Um engenheiro e um executivo do Twitter deixaram clara sua insatisfação com Elon Musk em conversas com jornalistas investigativos infiltrados na companhia.| Foto: Pixabay
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“Aqueles que agora nada têm a dizer, pois a ação tem a palavra, continuam falando. Quem tiver algo a dizer, dê um passo à frente e cale-se!” (Karl Kraus)

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No fim da semana passada, em plena sexta-feira 13, Elon Musk anunciou a suspensão momentânea do acordo para a aquisição do Twitter. Embora ainda se declarasse comprometido com o negócio, o megainvestidor queria mais detalhes sobre a quantidade exata de contas falsas na rede social, que havia sido estimada em menos de 5%.

No início desta semana, na segunda-feira (dia 16), Musk participou de uma conferência de tecnologia em Miami, na qual questionou aquela estimativa, sugerindo que o número real de contas falsas pudesse ser maior que 20% e, com base nisso, pressionando por uma redução no valor inicial do acordo de compra, calculado em US$ 44 bilhões. Em resposta, o CEO do Twitter, Parag Agrawal, postou uma thread reafirmando a estimativa original de contas falsas. O comentário de Musk foi inusitado, mas característico da linguagem on-line que hoje permeia até mesmo o mundo dos negócios: um emoji de fezes.

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No dia seguinte, terça-feira (dia 17), Musk deu prosseguimento ao confronto aberto com o CEO da rede social, ao tuitar o seguinte: “O número de 20% de contas falsas, já quatro vezes superior à estimativa do Twitter, pode ser ainda maior. Minha oferta presumia que estivessem corretas as informações prestadas pelo Twitter à Comissão de Valores Mobiliários. Ontem, o CEO da rede social recusou-se publicamente a mostrar provas da estimativa abaixo de 5%. O acordo não pode prosseguir até que ele o faça”.

“Estamos censurando a direita, não a esquerda (...) É verdade. Há viés. É assim hoje em dia.”

Sirushti Murugesan, engenheiro sênior do Twitter, em conversa com um repórter disfarçado do Project Veritas.

Mas a batalha comercial era apenas um aspecto de uma guerra mais profunda, que começou a vir à tona desde que o fundador da SpaceX se propôs a adquirir a rede social e fazer dela um porto seguro para a liberdade de expressão. No mesmo dia 16 em que Musk palestrava em Miami, dando início ao embate com Agrawal, o Project Veritas (PV) – projeto de jornalismo investigativo baseado na infiltração de repórteres disfarçados, munidos de câmeras escondidas – lançava mais um de seus vídeos explosivos. Tratava-se da filmagem de uma conversa entre Sirushti Murugesan, engenheiro sênior do Twitter, e um jornalista do PV.

Num cenário que parece ser o de um restaurante ou bar, a repórter faz uma série de perguntas a Murugesan, que, sem suspeitar estar sendo filmado, e obviamente ignorando a identidade real do interlocutor, responde a todas com notável franqueza:

Repórter: “Você acredita haver diferença entre as definições do Twitter e do Elon quanto à liberdade de expressão?”
Sirushti Murugesan: “O Twitter não acredita em liberdade de expressão.”
R: “O que você quer dizer?”
SM: “Elon acredita em liberdade de expressão.”
R: “O que significa dizer que o Twitter não acredita em liberdade de expressão?”
SM: “Porque o Twitter quer censurar bullying e assédio, e a ideia de liberdade de expressão é você poder agredir e assediar pessoas. E, enquanto plataforma, o Twitter não acredita nesse valor (...) Por exemplo, se você pratica bullying contra uma pessoa transgênero. A direita acha isso OK; a esquerda não (...) Estamos censurando a direita, não a esquerda (...) É verdade. Há viés. É assim hoje em dia.”
R: [inaudível]
SM: “A direita não se sentia segura na plataforma. Mas agora, com a chegada de Elon, ela se sente.”
R [se passando por esquerdista]: “E nós?”
SM: “Nós nos sentimos menos seguros (...) Eu não sei se os dois lados podem realmente coexistir na mesma plataforma.”
R: “O que seus colegas dizem sobre isso [a compra do Twitter por Elon Musk]?”
SM: “Eles odeiam. Caramba! Eu, pelo menos, estou relativamente tranquilo com isso. Mas alguns dos meus colegas são muito, muito, muito de esquerda.”
R: “O que eles dizem?”
SM: “Eles estão, tipo... ‘Será o meu último dia se isso acontecer’.”
R: “Houve muita mudança desde a chegada do Elon?”
SM: “Sim, muita coisa mudou. Muita coisa mudou. Estamos sob muito estresse no momento. Estamos sempre temendo por nossos empregos.”
R: “Por que estão tão preocupados?”
SM: “Você sabe, nossos empregos estão na berlinda. Ele é um capitalista. E nós não estávamos, de fato, operando como capitalistas, mas mais como socialistas. Tipo, aqui somos todos comunistas pra c... (...) Tipo, eu comecei a trabalhar no Twitter e virei esquerdista (...) Acho que é o ambiente. Você está lá e acaba ficando como o amigo comuna [risos]. Não é à toa que isto aqui é chamado de Comunifornia [trocadilho com Califórnia].”

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No dia seguinte (17), o PV lançou um novo vídeo da série #TwitterExposed, hashtag que foi parar nos trending topics da rede social. Nele, um repórter com uma câmera escondida conversa com Alex Martinez, executivo do Twitter. “Os anunciantes estão enlouquecendo por conta dos tuítes de Elon Musk sobre querer liberdade de expressão, blablablá... Quem sabe o que isso significa, afinal?” – Martinez aparece dizendo, antes de ouvir do repórter a mesma pergunta.

Repórter: “A definição de liberdade de expressão do Twitter é igual à do Elon?”
Alex Martinez: “Aparentemente, segundo ele, não (...) Como anunciante, exercendo o meu trabalho regularmente, queremos que o Twitter seja o mais justo, transparente e correto possível. E se isso implica algum nível de censura para torná-lo correto...”
R [se fazendo passar por cúmplice das visões do entrevistado]: “Então, essa é a minha preocupação. É por isso que odeio tanto esse negócio. Elon vai ferrar com tudo...”
AM: “Não vai. Não vai. Ele pode até tentar, mas há gente disposta a resistir ao máximo, porque o que estamos fazendo... O resto de nós que permanecemos aqui acreditamos em algo que é bom para o planeta, e não em apenas oferecer liberdade de expressão às pessoas (...) Estas pessoas aqui realmente acreditam no que fazem. Vão chegar e dizer a ele: ‘essas são as nossas políticas contra desinformação, notícias falsas etc. Por que você acha que elas devem ser abolidas?’ Essas são as perguntas que lhe farão. E será difícil para ele chegar e dizer [parodiando Musk]: ‘Uh, porque as pessoas devem tomar as próprias decisões’. Não, porque as pessoas não podem tomar uma decisão racional se você não difunde as coisas corretas que devem vir a público”.
R: “Mas o Twitter liga mais para o lucro ou para a ideologia?”
AM: “Bem, hoje nós não lucramos. Então, eu diria ideologia, que é o que nos levou a não sermos lucrativos”.
R: “Foi isso que aconteceu?”
AM: “Bem, o Twitter não dá lucro”.
R: “Por causa da ideologia...”
AM: “Bem, se estamos implementando todas essas regras (que o Elon quer abolir), então, tecnicamente, nossa ideologia nos levou a não fazer dinheiro, porque hoje não estamos fazendo dinheiro. E Elon quer ir na outra direção, para que possamos fazer dinheiro. Entende?”
[Nesse ponto, o entrevistado passa a opinar sobre a pessoa de Elon Musk, debochando de sua Síndrome de Asperger]
AM: “Como pessoa, Elon é... Tipo, ele é maluquinho. Tem Asperger. Então, ele é especial. Todos sabemos disso. E tudo bem. Então, ninguém vai falar alguma barbaridade, porque ele é especial (...) Então, novamente, você viu aquele seu tuíte do tipo ‘por que não podemos todos nos amar?’ [rindo] Minha reação é tipo: ‘Você é especial. Você tem necessidades especiais. Você tem. Literalmente. Portanto, eu nem posso levar a sério o que você diz, porque você... é especial’ [rindo muito].”

Após a divulgação do primeiro vídeo, o Twitter lançou um comunicado interno alertando os seus funcionários (apelidados de “tweeps”) sobre o trabalho do PV, e reconhecendo a autenticidade do material. “Há, provavelmente, mais vídeos por vir”, dizia o texto. Curiosamente, foi o próprio Alex Martinez quem, durante a entrevista exibida no segundo vídeo, mostrou esse e-mail ao repórter do PV, que vazou o documento a fim de legitimar o conteúdo das filmagens. Com a repercussão do caso, o engenheiro Sirushti Murugesan – protagonista do primeiro vídeo – apagou sua conta na rede social.

Comunicado interno do Twitter alertando sobre o jornalismo investigativo do Project Veritas

No Twitter, Elon Musk perguntou sobre a autenticidade do material ao jornalista Benny Johnson, que o divulgara. Constatada a autenticidade, Musk comentou (e fixou o comentário) em outro tuíte do jornalista: “Um executivo do Twitter maldizendo a liberdade de expressão e debochando de pessoas com Asperger...” Alguns comentários dos internautas dão pista da repercussão: “Triste de ver. Lembre-se que 90% das pessoas sãs o amam, Elon”, disse um. “Demita cada um deles”, sugeriu outro. “A esquerda é tão tolerante, certo?”, ironizou um terceiro.

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As Big Techs estão tomadas por extremistas de esquerda, uma gente autoritária que despreza a democracia e a liberdade de expressão, e que, plenamente convicta de fazer algo “bom para o planeta”, está disposta a tudo – tudo mesmo! – para impor a sua agenda

Para qualquer pessoa atenta e honesta, o material divulgado pelo PV apenas comprova algo que já se sabia: as Big Techs estão tomadas por extremistas de esquerda, uma gente autoritária que despreza a democracia e a liberdade de expressão, e que, plenamente convicta de fazer algo “bom para o planeta”, está disposta a tudo – tudo mesmo! – para impor a sua agenda. Para não esquerdistas como eu – há um ano e meio bloqueado no Twitter por obra de um desses salvadores de mundo –, os vídeos apenas dão rosto à obscura censura de que temos sido vítimas. Para o grosso da velha imprensa, todavia, qualquer denúncia desse estado de coisas – como aquela feita por Donald Trump em 2018 – continuará sendo tachada de “teoria da conspiração”.

Não que essa imprensa não conheça essa realidade, pois a conhece perfeitamente. É que a chancela e encoberta. Comprometida com a mesma agenda ideológica, e igualmente formada por extremistas de esquerda dispostos a tudo (especialmente a mentir) pela causa, ela é parte integral do grande “consórcio” mundial pela censura. Para notá-lo, não é preciso que nenhum projeto como o Veritas se infiltre nas redações e estúdios de veículos como Folha de S. Paulo, Estadão, Globo ou CNN. Basta ligar a televisão e abrir os jornais para saber o que pensam os radicais da extrema-imprensa.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]