pode vir a ser o marco de uma transição no sentido contrário. Seguindo a linha de Elon Musk – cuja compra do Twitter deu início a essa radical mudança na tecnopolítica mundial –, Zuckerberg não apenas prometeu encerrar a censura a manifestações políticas em suas redes sociais e a parceria com as agências de checagem, como também, mais importante, disse querer colaborar com Trump no enfrentamento global ao Complexo Industrial da Censura. Mencionando governos mundo afora que pressionam as redes sociais a censurar os seus opositores e críticos, o dono da Meta falou em “tribunais secretos na América Latina”, uma carapuça que os representantes da filial brasileira da Internacional da Censura se apressaram a vestir.

As mudanças de rumo anunciadas por Zuckerberg, bem como a aproximação do dia da posse de Trump, deixam os censores brasileiros em situação cada vez mais periclitante

Como não poderia deixar de ser, os censores e liberticidas tupiniquins, que integram ou circundam como moscas o regime PT-STF-Globo, entraram em parafuso com a mudança de postura de Mark Zuckerberg. No UOL, o blogueiro ultraesquerdista Rodrigo Ratier exasperou-se porque o dono da Meta teria escolhido “o lado da barbárie”, e o petista Leonardo Sakamoto afirmou que Zuckerberg “se ajoelha a Trump” e “dá recado ao STF”. Em editorial, o jornal O Globo disse que “a declaração de Zuckerberg merece repúdio”. No X, a comunista Manuela D’Ávila comparou o anúncio de Zuckerberg a “uma declaração de guerra ao mundo”, e cobrou “uma resposta institucional organizada” (leia-se, mais censura). Segundo o também comunista Orlando Silva, “Zuckerberg se alia a Trump, reforça a extrema direita e declara guerra à democracia!”. Já para João Brant, secretário de Políticas Digitais da Secom lulopetista, “o anúncio feito hoje por Mark Zuckerberg antecipa o início do governo Trump e explicita aliança da Meta com o governo dos EUA para enfrentar União Europeia, Brasil e outros países que buscam proteger direitos no ambiente on-line. É uma declaração fortíssima, que se refere ao STF como ‘corte secreta’ [e] ataca os checadores de fatos (dizendo que eles ‘mais destruíram do que construíram confiança’)”.

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Em resumo: os comunistas brasileiros e seus companheiros de viagem acusaram o golpe. No dia seguinte, o seu desespero só aumentou, com o fiasco do evento oficial organizado pelo lulopetismo para celebrar o aniversário de dois anos do 8 de janeiro. O enredo deveria consagrar a vitória triunfal da “democracia” contra o “golpismo” da “extrema direita”. A “democracia” seria coletivamente abraçada por seus heroicos salvadores. Mas, como se diz no jargão das redes sociais, a pantomima flopou. No lugar do abraço, o que tivemos foi um mata-leão, que sufocou de morte a homenageada, deixando-a roxinha, em sua rigidez cadavérica, tombada no chão. E ao deprimente velório da democracia ninguém compareceu, com exceção dos seus próprios assassinos e meia dúzia de asseclas.

Resta claro que, na ausência de apoio popular e de uma agenda positiva para apresentar ao país, o regime lulopetista conta apenas com o suporte da juristocracia suprema e do jornalismo sabujo da Globo para se manter no poder, explorando até o fundo do tacho a narrativa mistificadora de “defesa da democracia”. Ocorre que as mudanças de rumo anunciadas por Mark Zuckerberg, bem como a aproximação do dia da posse de Trump, deixam os censores brasileiros em situação cada vez mais periclitante, o que talvez os obrigue a fechar ainda mais o regime, isolar-se do mundo livre e ingressar definitivamente na companhia das ditaduras-párias da Venezuela, da Nicarágua, do Irã, da Coreia do Norte, da China e da Rússia. Aguardemos, pois, as cenas dos próximos capítulos...

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]