Foto: Fellipe Sampaio/SCO/STF| Foto:

O Supremo Tribunal Federal tem dado inúmeras provas de que não tem nenhum apreço pela justiça, principalmente nesta configuração em que se encontra hoje, e que não dá a mínima para a opinião pública a seu respeito e a respeito dos assuntos que julga. Há uma expressão muito interessante na língua inglesa, sem tradução direta para o português, que descreve com exatidão o que os togados de Brasília pensam do povo brasileiro: They don’t give a rat’s furry ass. A tradução direta seria “Eles não dão o traseiro peludo de um rato”; em outras palavras, o que os brasileiros pensam vale menos que o bumbum da carcaça de um roedor.

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Acontece que, para um juiz de suprema corte, não dar a mínima para a opinião pública é algo muito mais positivo que negativo. Imagine se, além de zelar pela lei e por sua interpretação correta, cada juiz tivesse de pensar nas implicações negativas de seus votos, tendo de agradar multidões ou grupos de cidadãos. Seria certamente um problema, pois a massa muda de opinião muito mais rapidamente que as leis mudam de teor. Ou seja, nosso Supremo não está tão mal quando o assunto é votar independentemente da repercussão que o voto possa causar. O grande problema é não ter apreço pela justiça. Quando considerada essa realidade, a indiferença para com a opinião pública acaba se tornando um fator maléfico e potencializador de desgraças nacionais.

O que estamos prestes a ver no próximo dia 26 tem potencial para ser o ápice da falência do Judiciário brasileiro, a “cereja do bolo”, como se diz por aí. A Segunda Turma do STF – composta por Ricardo Lewandowski (presidente), Celso de Mello, Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Edson Fachin – é famosa por soltar bandidos previamente condenados, e é justamente a turma que julgará mais um recurso da defesa de Lula, pedindo um efeito suspensivo à sua condenação em segunda instância. Só o fato de o STF acatar um pedido desses já mostra que as coisas não estão sendo feitas da maneira correta. Não sou especialista na área jurídica, mas arrisco sem medo dizer que nenhuma outra suprema corte de um país democrático, neste planeta Terra, aceitaria fazer um segundo julgamento sobre exatamente o mesmo assunto em um período tão curto de tempo. É algo sem lógica, sem bom senso e sem explicação plausível – exatamente o tipo de coisa que tem caracterizado o STF.

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Lula na cadeia, além de ser o mais próximo que conseguimos da correta aplicação da justiça em muitos anos, foi um fato estabilizador para nossa nação. Sabe aquele último fio de esperança? Pois é, Lula na cadeia é o que impede esse fio de estourar, é o fósforo aceso no fim do túnel, a garrafa d’água no calor do deserto. Acima do STF, só existe Deus, e Ele não tem um histórico de interferência nas péssimas escolhas feitas pelos brasileiros. O próprio pessoal do PT percebeu isso quando tentou, em vão, recorrer da decisão anterior sobre seu malvado favorito a instâncias supranacionais: esse tipo de recurso não dá em nada, pois a soberania nacional ainda existe, por mais que os globalistas tentem acabar com ela. Na falta de um tribunal intergaláctico e na ausência de uma ação direta do Todo-Poderoso, o que tem para hoje é o STF.

Em território brasileiro, quem chega a qualquer cargo político ou indicado por político tem rabo preso ou costa quente. Quão ingênuos seríamos se achássemos que o STF é diferente – seus togados são feitos da mesma matéria-prima ruim usada para formar políticos, gente que pensa sempre em si antes de pensar na nação. Um Gérson de toga pode até falar mais bonito ou com pompa, mas continua sendo um Gérson, pensando como um Gérson, agindo como um Gérson. Na verdade, um Gérson de toga é muito pior que um Gérson qualquer, porque a toga lhe esconde as vergonhas, lhe dá confiança para quebrar recordes de “gersidade” sem o escrutínio a que um qualquer seria submetido. Quem escrutinará os supremos escrutinadores?

A greve dos caminhoneiros nos deu uma dimensão de quão à flor da pele estão os nervos da nação. Mesmo de longe, escrevendo aqui dos Estados Unidos, consigo sentir a tensão no ar. O que acontecerá caso a Segunda Turma livre Lula da prisão e permita que ele viaje o país em campanha política apoiado na falência mesma desse Judiciário que pode vir a soltá-lo? Se eu soubesse esse tipo de coisa, já estaria milionário. Mas coisa boa não é, e está na mão de cinco Gérsons…

(Nota da redação: Na noite de sexta-feira, depois da publicação desta coluna, o ministro Edson Fachin mandou arquivar o recurso da defesa de Lula, cancelando o julgamento que ocorreria no dia 26)