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Flavio Quintela

Flavio Quintela

Esperança

Cinco anos

(Foto: Unsplash)

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Tempos atrás, deparei-me com uma situação profissional e financeira bem aquém de tudo o que havia sonhado para minha vida. Por ter sido um dos momentos mais difíceis que vivi até hoje, lembro-me claramente da conversa que tive com meu tio que mora no Texas, de quem busquei aconselhamento e sugestões para superar os problemas que se empilhavam ao meu redor. Não sou capaz, obviamente, de transcrever palavra por palavra do que ele me disse e, ainda que o fosse, não seria um conteúdo de interesse aos meus leitores. No entanto, uma certa frase dele me marcou para sempre e se tornou um princípio de vida para mim daquele momento em diante. Ele disse:

“Flavio, eu te digo por experiência própria: bastam cinco anos para a gente sair do fundo e chegar ao topo, e vice-versa. Você só precisa de cinco anos para resolver a maioria dos seus problemas. Em cinco anos você faz uma faculdade; em cinco anos você começa e desenvolve um negócio; em cinco anos você se casa e tem filhos; em cinco anos você muda de país e faz vida nova; em cinco anos você realiza muita coisa. E o melhor de tudo: a cada cinco anos você tem cinco anos para mudar tudo de novo e recomeçar de novo se assim for preciso. Comece a contar os seus cinco anos e, quando eles passarem, me conte o resultado.”

Nesta semana eu completei os cinco anos. Meu tio estava certo.

Em cinco anos, deixei de trabalhar com engenharia no Brasil e me tornei empresário na área de equipamentos odontológicos nos Estados Unidos. Comecei meu negócio sozinho, fazendo desde os procedimentos de registro no FDA - Food and Drug Administration - até o empacotamento de pedidos e a limpeza do escritório. Acumulei as funções de contador, gerente, vendedor, faxineiro, almoxarife e presidente da empresa por três anos, até que pude finalmente contratar pessoas para trabalhar comigo. Hoje, já com o nome reconhecido em nosso nicho de mercado, fornecemos suprimentos para 20% de todos os programas de mestrado e doutorado em endodontia dos Estados Unidos.

Nos mesmos cinco anos, eu e minha esposa deixamos de ser o casal em que um havia jurado para o outro que não teríamos filhos e passamos a ser uma família com duas crianças e um desejo de fazer a terceira que vem e vai, conforme anda nossa paciência e humor. Aliás, entre uma gravidez e outra, trabalhando quando era possível e se desdobrando para conciliar maternidade e vida profissional e adaptação cultural, minha esposa também construiu seu negócio, inaugurando um estúdio fotográfico especializado em fotos de recém-nascidos e conquistando reputação na Grande Orlando.

Cinco anos atrás, lancei meu segundo livro e tinha planos de lançar muitos mais. Não escrevi mais nenhum. Foi impossível fazer caber mais essa atividade nesse período. Em contrapartida, escrevi muitas dezenas de colunas para esta Gazeta do Povo, cujo conteúdo somado encheria alguns volumes impressos.

Em 2015, Dilma Rousseff ainda era presidente do Brasil. Nos cinco anos seguintes, mais dois outros presidentes já haviam ocupado sua cadeira.

Cinco anos, 60 meses, 1.827 dias.

Mas por que raios eu estou escrevendo sobre isso em minha coluna semanal cujo tema principal é política? Resolvi escrever por que, coincidentemente, três pessoas vieram conversar comigo na última semana, as três com questões sérias sobre o que fazer da vida, como se a vida já estivesse decidida. Longe de mim ser coach ou escritor de autoajuda - quem me conhece sabe o quanto eu detesto esses eventos de coaching, superação, mind training e afins -, mas eu tenho a impressão de que a mesma ideia que eu tinha nos meus vinte continua infernizando a mente de quem tem vinte nos dias de hoje. Eu achava que precisava me formar o quanto antes porque só assim eu teria as oportunidades de crescer profissionalmente, galgar posições, ganhar dinheiro, conquistar o mundo. De certa forma, essa premência da vida moderna impõe um peso gigantesco de atingir o sucesso antes do outro, de competir em todos os empreendimentos da vida, de medir a carreira como se fosse a coisa mais absurda do mundo chegar aos 40 e precisar começar de novo. Enfim, tive a oportunidade de contar minha experiência com a “regra dos cinco anos” para essas três pessoas amigas e, por conta de suas reações, acredito que lhes tenha adicionado algo positivo no arsenal de ideias com o qual pretendem enfrentar suas situações particulares.

Assim, para você que está em dúvida sobre começar um negócio, ter mais um filho, mudar de país, trocar de carreira, sugiro que gaste um pouco de tempo refletindo sobre os próximos cinco anos. É muito provável que você tenha tempo de sobra para fazer tudo isso que pensou e muito mais. Quando chegarmos a 2025, me conte como foi.

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