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Neste penúltimo artigo antes das eleições americanas, quero falar um pouco sobre as disputas na Câmara e no Senado. Pelas razões que já elenquei nos dois artigos anteriores, e na ausência de mudanças substanciais no momento das campanhas de Trump e Biden nos últimos sete dias, entro na reta final com o palpite de que Trump ganhará no Colégio Eleitoral e será reeleito. Mas e o Legislativo federal? Como pode ficar? Quais são as chances de mudança nas maiorias?
Senado
Há 35 vagas no Senado em disputa nessas eleições (um terço das cadeiras). São 12 assentos democratas e 23 assentos republicanos. Em 2014, logo que me mudei para os Estados Unidos, os republicanos viraram nove assentos. Por essa razão, eles têm muito mais a defender em 2020.
Das 35 disputas, pode-se dizer que 19 devem permanecer como estão. São elas: Idaho (R), Wyoming (R), Dakota do Sul (R), Nebraska (R), Oklahoma (R), Alaska (R), Arkansas (R), Louisiana (R), Mississippi (R), Tennessee (R), West Virginia (R), Novo México (D), Massachusetts (D), Virgínia (D), New Jersey (D), Illinois (D), Delaware (D), Rhode Island (D) e Oregon (D). Em todos esses estados, se considerarmos as margens de vitória em 2014, o histórico do assento e as pesquisas de opinião deste ano, parece correto dizer que não deve haver mudança de cor.
A batalha pela maioria do Senado, portanto, está concentrada nos seguintes estados (entre parênteses o ocupante que busca reeleição e seu partido): Montana (Steve Daines – R), Colorado (Cory Gardner – R), Arizona (Martha McSally – R), Texas (John Cornyn – R), Kansas (Pat Roberts – R), Iowa (Joni Ernst – R), Kentucky (Mitch McConnell – R), Georgia (David Perdue – R e Kelly Loeffler – R), Carolina do Sul (Lindsey Graham – R), Carolina do Norte (Thom Tillis – R), Maine (Susan Collins – R), Michigan (Gary Peters – D), Minnesota (Tina Smith – D), New Hampshire (Jeanne Shaheen – D) e Alabama (Doug Jones – D). Esses 19 assentos foram conquistados com margens e dentro de históricos que não permitem apontar vitória a nenhum lado. São disputas em andamento. Ainda assim, apenas sete deles consistem em corridas mais apertadas, com possibilidade real de virada. São eles:
Alabama: Doug Jones (D) defende um assento em um estado que votou majoritariamente em Trump quatro anos atrás. As chances de reeleição de Jones são consideradas pequenas. Ele venceu a eleição especial para essa vaga, em 2017, com apenas 1,7% de vantagem sobre Roy Moore, que enfrentou uma acusação de conduta sexual inapropriada a poucos dias do pleito. Além disso, Trump ganhou com quase 30 pontos de vantagem no estado em 2016. Espera-se que Tommy Tuberville, que venceu facilmente as primárias em cima de Jeff Sessions (ex-procurador geral da república) seja eleito e vire o assento para vermelho.
Os republicanos têm hoje 53 senadores. Para perderem a maioria, os democratas precisariam virar quatro assentos. Considero a tarefa bem difícil
Arizona: esta é uma eleição especial, onde Martha McSally (R) disputa com o astronauta Mark Kelly (D) e outros 17 candidatos menores a vaga deixada pelo falecido senador John McCain (R). As pesquisas mais recentes mostram Kelly liderando com 11 pontos à frente de McSally (52% a 41%). Em 2018, McSally disputou a outra vaga do Arizona e perdeu por 2,4% para a democrata Kyrsten Sinema. No mesmo ano, ela assumiu o assento de John McCain por conta da renúncia de Jon Kyl. Por ser uma disputa atípica, com muitas variáveis de difícil análise, esta é uma disputa aberta e sem favoritos.
Colorado: Cory Gardner (R) defende seu assento contra John Hickenlooper (D). Dois fatores apontam para uma vitória de Hickenlooper: Trump perdeu o Colorado por cinco pontos em 2016, e Gardner está oito pontos atrás nas pesquisas mais recentes, embora essa desvantagem já tenha sido maior. Boas chances de virar azul.
Maine: Susan Collins (R) defende seu assento contra Sara Gideon (D). Em 2014, Collins se reelegeu com 67% dos votos. Entretanto, Trump perdeu o Maine por três pontos. As pesquisas mostram Gideon na frente, mas com uma vantagem dentro da margem de erro. Disputa dificílima de se prever, completamente aberta, mas com leve tendência de permanecer vermelho.
Michigan: Gary Peters (D) defende seu assento contra John James (R). Peters venceu em 2014 com 12 pontos à frente do candidato republicano. Em 2016, Trump levou o Michigan por apenas 0,23% sobre Hillary Clinton. As pesquisas mostram Peters dez pontos à frente, mas a margem de erro é de 4,5 pontos. Ou seja, a vantagem pode ser muito pequena. Corrida aberta, com tendência a se manter azul.
Minnesota: Tina Smith (D) defende seu assento contra Jason Lewis (R). Smith venceu em 2014 com 53% dos votos, mas o estado de Minnesota tem mostrado tendência de crescimento no apoio a Trump – ele perdeu para Hillary por apenas 1,5 ponto, enquanto McCain perdeu para Obama, em 2008, por mais de dez pontos. A disputa não é tão aberta quanto outras já citadas, mas Lewis permanece com chances. O mais provável, no entanto, é que o assento permaneça azul.
New Hampshire: Jeanne Shaheen (D) defende seu assento contra Bryant Messner (R). Shaheen foi reeleita em 2014 com pouco mais de 15 mil votos de vantagem sobre o segundo colocado, o equivalente a 3% dos votos. Na eleição de 2016, quando o outro assento do estado foi para disputa, a candidata democrata tirou a reeleição de Kelly Ayotte por apenas 1.017 votos, o equivalente a 0,1%. As vantagens apertadas em ambas as eleições e a performance de Trump no estado em 2016 (perdeu por menos de 0,5%) fazem desta disputa uma incógnita. A tendência apontada por analistas mais experientes na região é de que a vaga permaneça azul.
Se tudo o que eu acho que vai acontecer realmente acontecer, nada mudará. Trump continuará presidente, o Senado continuará republicano e a Câmara continuará democrata
Resumindo, os republicanos têm hoje 53 assentos. Para perderem a maioria, os democratas precisariam virar quatro assentos. Considero a tarefa bem difícil e, por isso, entendo que o Senado deva permanecer nas mãos do Partido Republicano.
Câmara de Representantes
Atualmente, o Partido Democrata tem 232 dos 430 assentos com direito a voto. Republicanos têm 197 e o Partido Libertário possui um. A maioria democrata foi conquistada em 2018, quando 36 cadeiras mudaram de lado.
Em 2020, 41 das 435 disputas têm potencial para mudar de lado, sendo 20 atualmente com republicanos, 20 com democratas e uma dos libertários. Pela quantidade muito maior de casos que no Senado, não farei uma análise individual de cada corrida. No entanto, pode-se dizer que o Congresso tem chances de virar vermelho, porém substancialmente mais chances de permanecer azul. Minha opinião pessoal é de que a diferença entre as bancadas diminuirá, mas continuará com maioria democrata.
Se tudo o que eu acho que vai acontecer realmente acontecer, nada mudará. Trump continuará presidente, o Senado continuará vermelho e a Câmara continuará azul. Veremos.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos