Supporters of President Donald Trump mock anti-Trump motorists during a rally in Beverly Hills, California, October 10, 2020. (Photo by Kyle Grillot / AFP)| Foto: AFP
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Mais uma semana de campanha presidencial nos Estados Unidos, e novamente as análises entregues pelos principais órgãos de imprensa brasileiros repetem a ladainha das pesquisas eleitorais, as mesmas que davam mais de 99% de chance de vitória a Hillary Clinton apenas quatro anos atrás. Aliás, chamar de análise a mera reprodução de manchetes produzidas por outros órgãos de imprensa é denegrir o ofício do verdadeiro analista. Infelizmente, com raríssimas exceções, a imprensa brasileira não se dá ao trabalho mínimo de compilar dados e averiguar fatos para depois emitir um parecer.

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A primeira coisa que precisa ser dita sobre pesquisas nacionais nos Estados Unidos: elas valem quase nada. Ora, a eleição americana é completamente diferente da brasileira. Graças ao sistema de colégio eleitoral, não é a maioria simples de votos que define o vencedor. Cada estado da federação tem seu peso no resultado final, e essa distribuição de pesos garante que estados menores não tenham sua representatividade esmagada pela pressão populacional de estados maiores. E é justamente por isso que pesquisas nacionais não fazem sentido nesse sistema. Decorre disso que não faz sentido usar uma pesquisa nacional para tentar prever os rumos da eleição.

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O momento atual da nação americana é bem complicado. Fazer previsões em uma eleição como a de 2020, o ano de que jamais nos esqueceremos, é um convite a passar vergonha, seja qual for a previsão. Ainda assim, com base nos indicadores que eu creio serem mais adequados para analisar o pleito que se aproxima, continuo acreditando que Donald Trump tem ótimas chances de se reeleger. São esses os indicadores:

Resultados de pesquisas em estados em que não se consegue definir uma tendência vermelha ou azul

Como se pode ver na tabela abaixo, a performance de Trump nas pesquisas estaduais em 2020 é muito semelhante à de 2016. Na ocasião, todas as pesquisas em estados toss up apresentaram exatamente a mesma tendência de viés pró candidato democrata. Basta observar o resultado da eleição de 2016 para se ter uma ideia do tamanho desse viés.

  • Dos oito estados em que se previa a vitória de Hillary Clinton, em apenas dois ela acabou levando, sendo que em New Hampshire a margem foi mínima, apenas 0,3%. 
  • Nos seis em que ela perdeu, o erro da pesquisa ficou entre 4,7 pontos (Flórida) e absurdos 11 pontos (Michigan), mostrando a completa inabilidade dos institutos em captar a realidade daquele momento.
  • Ao mesmo tempo, dos quatro estados em que era prevista vitória de Trump, apenas na Georgia a pesquisa superestimou os números (5,1 pontos reais contra 5,5 previstos). Nos outros três, as previsões foram subestimadas em 2,5 (Arizona), 3,0 (Texas) e 5,8 (Iowa) pontos.
  • Resumindo, é como se as pesquisas tivessem sido feitas sob a regra “se for óbvio ululante que Trump vá levar, minimizar sua vantagem; nos outros estados, maximizar a de Hillary Clinton”.

É por essa análise que eu me recuso a basear minha opinião nas pesquisas deste ano. E sei que alguns analistas têm batido na tecla de que 2016 foi algo único, que os eleitores de Trump já não têm mais vergonha de responder pesquisa, e que os institutos corrigiram seus métodos para minimizar a vergonha dos erros. Em resposta, digo que 2016 não foi tão único assim, basta estudar a história das eleições americanas; que as pessoas não têm mais vergonha, talvez, de declarar voto em Trump, mas passaram a ter medo depois de tudo o que aconteceu neste ano; e que duvido muito que os institutos tenham corrigido seus métodos, pois quem paga seus serviços são justamente as pessoas que querem que os erros continuem.

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Entusiasmo geral dos eleitores

Existem alguns aspectos que somente são possíveis de serem apreendidos quando se está inserido numa determinada realidade. Entusiasmo eleitoral é um deles. Eu vivo em um swing state, em que o resultado nunca pode ser dado como garantido nem para republicanos e nem para democratas. Mais que isso, vivo em um condado que, historicamente, vota azul. Mesmo assim, é inegável que o número de placas “Trump/Pence” seja muito maior que os de placas “Biden/Harris” nos gramados, campos e ruas da Grande Orlando. O mesmo vale para os carros adesivados.

Mas não somente pela Flórida que faço minha análise. Os eventos de campanha de Trump têm tido público na casa dos milhares, enquanto os de Biden parecem reunião de condomínio, chegando ao ponto de alguns eventos serem desmarcados por falta completa de público.

Por último, Trump tem conquistado o voto latino (apesar de sua política de imigração, que eu já critiquei aqui), que tende a ser uma grande força eleitoral neste ano.

Novos registros de eleitores

O voto não é obrigatório nos Estados Unidos. Por isso, um dos grandes esforços de campanha é o de convencer as pessoas a se registrarem para votar. Tanto é assim que as grandes plataformas digitais e muitas empresas com aplicativos e presença digital mandaram e-mails e comunicações via aplicativo durante semanas seguidas, encorajando as pessoas a fazer o registro em tempo de votar.

Acontece que os republicanos trabalharam esse ponto de uma forma incrível nos swing states, condado por condado, e obtiveram uma vantagem enorme sobre os democratas na obtenção de novos registros. Na Flórida, os republicanos registraram 98% mais eleitores que democratas; na Pensilvânia, foram 134% a mais; na Carolina do Norte, 118%. E mesmo em estados onde os democratas tinham grande esperança de virar azul neste ano, os novos registros não entusiasmaram. No Arizona, um desses estados, democratas registraram apenas 5% mais eleitores que republicanos.

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É com base nesse conjunto de fatores que eu faço minha análises e mantenho meu otimismo em relação à reeleição de Donald Trump. Como já disse anteriormente, não sou louco a ponto de cravar resultados, mas não tenho medo de ir contra a maré. Tem gente demais no Brasil dizendo que Biden já é praticamente o próximo presidente dos Estados Unidos. Me deixem fora disso.