Foto: Gilberto Marques/Governo do Estado de São Paulo| Foto:

Águas de São Pedro, 18 de janeiro de 2011. Em virtude de chuvas fortíssimas que atingiram a região, a ponte ligando este pequeno município paulista à cidade de Piracicaba caiu e bloqueou o principal acesso à cidade. Na época, minha família ainda possuía uma casa de campo no município vizinho, São Pedro, e pudemos ver as consequências da queda da ponte com nossos próprios olhos. Águas de São Pedro é uma cidade que vive quase que exclusivamente do turismo, e o incidente aconteceu pouco antes do carnaval daquele ano. A ponte em questão tem cerca de 50 metros de extensão, e na falta dela as pessoas tinham de dar uma volta gigantesca para concluir qualquer viagem vindo ou indo a Piracicaba. Em outras palavras, sem a ponte o carnaval seria certamente muito pior em termos econômicos. Esse medo dos comerciantes e empresários locais tornou-se realidade, pois a dita cuja seria reconstruída somente em julho daquele ano, ou seja, cinco meses depois. Nesse ínterim, foi improvisada uma ponte de madeira, com apenas uma pista, que gerava filas quilométricas de veículos em fins de semana e não permitia a passagem de nenhum caminhão; todos os carregamentos comerciais tinham de ser feitos utilizando a rota alternativa, dezenas de quilômetros mais longa.

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Ocoee, 14 de novembro de 2017. Depois de uma semana de avisos, tanto através de placas no local como nos perfis de Facebook e Twitter da polícia local, a principal avenida desta pequena cidade da Flórida é interditada por completo, fazendo com que os moradores de pelo menos dez comunidades ao norte da interdição tenham de dar uma volta de cinco quilômetros para percorrer um trajeto que normalmente não passaria de 500 metros. O motivo: a linha férrea que atravessa a avenida estava afundando, e seria necessário reconstruir um trecho de cerca de 30 metros de comprimento. De acordo com a polícia local, a interdição duraria do dia 14 ao dia 17, e os moradores da área deveriam levar isso em consideração ao calcular o tempo de trânsito para seus compromissos. Por morarmos na área afetada, descobrimos logo na manhã do dia 14 que aquela obra nos custaria 20 minutos a mais cada vez que quiséssemos sair de casa. Depois da quarta vez fazendo o desvio no mesmo dia, já estávamos naturalmente amaldiçoando a prefeitura, a companhia ferroviária e todos os envolvidos. No fim da tarde, na última passagem pela região das obras, pude ver o tamanho da encrenca: os caras tinham cavado uma vala de pelo menos dois metros de profundidade que atravessava as cinco pistas da avenida e o canteiro central, e estavam começando a preencher o superburaco com a nova base para a linha férrea. Na manhã seguinte, segundo dia de interdição, saí 20 minutos mais cedo que o normal para levar meu filho à escolinha, e fiz todo o desvio. Chegando ao ponto da interdição, constatei, estupefato, que a obra já tinha sido concluída. Provavelmente a equipe trabalhou por toda a madrugada e entregou a avenida em perfeito estado, melhor do que era, antes do amanhecer.

Por que as coisas são tão difíceis no Brasil? Por que uma ponte de apenas 50 metros de extensão levou cinco longos meses para ser construída, penalizando a economia de uma cidade toda? Como explicar esse tipo de demora numa época em que chineses constroem prédios de mais de 50 andares em menos de um mês? Se existe uma explicação, ela certamente passa pelo fato de o Brasil ser um dos campeões mundiais de burocracia. Esse subproduto do agigantamento do Estado está presente em praticamente todas as interações econômicas brasileiras, desde a venda de um pãozinho na padaria até a construção de uma ponte. No Brasil, nada se faz de primeira; há sempre mais uma guia a ser preenchida, mais uma autorização a ser conseguida, mais uma propina a ser paga. A infinidade de exigências e regulações é uma terra adubada, na qual as ervas daninhas da corrupção multiplicam-se muito mais rapidamente que as flores do crescimento econômico verdadeiro. Se fôssemos capazes de injetar a riqueza gerada pela iniciativa privada sem perder metade ou mais nos ralos da burocracia governamental, certamente teríamos milhões de empregos a mais e um crescimento econômico digno de um país com o nosso tamanho e potencial. E certamente faríamos pontes de 50 metros em menos de cinco meses.

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