O psicólogo Jordan Peterson em evento de 2018, na Flórida.| Foto: Flickr/Gage Skidmore
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Ultimamente eu tenho visto muitos vídeos do Jordan Peterson. Eu admiro demais a capacidade que ele tem de falar sobre assuntos ligados à política ao mesmo tempo em que passa ensinamentos sobre o comportamento humano. O homem é fenomenal. Na semana que passou, as duas frases que mais me impactaram nos trechos de entrevistas a que assisti foram as seguintes: “Se você tiver humildade suficiente para colocar seu alvo em posição adequadamente baixa, então você poderá ser, amanhã, melhor do que é hoje” e “Você precisa ser um monstro. E, então, precisa aprender a controlar o monstro”. Gostaria de falar um pouco sobre elas e sobre o impacto que tiveram sobre minha vida nos últimos dias.

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Profissionalmente, minha principal fonte de renda na atualidade está atrelada à atividade de vendas. Quem já trabalhou em vendas sabe que os mantras de sucesso fazem parte da caixa de ferramentas que gerentes de equipes usam para turbinar seus subordinados. O problema que eles enfrentam, no entanto, reside no fato de que pouquíssimas pessoas são capazes de apreender todo o significado de uma simples frase de forma que ela passe a gerar uma mudança verdadeira de atitude e comportamento, resultando em melhora de desempenho profissional. É o mesmo fenômeno que ocorre naqueles encontros anuais das empresas, onde palestrantes motivacionais colocam todo mundo em ponto de ebulição, a turma sai com a faca nos dentes – com o sentimento de invencibilidade – somente para, poucos dias depois, voltar à mesmíssima situação pré-encontro.

Por mais difícil que seja na era das redes sociais – principalmente na era do Instagram, onde todo mundo é lindo e feliz o tempo todo –, Jordan Peterson nos admoesta a jamais usar o aparente sucesso do outro como parâmetro para as nossas vidas

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Mudar é difícil demais. Simples assim. Mas não é impossível.

A grande sacada do Jordan Peterson na primeira frase é o posicionamento do alvo. Antes de prosseguir, no entanto, vale trazer à mente o contexto em que ele falou isso. Na entrevista, ele falava justamente de uma das suas regras para a vida, que é de nunca se comparar a outra pessoa, mas somente a si mesmo no passado. Por mais difícil que seja na era das redes sociais – principalmente na era do Instagram, onde todo mundo é lindo e feliz o tempo todo –, ele nos admoesta a jamais usar o aparente sucesso do outro como parâmetro para as nossas vidas. Em um exemplo, ele diz que o homem que você acabou de ver passando em um Porsche conversível – e que por isso foi considerado por você como um modelo de sucesso – pode muito bem estar pensando em acelerar com tudo até se espatifar no próximo poste. Jamais sabemos o que o outro passa. Só sabemos o que nós mesmos passamos. Como diz Ortega y Gasset, nós somos nós e nossas circunstâncias.

Mas, voltando, o ponto-chave aqui é saber posicionar o alvo. O sujeito com problemas na área de alcoolismo não pode ter como objetivo imediato o de nunca mais beber na vida. Ele precisa começar com um dia sem beber, talvez menos ainda, algumas horas. É ótimo que a pessoa sedentária olhe para um halterofilista e deseje ter um corpo parecido, mas, se ela não começar com um alvo bem mais baixo – algo como se exercitar uma vez por semana de forma regular, por exemplo –, ela jamais fará progresso. Para colocar o alvo em posição adequadamente baixa, há de se ter humildade. A humildade nos leva a reconhecer nossos limites, nossa falibilidade e nossas fraquezas. Seres humanos conquistam vitórias em etapas, jamais em passos largos. Tanto é que a maioria dos ganhadores de loteria acaba gastando rapidamente seus prêmios. Eles não estão equipados para lidar com um salto tão grande em determinada área de suas vidas.

Uma vez no caminho da melhora, entra a segunda etapa. Tenho de ser um monstro. Contrariamente ao que a modernidade prega, aquela coisa woke de “masculinidade tóxica” e “lugar seguro”, sem monstros não evoluímos como sociedade. São os monstros que vão atrás, que fazem acontecer, que superam limites, que não temem o confronto, que sabem comunicar suas ideias, que mudam paradigmas, que transformam o mundo. Mas monstros são perigosos, é claro. Monstros são assustadores. E é justamente por isso que cada um deve domar o monstro dentro de si. Torne-se um monstro e depois aprenda a ser monstro somente quando a vida exige.

Sei que este texto ficou parecendo coisa de coaching. Perdão por isso. Eu não gosto dessas coisas de coaching (perdão aos coaches que estão me lendo nesse momento). Eu não gosto do motivacional temporário, do inflamar da alma, da empolgação passageira. Minha meta é ser melhor – melhor marido, melhor pai, melhor filho, melhor profissional, melhor ser humano. Para isso, tenho buscado coisas perenes, pois as passageiras são mais prejudiciais que benéficas. São como a excitação das drogas, que vem em forma de turbilhão, tsunami de emoções, mas que deixa para trás uma terra devastada, emoções em depressão. A mudança gradual é a verdadeira mudança. E Jordan Peterson, para mim, é o cara nesse assunto. Se você ainda não o conhece, fica a sugestão. Se conhece, vale a pena ver de novo.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]