A política é feita de símbolos, muito embora os nossos autoproclamados “realistas” e “pragmáticos”, adeptos inconscientes de uma ideologia cuja raiz desconhecem, tenham dificuldade em compreendê-lo. Frequentemente, é essa incompreensão que faz com que a grande imprensa, cujos profissionais se deixam facilmente iludir por aqueles ideólogos do pragmatismo, deixe passar batido alguns gestos e atitudes que, não obstante sua irrelevância aparente, são a verdadeira chave para o entendimento do que se passa no mundo de hoje.
Em 2017, por exemplo, na transição do governo de Barack Obama para o de Donald Trump, houve um episódio altamente simbólico, conquanto sintomaticamente ignorado por nossos jornalistas e comentaristas políticos: o retorno para o Salão Oval da Casa Branca de um busto de Winston Churchill, presente do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair para o presidente George W. Bush, oferecido em solidariedade às vítimas dos atentados de 11 de setembro.
Tão significativa quanto a remoção de Churchill é a entronização, no Salão Oval de Biden, do líder trabalhista e “organizador comunitário” Cesar Chávez, um notório radical maoísta, cujo busto ocupa agora lugar de destaque atrás da cadeira presidencial
O busto havia sido retirado por ordem de Barack Obama, logo nos primeiros dias de seu mandato. Como explica Dinesh D’Souza em The Roots of Obama’s Rage, o gesto expressava a ideologia “anticolonialista” da nova-esquerda dos anos 1960, que moldou a persona política de Obama. Para o esquerdista radical de Chicago, Churchill não fora o herói da Segunda Guerra, o homem que, durante mais de um ano, contra tudo e contra todos (inclusive seus companheiros de partido), enfrentara sozinho o avanço nazista sobre a Europa. Não, para Obama e seus camaradas, Churchill não passara de um imperialista racista, alguém que deveria ser “cancelado” – tal como antifas e black blocs, milícias contemporâneas do Partido Democrata, fizeram com personalidades históricas do porte de um George Washington ou um Abraham Lincoln.
A presença de Obama na Casa Branca foi, sem dúvida, histórica – como a pusilânime imprensa obamaníaca nunca cansou de repetir –, mas pelos piores motivos: o sujeito foi o primeiro ideólogo antiamericano e antiocidental a ocupar a presidência dos EUA. Fiel à visão de mundo de seu mestre Saul Alinsky, nunca fez questão de esconder o desprezo nutrido pelos valores e instituições que o levaram até ali, manifesto, por exemplo, na retirada mesma do busto de Churchill, ou na recusa de levar a mão ao coração diante da execução do hino nacional americano, ou ainda no abandono do broche de lapela com a bandeira americana, uma tradição observada entre os presidentes anteriores, fossem democratas ou republicanos.
Portanto, quando Donald Trump mandou recolocar o busto de Churchill no Salão Oval da Casa Branca, estava, com esse gesto, marcando toda a distância havida entre ele e o seu antecessor em relação ao significado da América em sua relação com a civilização ocidental em geral, e com a Inglaterra em particular. Enquanto Trump via os EUA como representante prototípico do legado civilizacional ocidental, e orientou sua administração conforme essa premissa, Obama, típico radical da contracultura, simpático a regimes e líderes totalitários do Terceiro Mundo, via o país como uma potência imperialista, racista e socialmente injusta. Quanto à civilização ocidental, tudo o que fez desde o início de sua trajetória política foi se apresentar como voluntário à famosa convocação do marxista húngaro György Lukács: Quem nos livrará dela?
Não é por acaso, então, que, retomando esse projeto, Joe Biden, atual ocupante da Casa Branca e ex-vice de Obama, tenha novamente mandado retirar o busto de Churchill – uma prova definitiva de que, longe de um gesto fortuito, a iniciativa de Obama fora expressão de uma cultura política coesa, ancorada numa ideologia extremista e revolucionária. Mas tão significativa quanto a remoção de Churchill é a entronização, no Salão Oval de Biden, do líder trabalhista e “organizador comunitário” Cesar Chávez, um notório radical maoísta, cujo busto ocupa agora lugar de destaque atrás da cadeira presidencial, acomodado entre a bandeira americana e a bandeira com o selo da presidência dos EUA.
“Este Salão Oval será customizado desde o primeiro dia” – declarou ao The Washington Post a militante ultraesquerdista Ashley Williams, vice-diretora de Operações do Salão Oval, que conduziu uma visita guiada com os repórteres do jornal no interior do novo ambiente. “Era de suma importância para o presidente Biden ingressar num Salão Oval com a cara da América, e começar a mostrar os sinais de quem ele será como governante”.
Bem, hoje a cara da América se parece mais com a de Xi Jinping. E, apenas pelas primeiras medidas e escolhas simbólicas, não é difícil imaginar quem será Biden como governante...