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“Eu fico surpreso de ver jornalista defender censura” – disse há algum tempo o jornalista Jorge Pontual, da Globo News, por ocasião do fechamento do Telegram por ordem de Alexandre de Moraes. Estranha surpresa, uma vez que defender a censura tornou-se regra entre seus colegas de profissão e um mandamento na própria emissora em que trabalha.
Quando, por exemplo, o Facebook e o Twitter decidiram censurar o bicentenário jornal The New York Post (NYP) por causa da matéria sobre o laptop de Hunter Biden, o jornalista Pedro Dória comemorou em sua coluna n’O Globo: “O que Facebook e Twitter fizeram quarta-feira, nos Estados Unidos, é histórico. Cercadas por críticas justas relacionadas a suas condutas em inúmeras eleições – incluindo as que levaram à presidência Donald Trump, em 2016 –, as duas plataformas agiram com incrível coragem numa decisão particularmente difícil. Do ponto de vista jornalístico, porém, uma decisão indubitavelmente correta. Uma decisão que também levanta o debate a respeito da fronteira entre imprensa e redes sociais”.
Com as honrosas exceções de sempre (dentre elas, esta Gazeta do Povo), a imprensa brasileira estava perfeitamente representada na posição favorável à censura manifesta pelo colunista de O Globo. E essa posição, por sua vez, veio prontinha, qual um comando, da mainstream media americana, de veículos como New York Times, CNN, NBC News, PBS, Huffington Post et caterva. O comando partiu de Natasha Bertrand, agente de propaganda do Partido Democrata, que atua sob identidade falsa de “jornalista” da CNN. Foi ela a autora da tese fraudulenta segundo a qual a matéria do NYP reproduzia “desinformação russa”. Invertendo o sentido de uma carta publicada por ex-agentes de inteligência – na qual se afirmava, por um lado, uma mera incerteza quanto à veracidade do conteúdo do laptop e, por outro, a falta de evidências sobre qualquer envolvimento russo –, a apparatchik democrata criou a justificativa oficial para a interferência das Big Techs em favor de Joe Biden.
O escândalo dos Twitter Files comprova o caráter político do pretenso “combate às fake news” nas redes, algo que qualquer indivíduo minimamente honesto (e devidamente tachado de “teórico da conspiração”) já sabia de antemão
Recorrendo ao pretexto de não permitir a difusão de material hackeado, o Twitter, então, bloqueou a conta do New York Post e exigiu que o jornal deletasse toda referência à matéria. Além disso, censurou os usuários que postassem sobre o assunto. Os internautas não conseguiam sequer enviar o link da reportagem em conversas privadas por inbox. Já o Facebook, por meio de seu porta-voz Andy Stone, anunciou que manipularia os algoritmos para suprimir discussões sobre o caso, impedindo também a sua difusão com o acréscimo do famigerado selo do Ministério da Verdade contemporâneo: “esse conteúdo foi considerado desinformativo por nossa equipe independente de checagem de fatos”.
Como admitiu o próprio Pedro Dória na coluna supracitada, ambas as alegações foram “dribles” utilizados pelas plataformas para justificar uma decisão tomada a partir de “critérios jornalísticos” e com evidente impacto político. Segundo o jornalista pró-censura, a decisão “politicamente correta e corajosa” visava a coibir a circulação de “desinformação” que pudesse interferir no pleito. Ou, traduzindo para o português a partir da novilíngua midiática, as redes sociais agiram para impedir que uma informação nociva à imagem de seu candidato pudesse circular livremente. Daí a censura escancarada e orgulhosa.
Sendo que o modo mais simples de anular uma mentira é rebatê-la, o alvo real de toda censura nunca é a mentira, mas – justamente – a verdade. A notícia sobre o conteúdo comprometedor vazado do laptop de Hunter Biden era verdadeira. Seu pecado era ser uma verdade prejudicial à esquerda. Por isso foi censurada. Também eram verdadeiras, no Brasil, as informações sobre as condenações de Luiz Inácio Lula da Silva, seus laços de amizade com ditadores narcossocialistas do Foro de São Paulo e as suspeitas de ligação (os célebres “diálogos cabulosos”) de seu partido com o PCC. Foram igualmente censuradas, pois, apesar de verdadeiras – ou, antes, justo porque verdadeiras –, prejudicavam o candidato de esquerda, que, em “parceria” com as redes sociais, o tribunal eleitoral pretendia favorecer. Afinal, no dicionário da esquerda revolucionária, fake news é toda verdade inconveniente ao seu projeto de poder.
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No momento em que o escândalo dos Twitter Files comprova o caráter político do pretenso “combate às fake news” nas redes, algo que qualquer indivíduo minimamente honesto (e devidamente tachado de “teórico da conspiração”) já sabia de antemão, lembremos do diagnóstico feito pela esquerda de todo o mundo naquele fatídico ano de 2016. Nesse que, em termos globais, é o verdadeiro ano que não terminou (pois marca o início da presente reação globalista à ascensão das forças soberanistas), a esquerda sofreu derrotas políticas imprevistas e dolorosas, sendo as mais notórias o Brexit e a eleição de Donald Trump. Em face do trauma, formou-se entre as forças mundiais de esquerda um consenso sobre o inimigo comum a ser combatido, em tese responsável por aqueles desdobramentos aberrantes. Esse inimigo era a internet livre, o meio que possibilitara a difusão de informações e opiniões até então bloqueadas pelo gatekeeping midiático tradicional. Eis o consenso de 2016: era preciso mover guerra contra a internet livre.
O diagnóstico fica claro no trecho por mim destacado da coluna de Pedro Dória. Ao mencionar condutas supostamente condenáveis das redes sociais em eleições passadas, o jornalista sublinha “as que levaram à presidência Donald Trump, em 2016”. Nesse tipo de análise – da qual o referido articulista é apenas um porta-voz –, um resultado como a vitória eleitoral de Trump devera-se à omissão das redes sociais em censurar informações politicamente relevantes. Informações verdadeiras, como já dissemos, mas retoricamente convertidas em “fake news”. Daí que, quatro anos depois, Dória celebrasse a decisão das plataformas em corrigir o erro e, finalmente, promover a censura em prol de um mundo melhor (leia-se, em prol de Joe Biden). Uma decisão que realmente impactou o pleito de 2020, pois, de acordo com uma pesquisa do Media Research Center realizada com 1.750 eleitores em sete dos chamados swing states, um em cada seis eleitores do Biden (17%) não teria votado no democrata caso soubesse de alguns dos fatos relatados na matéria do NYP.
Com o atraso sempre periodicamente preciso de dois anos, o Brasil imitou a história eleitoral americana. Também em 2018, com a vitória de Bolsonaro, o diagnóstico da esquerda foi exatamente o mesmo: o resultado devera-se à disseminação de “fake news” (quem não lembra, por exemplo, da famigerada reportagem da militante petista Patrícia Campos Mello, que ajudou a criar o clima para a CPMI das Fake News?). Inspirado nas narrativas da imprensa americana, na ocasião o TSE havia criado o Conselho Consultivo sobre Internet e Eleições, colegiado destinado a elaborar estratégias para o “combate à disseminação de notícias falsas”, e cujas reuniões foram postas sob sigilo. Deslegitimando desde sempre a decisão soberana do povo brasileiro em favor de Bolsonaro, as forças da esquerda confiaram à “parceria” entre os tribunais superiores e as redes sociais a missão de não permitir que o erro de 2018 fosse novamente cometido. Era preciso enquadrar as redes sociais e os setores não alinhados da imprensa tradicional. Era preciso estrangular a liberdade de expressão a fim de que notícias favoráveis a Bolsonaro e desfavoráveis ao seu oponente jamais voltassem a circular novamente. Era preciso – em suma – fazer o diabo para ganhar (ou tomar) a eleição. E assim foi feito.