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As eleições americanas ainda não acabaram. A imprensa fez parecer que sim, mas o resultado continua indeterminado.
Quando as grandes redes de mídia americanas fazem um “call”, elas estão na verdade dizendo que, em vista dos votos apurados, do histórico de cada estado, das pesquisas e do conhecimento de seus analistas, é muitíssimo provável que aquele resultado venha a ser ratificado pelas urnas após a apuração do último voto. E por que elas fazem isso? Pelo simples fato de o resultado oficial não estar disponível de imediato; na verdade, os estados têm até o dia 8 de dezembro para enviar o resultado final e definitivo, para que os membros do Colégio Eleitoral possam votar no dia 14 e, somente então, sabermos com certeza absoluta quem será o presidente dos Estados Unidos de 2021 até 2024.
Nesta eleição, ao contrário das últimas três, as margens em estados-chave estão muito apertadas, e podem facilmente ser mudadas no caso de uma contestação judicial, de uma recontagem ou mesmo da supressão de votos irregulares. Neste artigo quero listar algumas possibilidades que se mostram mais prováveis com base nas informações que a campanha de Donald Trump tem publicado nas redes sociais.
Há acusações de votos fraudados de quatro maneiras distintas: pessoas mortas que tiveram seus votos contados; pessoas que não moram mais em um determinado estado, mas que votaram como se ainda morassem (e, em vários casos, também votaram no estado onde moram atualmente); pessoas que não têm direito a votar (como residentes permanentes que ainda não se naturalizaram), mas cujos votos foram computados; e pessoas que supostamente enviaram seus votos por correio, mas sem assinatura ou com assinatura forjada.
Quando Al Gore pediu recontagem na Flórida em 2000, a imprensa toda ficou em espera e não houve o clima de “já ganhou” que estamos vendo agora. Não houve também acusações de golpe nem de ameaça à democracia
Os estados em disputa são Pensilvânia, Geórgia, Michigan, Wisconsin, Nevada e Arizona. Vamos a um breve resumo do que está sendo feito em cada um deles.
Pensilvânia (20 votos no colégio eleitoral): o estado mais importante dessa eleição, tanto que a imprensa só considerou Joe Biden como vencedor depois que a contagem nesse estado foi dada como certa para ele. Não é coincidência, portanto, que a equipe de Trump esteja focada nessa batalha. Os republicanos dizem ter provas de que inúmeras seções de contagem negaram acesso aos fiscais do partido, e que, portanto, os votos contados nesses locais precisam ser todos recontados na presença de fiscais de ambos os partidos. Trump também entrou com um processo na corte federal da Pensilvânia buscando uma injunção que impeça os oficiais do estado de certificar os resultados da eleição (aquilo que os estados têm até dia 8 de dezembro para fazer).
Geórgia (16 votos no Colégio Eleitoral): com a apuração ainda em andamento e o estado em aberto, a diferença de apenas 0,25% de Biden para Trump significa um pedido quase certo de recontagem de votos. Embora Biden não precise da Geórgia para manter sua vitória, Trump depende dela se conseguir virar a Pensilvânia.
Michigan (16 votos no Colégio Eleitoral): a campanha de Trump entrou com processo para tentar impedir que a cidade de Detroit tivesse seus resultados certificados, mas o juiz Timothy Kenny negou o pedido. Ainda parece indefinido se Trump tentará levar as alegações referentes a esse estado para a Suprema Corte federal.
Wisconsin (10 votos no Colégio Eleitoral): devido à pequena diferença de votos entre os dois candidatos (menos de 1%), a campanha de Trump já disse que deve pedir recontagem nesse estado também.
Nevada (6 votos no Colégio Eleitoral): Trump já entrou com dois processos nesse estado, sendo que um deles foi negado e o outro resultou em um acordo para que os fiscais de partido tivessem um acesso melhor à contagem de votos, que ainda não terminou. A diferença entre os candidatos é pequena no momento, de apenas 35 mil votos, e a apuração não foi finalizada.
Arizona (11 votos no Colégio Eleitoral): o estado que foi dado como vitória de Biden logo nas primeiras horas de apuração, pela Fox News, é no momento o mais incerto em termos de resultado. As apurações continuam, e Trump está a apenas 15 mil votos de Biden, menos de 0,5% de diferença. Se der Trump e houver reversão na Pensilvânia, é certo que Biden pedirá recontagem. Se der Biden, Trump pedirá recontagem.
Em resumo, a eleição continua sem resultado, por mais que a imprensa tente impor a narrativa de que Biden já é o presidente eleito. Vinte anos atrás, quando Al Gore pediu recontagem e adiou a definição do vencedor por mais de um mês, a imprensa toda ficou em espera e não houve o clima de “já ganhou” que estamos vendo agora. Não houve também acusações de golpe nem de ameaça à democracia. Tudo dentro do esperado – infelizmente –, já que a grande imprensa age de acordo com o mote “aos democratas, tudo; aos republicanos, a lei”.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos