Morar em outro país não é fácil. A frase pode parecer tirada de um livro de clichês, mas é a mais pura verdade. Há quase cinco anos em terras norte-americanas, posso atestar a veracidade de tal afirmação, ao mesmo tempo em que posso reiterar minha satisfação e certeza de que tomei a decisão certa quando vendi tudo o que tinha e saí do Brasil.
Quando chegamos aqui, éramos apenas um casal com quatro bichos – sim, trouxemos dois gatos e dois cachorros na mudança. Na Flórida, onde o custo de vida é relativamente baixo (especialmente na Flórida Central), e com o dólar abaixo de R$ 2,50, não tínhamos grandes preocupações sobre como arrumar sustento. Afinal, com os proventos de meus trabalhos de tradução, mais direitos autorais e renda de uma empresa de cursos on-line, foi possível viver por um ano inteiro só trazendo dinheiro do Brasil. Trabalhar aqui não era opção, pois nossos vistos não nos davam tal autorização. Mas, com o passar do tempo, obtivemos nosso status de trabalhadores autorizados e pudemos tocar a vida com muito mais tranquilidade. Bem, tranquilidade em termos, já que vieram Benjamin, em 2015, e Eleanor, em 2018, para adoçar nossas vidas e esvaziar nossas carteiras.
Enfim, não quero me alongar em minha história pessoal. Resolvi escrever sobre o assunto porque temos recebido uma quantidade maior de visitantes brasileiros nos últimos meses, e isso me permitiu fazer algumas observações interessantes. Em primeiro lugar, cinco anos é tempo suficiente para entender que não faremos grandes amigos americanos. Antes de me mudar, costumava brincar que fugiria de perto dos brasileiros e tentaria me mesclar ao máximo com os nativos. Ledo engano. Não fossem os amigos brasileiros que fizemos aqui, a vida seria muito mais difícil. Americanos são, em geral, gentis, cordiais, respeitosos e profissionais no que fazem. E, em geral, são extremamente reservados e avessos ao calor humano que nós, brazucas, esbanjamos. Vivi quase quatro anos ao lado de um vizinho muito bonzinho, uma família que sempre nos cumprimentou, que nos ofereceu ajuda quando precisamos e com quem chegamos a sair duas ou três vezes para jantar. Chegaram inclusive a jantar em casa, um dia. Jamais retribuíram o convite, jamais pusemos os pés na casa deles. Excelentes vizinhos, pouco interessados em aprofundar a amizade. Quando conversamos sobre esse assunto com outros brasileiros que moram por aqui, o consenso aparece: ninguém tem amigos americanos, e não é por falta de tentativas. Se você pensa em vir morar nos Estados Unidos, já fique ciente de que precisará importar amizades.
Mas digressei. O que eu queria mesmo abordar é o efeito “grama do vizinho”. Quanto mais tempo você passa fora do seu país, mais sente “inveja” daqueles amigos que saem juntos em sua cidade natal, da turma de faculdade que se reencontrou para comemorar os 20 anos de formados, das festas de família, dos feriados na casa de praia do único amigo rico da turma etc. Não importa o nível de violência do país, a quantidade de muros pichados, a imoralidade na televisão, o trânsito caótico, o atendimento ruim em tantos lugares – nada disso é mais realidade para quem está distante há anos. Ninguém é idiota de sentir falta do que é ruim, e por isso sentimos aquela saudade imensa apenas das coisas boas, que não por acaso são as pessoas que amamos. E, nesses momentos, bate a vontade de voltar (mais em minha esposa que em mim, confesso). Só que, como num passe de mágica, vem alguém te visitar, alguém que viveu os últimos cinco anos com todos aqueles defeitos brasileiros ao seu redor, e te diz que está louco para se mudar. A grama do vizinho é sempre mais verde, sempre.
No entanto, assim como o verde da grama pode ser aferido e comparado, também se pode medir a qualidade de vida e os prós e contras de se mudar de país. É claro que as condições mudam, basta ver a realidade que existia quando nos mudamos para cá – Dilma Rousseff era presidente do Brasil –, e essas mudanças fazem necessária uma atualização da avaliação de alguém sobre as vantagens ou não de passar por um processo complicado e trabalhoso de imigração. O que posso dizer é que, baseado em tudo o que tenho ouvido de meus amigos e conhecidos que vêm nos visitar, pela descrição que fazem do Brasil de hoje, pelo que contam de suas vidas diárias, continuo achando que viver nos Estados Unidos é substancialmente melhor que viver no Brasil, mesmo com o lado negativo de estar longe dos queridos. Especialmente para quem tem filhos.
Por isso, caro leitor, se você tiver esse desejo de buscar um futuro novo e diferente além das fronteiras do Brasil, pode contar com a minha torcida. Espero que o Brasil melhore muito nos próximos anos, mas mantenho minhas expectativas em um patamar bem realista. Existe um limite para o Brasil melhorar e, mesmo no ponto mais alto desse limite, o país ainda não me oferecerá o que eu quero para minha vida. Talvez, se a coisa engrenar, daqui a 12 ou 16 anos seja factível voltar a morar por aí. Talvez. Nesse ínterim, continuarei interagindo com você por meio desta coluna. E, de vez em quando, deixarei a política de lado e entrarei em alga mais pessoal, como hoje.