Na semana passada, participei como expositor na maior feira setorial do ano no ramo de atuação de minha empresa. Estivemos na cidade de Denver durante quatro dias e, nesse período, tive a oportunidade de conversar com gente de vários estados americanos e também de diversos países. Além de fazer a venda para cada um dos interessados, sempre tento aproveitar essas ocasiões para aprender mais sobre outras realidades, fazer perguntas sobre especificidades locais e colher opiniões de pessoas que não fazem parte do meu convívio diário.
O simpático cliente do Irã, professor em uma renomada universidade americana, me disse adorar este país que acolheu sua família e que sente dor e revolta constantes pelo rastro de destruição deixado pela revolução islâmica em sua terra natal. De acordo com ele, a grande maioria dos iranianos que vivem hoje nos Estados Unidos compartilha dos mesmos sentimentos. O dentista da Venezuela me contou que, em certo momento, teve de decidir por abandonar seus pacientes em prol de sua família, pois já não era mais possível viver dignamente sob o governo de Maduro. É outro que encontrou um futuro na área acadêmica, atuando hoje como professor em um programa de mestrado em endodontia aqui nos Estados Unidos. Além desses, falei com gente do Japão, Honduras, França, Guatemala, Peru, Alemanha, Holanda e Eslováquia, só para mencionar os que ficaram na minha mente. Mas, foi na conversa com um cliente americano, morador da Califórnia, que me veio a ideia de escrever esta coluna.
O doutor Paul, dentista especializado em endodontia, havia me ligado uma semana antes do evento para saber sobre nossos produtos. Sua simpatia ao telefone me deixou curioso e desejoso de conhecê-lo pessoalmente, até mesmo porque esse tipo de profissional costuma se interessar bastante por meus produtos e acaba se tornando cliente fiel. Pois bem, lá estava ele no segundo dia do evento. Chegou ao estande perguntando por mim, com seu jeitão ítalo-americano – sorridente, falante e extremamente agradável. Após ouvir minhas explicações e acompanhar uma demonstração de uso feita pelo meu sócio, fez a maior compra entre todos os clientes que atendi naqueles três dias. No dia seguinte, quando veio buscar os produtos que havia comprado, resolvi fazer algumas perguntas de cunho político, pois imaginei que alguém tão legal não pudesse jamais ser um democrata. Bastou eu perguntar se a cidade onde ele morava ficava em uma região mais conservadora ou mais liberal da Califórnia para saber que estava lidando com um conservador e entusiasta das armas como eu. O que o doutor Paul me contou no decorrer da conversa confirma muitos testemunhos e artigos que tenho lido sobre a decadência deste que já foi um grande estado americano.
A Califórnia, ao contrário do que muitos pensam, passa por um momento de profunda decadência em todos os aspectos. Muitas empresas, mesmo as que se estabeleceram originalmente no Vale do Silício, têm escolhido outros estados menos custosos para transferir ou expandir suas operações. A matemática é simples para o empresário: por que ficar em um lugar onde os custos de aluguel são astronômicos, os impostos são os mais altos da federação, as leis trabalhistas desfavorecem o empreendedorismo, os salários têm de ser mais altos para atrair gente qualificada e a burocracia regulatória chega quase a níveis brasileiros? Texas, Nevada e Utah têm recebido esses empresários de braços abertos.
Acompanhando o êxodo empresarial, há o populacional. Uma família de quatro pessoas com rendimentos de 150 mil dólares anuais consegue viver uma vida muito confortável na maioria dos estados americanos. Na Califórnia, essa mesma família estaria na zona mais baixa da classe média, lutando para encaixar todas as despesas essenciais dentro do orçamento. Exemplificando, enquanto o morador da área de São Francisco paga 3 mil dólares por mês para morar em um apartamento pequeno de dois quartos, o habitante da área central da Flórida paga apenas um terço disso; pela mesma quantia, ele consegue alugar uma mansão de 6 quartos. Em minha última viagem à costa oeste, quatro meses atrás, saí de Orlando com a gasolina custando $2,34 por galão e vi os postos em Los Angeles cobrando $3,65. Some-se ao altíssimo custo de vida uma agenda legal contrária aos princípios e costumes judaico-cristãos que têm pautado as famílias americanas desde o início da nação e o resultado não poderia ser diferente: mais gente indo embora do que chegando. Se essa tendência se confirmar no próximo censo, o estado pode perder assentos no Congresso Nacional pela primeira vez em sua história.
E o que dizer do ambiente urbano? A degradação começa a se tornar lugar comum nas grandes cidades californianas. Mendigos podem ser vistos em todo lugar, até mesmo em calçadões chiques, pedindo esmolas à porta de lojas como Gucci, Prada e Armani. O luxo se mistura ao cheiro de urina; a beleza das vitrines, às pichações. A legislação penal estadual protege criminosos, especialmente os imigrantes, e pune os cidadãos obedientes à lei, controlando e regulando o porte e a posse de armas como nenhum outro estado da federação. O resultado são níveis de criminalidade crescentes e bem acima da média nacional.
Assim como em outros lugares onde a esquerda chegou ao governo e ficou por muito tempo, a Califórnia está pior. Por ser um estado dentro de uma federação, seu exemplo é dos mais didáticos – construir comparações entre países diferentes é, muitas vezes, um exercício infrutífero e de difícil validação, devido às grandes diferenças culturais e circunstanciais observadas; já no nível estadual americano, as variáveis estatísticas que dão credibilidade a qualquer estudo são muito mais favoráveis. Portanto, se Cuba, Venezuela e Brasil ainda não forem suficientes para mostrar o poder destruidor dos governos de esquerda, olhemos para a Califórnia enquanto ela ainda faz parte dos Estados Unidos. É o exemplo perfeito do que não se deve fazer.