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Flavio Quintela

Flavio Quintela

Fechando o ano

(Foto: eliza28diamonds/Pixabay)

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Antes de mais nada, quero agradecer a todos os leitores desta coluna. A vocês, que me acompanharam neste difícil ano – quebrou a cara quem achava que 2021 seria um alívio de 2020 –, meu muito obrigado. Até mesmo aos raivosos, que fazem questão de deixar suas ofensas. Tem sido muito bom dividir o que penso com vocês e saber o que vocês pensam sobre os assuntos que abordo por aqui. Sim, eu leio seus comentários, todos eles, ainda que minha política profissional de conduta seja a de jamais respondê-los, já que este não é um espaço de discussão pública.

Enfim, cada um faz o que quer e o que consegue com os fatos e informações que recebe durante a vida. Tem gente que os apreende e, por conta disso, aprende. Tem gente que os apreende e decide ignorá-los, pois não corroboram sua visão de mundo ou seu entendimento do estado de coisas. E tem gente que não consegue apreender nada, que dirá aprender algo. O ano que hoje termina me ensinou coisas. Como esta é uma coluna de opinião, nada mais apropriado que falar sobre as coisas que eu apreendi e aprendi. Algumas pessoas terão conclusões diferentes, algumas vezes diametralmente opostas, sobre os mesmos fatos e informações a que me referirei nos parágrafos seguintes; muitas delas, dada a ultrapolarização que permeia nossa vida na atualidade, me classificarão com adjetivos que um dia já foram reservados somente a criminosos e párias da sociedade, mas que hoje transitam nas bocas de tanta gente, prontos a ser aplicados a qualquer um que ouse ter uma opinião diferente. Outras pessoas terão conclusões semelhantes; muitas delas, devido à mesma ultrapolarização que mencionei, me considerarão membro de seu grupo, parceiro de luta política e defensor dos seus valores. Há um terceiro grupo, no entanto, que fará o certo: entenderá que as diferenças ou semelhanças entre suas opiniões e as minhas fazem parte de uma coisa maior conhecida como liberdade de expressão e também de suas crias – o direito ao contraditório, o respeito ao próximo e a pluralidade de ideias. A vocês eu dedico este artigo.

Em 2021, dois presidentes afetaram minha vida de forma significativa. Jair Bolsonaro, por presidir o meu país de origem, país onde moram muitas pessoas que amo e por cujas vidas me importo sobremaneira; e Joe Biden, por presidir o país em que vivo com minha família e com outras pessoas que vim a conhecer e amar nos últimos anos.

Continuo achando Jair Bolsonaro um político ignorante, incompetente e incapaz de justificar os votos da maciça parcela de brasileiros que o elegeram por acharem que ele representava o conservadorismo e os valores judaico-cristãos. Continuo achando que ele presta um desserviço à direita política e que sua atuação na presidência tem chances de trazer o PT de volta ao poder, ressuscitando o que houve de pior na política brasileira. Continuo achando que ele está muito mais – muito mais mesmo – para político ordinário que extraordinário, e que sua motivação principal, como tal, não passa de mera sobrevivência e ação voltada a interesses próprios.

Apesar de tudo isso, não posso fazer coro com a grande imprensa brasileira e com seus papagaios de redes sociais. Jair Bolsonaro não é a personificação do mal, não é um sujeito diabólico, não é alguém que tem prazer na morte das pessoas, não é o pior presidente da história do Brasil e certamente não é um genocida. E, infelizmente, são só essas coisas que são divulgadas dia após dia pelos jornais e noticiários que odeiam o presidente da república como nunca odiaram alguém na história do Brasil. No final das contas, Jair Bolsonaro foi uma opção, ao mesmo tempo única e ruim, que os brasileiros tiveram para se livrar de uma sequência de governos profundamente corruptos e comprometidos com uma agenda ideológica que só tem ressonância entre as elites da esquerda brasileira, sejam elas artísticas, econômicas ou intelectuais. Fosse ele um sujeito preparado, competente e menos falastrão, e seu governo entraria para a história como um dos melhores; sua reeleição seria certa e ele ainda faria um sucessor. Infelizmente, ele não é nada disso. Pobre Brasil.

Mas, e Joe Biden?

Confesso que tinha expectativas ruins para com o atual presidente norte-americano, que tomou posse em janeiro deste ano. Mas ele as superou com folga. Sua atuação na desastrosa retirada das tropas americanas do Afeganistão foi talvez a maior de muitas surpresas negativas. Até o dia de hoje, por mais que a grande imprensa se recuse a noticiar, pessoas sofrem as consequências da extrema incompetência de Biden. O que ele fez entrará para a história como um dos piores momentos da política externa americana em toda a sua história.

Mas teve mais. Biden conseguiu duplicar o preço dos combustíveis no país com sua sabotagem ao oleoduto Keystone XL, cancelando sua construção logo no segundo dia de mandato. Além disso, sempre usando a agenda da crise climática como coringa, ele suspendeu a concessão de novas autorizações para a prospecção de gás e petróleo em todas as terras federais e prometeu banir novas operações de fracking. Na tentativa de protegê-lo, grande parte da imprensa martelou chamadas enganosas com foco no preço internacional do petróleo, como se fosse esse o problema. Em outubro deste ano, quando o preço do barril encostou na marca de US$ 85, as redações correram para dizer que era a maior alta dos últimos oito anos. O que elas não disseram é que há apenas três anos, em 2018, o mesmo barril chegou a ser vendido por quase US$ 80, mas isso não causou um estouro de preço nas bombas. Obviamente que não diriam isso, já que Donald Trump era presidente nessa época, e durante seu mandato o setor de energia cresceu como nunca nos Estados Unidos.

E não acabou. Tivemos e ainda temos crise de logística, inflação em alta, criminalidade em alta, incompetência e descaso nas agências federais, e inação em casos e mais casos onde um presidente forte - e não um débil e acuado - faria toda a diferença. E, para completar a “bananização” do atual governo, os envios mensais de cheques para quem tem filhos vem gerando uma crise nacional de empregabilidade; quem mora aqui vê a quantidade de postos de trabalho mais simples que permanecem vagos e com placas de “Estamos Contratando” eternamente dispostas do lado de fora dos estabelecimentos, e bastam algumas conversas com os gerentes ou donos desses lugares para entender que as pessoas têm preferido ficar em casa a sair para trabalhar.

Assim, termino 2021 com a esperança de que 2022 trará coisas melhores. E também algumas piores. Prevejo um desastre eleitoral para os democratas nas midterms, uma reeleição fácil para Ron DeSantis na Flórida, uma eleição dificílima para Bolsonaro – inclusive com chances reais de devolver a faixa presidencial a Lula –, um declínio da histeria pandêmica, um aprofundamento da polarização política, um enfraquecimento ainda maior dos Estados Unidos na política internacional, e mais um ano de glória para o meu amado Palmeiras.

Feliz Ano Novo!!! Que Deus nos abençoe e nos ajude. Nos vemos em 2022.

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