“O especialista está sempre no limite da psicose”
(Richard M. Weaver, As Ideias Têm Consequências)
Os europeus “autóctones” (que não imigrantes ou filhos de imigrantes das ex-colônias), especialmente os franceses, estão sob ataque. Além do extremismo islâmico que se espalha pela Europa – e que teve no atentado de Estrasburgo a sua mais recente manifestação –, sofrem também o cerco da intelligentsia progressista ocidental, sob a forma de análises preconceituosas e enviesadas que, não raro, descambam naquilo que o jornalista Jean Sévillia chamou de “terrorismo intelectual”.
A cada atentado cometido por muçulmanos, inúmeras vozes erguem-se de imediato, menos para repudiar os terroristas do que para alertar-nos do perigo da assim chamada islamofobia. “É preciso não generalizar”, dizem uns. “O Islã não tem nada a ver com terrorismo”, dizem outros. “A maior parte dos muçulmanos é pacífica e moderada”, dizem quase todos. Todavia, não se observa por parte desses opinadores a mesma cautela relativista quando se trata de avaliar os descendentes de Asterix. Ao contrário dos muçulmanos, estes costumam ser tomados em bloco, sem nuances, de maneira sempre negativa. Em primeiro lugar, trata-se logo de lançar-lhes à cara a doença mental coletiva de que padecem: a islamofobia, o medo paranoico, irracional e potencialmente criminoso em relação aos islâmicos. Enquanto, para a elite bem pensante do Ocidente, o muçulmano é múltiplo, complexo, sofisticado e mal compreendido, o francês médio é vil, simplório e facilmente diagnosticável: trata-se, ante de mais nada, de um doente – um fóbico.
Cobra-se dessa infeliz criatura, o islamofóbico, um conhecimento especializado e aprofundado do Islã, sem o qual, dizem os sábios, todo juízo é inerentemente estúpido e indigno de consideração. Quando, em compensação, líderes islâmicos radicais, pregando em mesquitas e madrassas na França, na Inglaterra ou na Alemanha, retratam o Ocidente como um antro de degenerescência moral, suas mulheres como vagabundas, os judeus como cães e os cristãos como imundos, essa, digamos, “falta de conhecimento” do Ocidente por parte dos islâmicos não parece tirar o sono de ninguém. O problema é o orientalismo, nunca o ocidentalismo.
O cidadão europeu médio vê ruas e bairros inteiros de suas cidades fechados por muçulmanos para suas orações coletivas; vê regiões onde a sharia suplanta as leis nacionais; vê escolas deixarem de ensinar sobre o Holocausto para não ofender alunos muçulmanos; vê a rede Subway retirar a carne de porco do cardápio para não ferir suscetibilidades corânicas; vê seguidos atentados terroristas cometidos por radicais islâmicos em nome de Alá; vê, ao redor do mundo, nas redes sociais, um número considerável de muçulmanos celebrando e apoiando os ataques. Ele vê tudo isso, mas, ainda assim, o seu juízo é estúpido e digno de desprezo, porque – a intelectualidade eleva o tom – “ele não conhece o Islã”. “Como eu conheço” – completa mentalmente o especialista da vez. O cidadão comum não tem direito a formar um juízo sem consulta prévia à classe dos “especialistas”. E, se comete tal ousadia, não restam dúvidas de que o seu juízo é movido pela mais altissonante boçalidade.
Depois de um atentado terrorista perpetrado por muçulmanos, o que se vê nos programas televisivos é sempre a mesma cantilena. Num deles, por exemplo, mencionou-se uma pesquisa segundo a qual mais da metade dos habitantes nativos de França, Inglaterra e Alemanha consideravam o Islã atual incompatível com as democracias ocidentais. Em face do dado, um professor de Direito Internacional observou indignado: “As pessoas têm a impressão de que não há compatibilidade entre o Islã e o Ocidente sem conhecer o Islã. Elas estão falando sobre uma percepção do Islã, porque, de fato, não o conhecem”. E, como que pessoalmente ofendido, só não as chamou de imbecis no ar porque, enfim, pegaria mal.
O curioso é que muitos líderes islâmicos na Europa afirmam precisamente essa incompatibilidade entre Islã e Ocidente, donde o seu objetivo manifesto de criar um Califado Universal no qual a sharia será a única lei. Na outra ponta, os efeitos dessa incompatibilidade são sentidos pelos europeus não-muçulmanos de maneira dramática, mas, para os especialistas de estúdio de tevê, tudo não passa de fobia coletiva e irracional, fruto de ignorância pura e simples.
“Eles não conhecem o Islã” – repete-se à exaustão o bordão da intelligentsia. Mas é certo que as vítimas do atentado em Estrasburgo conheceram algo do Islã. Sim, os cidadãos europeus podem não conhecer o Islã a ponto de escrever sobre ele longos tratados acadêmicos, mas o conhecem suficientemente bem para temê-lo. Do ponto de vista do “gaulês”, do “bretão”, do “visigodo” contemporâneos, o Islã do atirador Chérif Chekatt é, infelizmente, muito mais relevante que o de Avicena.
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