Flávio Dino tem repetidamente associado a morte de crianças em creche de Blumenau a uma suposta “cultura de ódio” promovida pela direita, e chegou a ligar o ataque à creche ao 8 de janeiro.| Foto: Isaac Fontana/EFE
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Nos últimos dias, uma nova epidemia parece ter acometido o país, no momento em que ainda mal nos recuperamos da outra: os ataques terroristas em creches e escolas. Desde o terrível ocorrido em Blumenau na semana passada, quando quatro crianças acabaram assassinadas por um maníaco desencarcerado (pois, apesar de várias passagens pela polícia, continuava solto, como quer a esquerda brasileira), já ocorreram vários outros casos, felizmente sem fatalidades.

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Junto com as notícias dos atentados efetivamente ocorridos, pululam muitas notícias sobre ameaças frustradas (só em São Paulo a polícia registrou mais de 200 ameaças e conseguiu impedir dezenas de ataques planejados), bem como boatos espalhados de má-fé. Tudo isso, é claro, faz crescer entre familiares de crianças em ambiente escolar um clima de medo e apreensão. No âmbito da sociedade civil, pais, profissionais de educação e donos de estabelecimentos de ensino se organizam espontaneamente para discutir medidas eficientes para minimizar os riscos. E, por óbvio, esperam do poder público alguma resposta às suas inquietações.

Mas, enquanto os cidadãos lidam com um problema concreto e temem uma ameaça real à vida de seus filhos, amplos setores do poder público, sobretudo no governo federal, estão preocupados com outras coisas. É o caso, por exemplo, do ministro da Justiça e Segurança Pública, uma espécie de Lavrenti Beria tupiniquim, por ter como missão principal à frente do cargo a perseguição aos opositores do regime. Explorando politicamente a comoção gerada pelos atentados, o comunista Flávio Dino não perde uma oportunidade de lançar a culpa sobre entidades abstratas tais como “a cultura do ódio” ou a “desinformação”, de modo a associá-las de algum modo ao bolsonarismo e à direita brasileira como um todo.

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Flávio Dino não perde uma oportunidade de lançar a culpa de massacres como o de Blumenau sobre entidades abstratas tais como “a cultura do ódio” ou a “desinformação”, de modo a associá-las de algum modo ao bolsonarismo e à direita

A fim de avançar o programa totalitário do governo que integra, e cujos modelos mais próximos são as ditaduras comunistas de Cuba, Venezuela e Nicarágua, Dino tratou de apontar como causa a “proliferação de ódio na sociedade”, possibilitada, segundo ele, por “uma internet desregulada”. É claro que, quando lidamos com comunistas, precisamos proceder sempre a uma tradução de sua novilíngua para o português. Assim, por “proliferação de ódio na sociedade”, o sujeito quer dizer aumento da presença de informações e opiniões anticomunistas no debate público.

Como a rede de poder da qual faz parte já conduz a maioria da mídia convencional pelo cabresto (quer por motivos de afinidade ideológica, quer por razões pecuniárias), a solução para coibir esse “ódio” é, naturalmente, a “regulação” – ou, traduzindo para o português, censura – da internet. Essa bandeira, várias vezes empunhada pelo atual presidente da República, ultrapassa em muito o escopo do governo propriamente dito. Daí eu ter utilizado a expressão “rede de poder” para qualificar uma estrutura que, ademais de membros formais da coligação governista, comporta também uma multidão de outros atores, incluindo integrantes de tribunais superiores ideologicamente alinhados ao regime, para os quais a “regulação” (leia-se censura à direita) é uma agenda “inevitável”.

Depois de lançar a culpa pelos ataques na “proliferação do ódio” (lembrando que o descondenado-em-chefe dissera que o psicopata de Blumenau viera do “planeta do ódio”) e na internet “desregulada” (ou seja, não controlada pelos comunistas), Flávio Dino resolveu ser mais direto e responsabilizar os participantes dos eventos de 8 de janeiro. Mas o comunista não se contentou em culpar aqueles que, na referida data, efetivamente cometeram crimes de invasão e depredação contra prédios públicos na Praça dos Três Poderes. Ele incluiu entre os culpados também os presos políticos, que, sem que suas condutas fossem individualizadas pela Justiça, nem sequer estiveram presentes no local, tendo permanecido em frente aos quartéis para manifestar seu descontentamento com a condução do processo eleitoral. De acordo com o Beria tupiniquim, todos esses – dentre os quais se incluem idosos e crianças – partilham da mesma “matriz de pensamento” dos psicopatas assassinos de crianças.

Mas o dado mais preocupante é que Flávio Dino não tirou da cachola essa associação entre direita e ataques a escolas. Por esses dias, circulou na internet um relatório sobre educação enviado em dezembro de 2022 ao governo de transição. Intitulado “O extremismo de direita entre adolescentes e jovens no Brasil: ataques às escolas e alternativas para a ação governamental”, o documento é coautorado por notórios militantes radicais de esquerda, a exemplo da ultrafeminista Lola Aronovich e do psolista Daniel Cara. Como colaboradora de destaque, aparece o nome da socióloga Miriam Abramovay, coordenadora de Estudos e Políticas sobre a Juventude da Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais (Flacso), um braço da Unesco.

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O relatório faz toda sorte de malabarismo retórico para equiparar ideias de direita – incluindo pautas como a crítica à ideologia de gênero, o direito à autodefesa armada, o combate à doutrinação de esquerda no ambiente escolar, a contestação às políticas afirmativas etc. – a ideologias criminosas como o nazismo e, por consequência, à violência terrorista contra as escolas. Assim, o documento estabelece uma continuidade entre, por exemplo, um colunista de opinião que apresente argumentos contra a ideologia de gênero ou defenda algum valor conservador e um sujeito que assassina quatro crianças com uma machadinha. Segundo os autores, ambos são parte de uma mesma estrutura extremista e criminosa, ou, como diria o comunista Flávio Dino, de uma mesma “matriz de pensamento”.

Digo que tudo isso é preocupante porque o documento parece antecipar o contexto da atual “epidemia” de ataques, como se ela estivesse de algum modo prefigurada ali, confirmando a tese central do relatório. Trata-se, no mínimo, de uma estranha coincidência. E a postura do atual ministro da Justiça e de outros integrantes do governo – que não se vexam em extrair dividendos políticos do problema – torna tudo ainda mais preocupante. Diante disso, fica difícil não concordar com a preocupação manifesta pela jornalista Paula Schmitt em seu perfil no Twitter: “Dino fez um aviso a quem odeia a direita e o Bolsonaro: toda morte que cometerem contra crianças já foi colocada na conta da direita (...) A lógica é irrefutável: um governo que declara publicamente que a morte de crianças atinge seu maior inimigo está admitindo explicitamente que tal desgraça lhe beneficia. A partir daí, esse mesmo governo não teria por que coibir tal ‘golpe de sorte’ (...) Eu não estou dizendo que o governo foi apenas injusto. Eu estou dizendo que a acusação peremptória contra a direita sugere clara e patentemente que será bom para o governo que tal massacre continue acontecendo e caindo na conta do seu inimigo”.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]