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Pixabay (Foto: )

“Você não vê que o objetivo final da novilíngua é restringir o alcance do pensamento? No final, tornaremos a crimideia impossível, pois não haverá palavras para expressá-la. Todo conceito que possa ser necessário será expresso por exatamente uma palavra, com um significado rigidamente definido, sendo todos os seus significados subsidiários apagados e esquecidos” Syme, personagem de 1984 (George Orwell)

George Orwell foi um gênio. Previu como ninguém o que aconteceria ao mundo num futuro não tão distante de seus dias. Ler sua obra mais famosa, 1984, em pleno século 21, é uma experiência bastante incômoda, algo como um frio constante na espinha, decorrente da percepção de que a ficção atingiu níveis inacreditáveis de realidade. Por outro lado, trechos como o citado no início deste artigo são como pequenas aulas sobre o modus operandi e os objetivos da esquerda. Dentre estes, o empobrecimento da linguagem e, por conseguinte, do pensamento, é um dos mais nefastos para a sociedade; por isso mesmo, é também uma das principais linhas de ação da militância esquerdista dentro dos aparatos de educação e imprensa.

O mundo ideal da esquerda é binário. Nuances significam pluralidade de pensamento, e isso nenhum esquerdista convicto e ideologicamente consciente tolera (ainda que seu discurso seja justamente o oposto disso). Já o pensamento binário é ideal para adestrar seguidores e militantes, para os quais só existe o “conosco” ou o “contra nós”. Ao observador menos atento, pode parecer que esse tipo de abordagem ainda está longe de ser regra nos dias de hoje. Ao mais atento, fica claro que seu uso já é amplo em toda a grande imprensa, nas escolas, nas universidades, no meio jurídico, nas leis etc.

É assim quando “homofobia” deixa de ser um ataque físico ou uma manifestação grave de preconceito e passa a ser qualquer discordância mínima de pensamento a respeito da homossexualidade, até mesmo meras piadas. É assim quando “estupro” deixa de ser o ato sexual forçado e passa a ser uma cantada ou uma passada de mão. É assim quando “machismo” deixa de ser o desrespeito à mulher e passa a ser um simples ato de cavalheirismo, como o abrir da porta do carro.

Mas não é apenas nas palavras que o pensamento binário se manifesta. A eliminação das nuances vai além delas. Para o esquerdista, a vida se resume à política, e por conta disso ele defende a politização de todos os seus aspectos. Assistir a um jogo de futebol no domingo, relaxando ao lado de uma cerveja e um saco de batatinhas, não cabe. Afinal, o jogo também é local de protesto, de marcar posição, de passar mensagem, de fazer militância. Ver um filme comendo uma deliciosa pipoca com guaraná, justamente para esquecer da realidade dura da vida, não cabe. Cada filme, cada peça de teatro, cada novela e cada desenho animado tem que carregar consigo um segundo significado, uma agenda, um objetivo subliminar. Ir a um show de rock para cantar e pular loucamente, soltando aquele adolescente que ainda vive dentro de si, não cabe. As canções e suas letras, a vida dos artistas fora dos palcos, a posição da banda em relação ao aquecimento global, tudo tem que importar e tudo tem que ser considerado. O mundo binário do esquerdista, onde tudo tem que ser catalogado como politicamente contra ou politicamente a favor de suas doutrinas vermelhas, é chato demais, é orwelliano até a medula.

É claro que, na própria política, o pensamento binário atinge seu grau máximo. Na última eleição presidencial, os supervermelhos – PT, PSol, PCdoB, PCO e PSTU – tachavam qualquer opositor à Dilma de “tucano”. Em suas mentes limitadas, não existia nenhuma outra possibilidade além de se querer o PT ou o PSDB. Mais atualmente, qualquer um que defenda a candidatura de Jair Bolsonaro à presidência será chamado de fascista, um esvaziamento sem igual do real significado desta palavra tão presente na boca da militância de esquerda. Os exemplos são abundantes e facilmente encontrados.

O pensamento binário é emburrecedor, é uma desgraça para o mundo. A eliminação das nuances endurece a alma, mata a beleza e destrói a nossa humanidade mesma. Imagine uma fotografia muito bonita, ou uma obra de arte clássica, ambas com milhares de tons de cores. Agora imagine que todos os tons de amarelo foram substituídos por um único amarelo, todos os tons de azul por um único azul, e assim por diante. O resultado será semelhante a um desenho de criança, e quase todos os detalhes serão perdidos.

Assim também funciona a mente binária, incapaz de captar as particularidades tão importantes de tudo o que a rodeia. O homem binário não consegue entender discursos, é incapaz de interpretar textos e não tem como analisar opiniões que estejam fora de sua visão extremamente limitada. Você tenta explicar para ele o que é aquele azul-turquesa e ele só consegue entender que é azul. Ele não tem ferramentas para diferenciar um tom do outro, pois elas lhe foram negadas durante seu processo educacional; as poucas que ele porventura adquiriu lhe são tiradas diariamente pelos agentes idiotizantes que ocupam editorias jornalísticas e cargos de criação em emissoras televisivas.

Nosso papel no meio desse assassinato de nuances é justamente o de protegê-las. Não podemos permitir que significados importantes sejam soterrados sob o estrume do pensamento esquerdista binário. Nossa própria sobrevivência como sociedade humana depende disso. 1984 é hoje.

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