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Flávio Gordon

Flávio Gordon

Sua arma contra a corrupção da inteligência. Coluna atualizada às quartas-feiras

Censura na rede

Twitter Files Brazil

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Elon Musk afirmou que ação do Twitter no Brasil pode ganhar sua atenção em breve. (Foto: Bigstock / Hamara)

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“Vamos! Eu próprio hei de logo a verdade saber com meus olhos.” (Homero, Odisseia, VI, 126)

“É provável que a equipe do Twitter Brasil seja formada por gente com forte viés político” – Elon Musk tuitou hoje, 14 de dezembro de 2022. A postagem deu-se no contexto de uma interação com o perfil do Conexão Política, jornal digital brasileiro de inclinação conservadora. Marcando o novo dono da rede social, o jornal denunciou a resistência do Twitter Brasil em conceder o selo dourado (destinado a empresas) a veículos de comunicação conservadores. Em resposta, Musk prometeu verificar, e emendou com o comentário supracitado.

Não posso deixar de confessar uma satisfação pessoal ao testemunhar o levantamento desse tapete, que mal ocultava a imundície acumulada de parcialidade política e pulsão ditatorial dos operadores das Big Techs. Satisfação pessoal porque, autor de um artigo pioneiro (sem falsa modéstia) sobre a composição ideológica e os objetivos políticos da aliança formada pelas redes sociais e as ditas “agências de checagem de fatos” (e, no caso brasileiro, também por agentes do Estado), fui reiteradamente acusado de “teórico da conspiração”. Quando publiquei nesta Gazeta o referido artigo, intitulado “Epistocracia: o ataque dos autoproclamados ‘fact-checkers’ à internet livre”, lembro-me de ter sido criticado também por, supostamente, abandonar o terreno das ideias e partir para o ataque contra pessoas. Pautando-se por um flatus vocis liberaloide, segundo a qual a política consiste em mero debate de ideias – e não, como ocorre na realidade, em ocupação física de espaços e imposição de vontades –, os críticos exasperaram-se por eu ter apontado a identidade pessoal dos checadores. Por pose e afetação de bom-mocismo, não entenderam – ou não quiseram entender – a razão desse apontamento.

O interesse de Elon Musk no caso brasileiro alimenta esperanças de que, também aqui abaixo do Equador, verdades sejam um dia reveladas, sigilos acabem quebrados e o pântano da exclusão política seja devidamente drenado

Ora, a identificação dos checadores era crucial para o texto, que consistia no seguinte procedimento argumentativo: 1. investigar a orientação política dominante nas redes sociais e nas agências parceiras; 2. opinar que a vasta maioria dos operadores dessas redes e agências era de esquerda e de extrema-esquerda; 3. indicar os links para as seções de tipo “Quem Somos” dessas agências, para que, conferindo por conta própria os perfis públicos dos checadores, os leitores pudessem avaliar a pertinência ou impertinência dessa opinião. Minha conclusão à época foi a seguinte:

“A essa altura já deve ter ficado claro para o leitor que essas agências de fact-checking, longe de instituições ideologicamente neutras, são, ao contrário, agentes políticos de destaque no cenário global contemporâneo. Junto aos conglomerados tradicionais de mídia, elas integram uma grande reação epistocrata à livre circulação de ideias em seus respectivos países, que, nos últimos anos, graças à internet, pôs em xeque o monopólio de informação exercido pela grande imprensa, cada vez menos diversa em termos de visão de mundo. Composta por portadores daquilo que o economista americano Thomas Sowell chamou de ‘a visão dos ungidos’, essa grande rede de organizações procura uma solução urgente para o seguinte problema: o que fazer quando, a despeito de todas as nossas estratégias de manipulação do debate público, o povo não nos obedece e vota contrariamente aos nossos interesses, como ocorreu no Brexit e na eleição de Trump?”

Especificamente em relação ao Brasil, o que então observei foi o seguinte:

“Se o leitor tiver curiosidade de dar uma breve pesquisada no perfil das agências brasileiras de censura na internet (por exemplo, aqui, aqui e aqui), não tardará a perceber o óbvio: suas equipes são compostas exclusivamente por indivíduos de esquerda ou extrema-esquerda, eleitores ou simpatizantes de partidos como PSol, PCdoB e PT, e cujo objetivo é intervir ostensivamente no processo eleitoral vindouro. É o caso, por exemplo, da Agência Pública-Truco, da qual fazem parte, além de jovens millenials e justiceiros sociais desconhecidos do público, notórios radicais de esquerda tais como Leonardo Sakamoto, Eliane Brum, Eugênio Bucci e Ricardo Kotscho (este último ex-assessor do corrupto preso Luiz Inácio Lula da Silva). Os efeitos dessa vasta articulação política em prol de uma internet policiada e partidarizada já se fazem sentir de maneira dramática. Páginas e perfis de indivíduos e grupos posicionados no campo não esquerdista do espectro político têm tido o seu alcance reduzido, quando não são sumariamente banidos em processos verdadeiramente kafkianos, nos quais não se concede ao acusado direito de defesa, nem sequer informações claras sobre o crime de pensamento cometido (...) Estamos diante de um verdadeiro ataque à democracia perpetrado justo por aqueles que, em recorrentes campanhas de autopromoção, mais professam defendê-la. Trata-se de uma gente arrogante, elitista e autoritária, investida de um senso auto-hipnótico de superioridade moral, pelo qual se arvoram o papel de polícia do debate público (...) A guerra por uma internet livre está apenas começando, e dela deverá fazer parte todo aquele que, ademais de zelar pela própria, zela também pela liberdade de consciência alheia. É hora de somar forças contra o totalitarismo dos epistocratas.”

Essa guerra – que, a certa altura, vitimou até mesmo esta centenária Gazeta do Povo, fulminada na CPMI como um jornal “disseminador de fake news – escalonou brutalmente a partir dali, passando a incluir membros dos tribunais superiores, também majoritariamente compostos por militantes de esquerda, nas fileiras da censura à direita brasileira (fato que, meses depois daquele primeiro artigo, também analisei aqui nesta coluna). No contexto dos Twitter Files, que, disponibilizando as comunicações internas da empresa e – C.Q.D. – revelando a identidade dos conspiradores, evisceram o complô para banir da rede social todas as vozes conservadoras, o interesse de Musk no caso brasileiro alimenta esperanças de que, também aqui abaixo do Equador, verdades sejam um dia reveladas, sigilos acabem quebrados e o pântano da exclusão política seja devidamente drenado. Sonhar – por enquanto – ainda não dá cadeia!

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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