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A nova onda entre artistas e jornalistas brasileiros, a menos de duas semanas do primeiro turno, é enaltecer Lula como a decência e honestidade encarnadas contra o grande demônio que busca a reeleição. Até aí, nada de novo sob o sol. Opinião de artista é daquelas coisas para as quais a gente não deve dar uma sinapse sequer de atenção. A tragicidade do momento vem justamente de gente que jamais votou no PT e que agora faz coro com a turma do Projac por mera questão de estética, para não parecer um alienígena no meio da beautiful people brasileira.
Jair Bolsonaro é um cara tosco. Ele tem uma dificuldade de não falar besteira que beira os limites do aceitável. É bem provável que ele tenha colocado grana de rachadinha no bolso, e não duvido que tenha praticado outros atos de honestidade duvidável em sua longa carreira política. Sim, seria muito difícil votar em Bolsonaro se a escolha fosse entre ele ou alguém bem melhor que ele. Só que não é assim. É ele ou Lula.
Bolsonaro está longe de ser um bom candidato. Mas política é a arte do possível. E, no momento, o possível é esse sujeito que está governando
Bolsonaro não matou centenas de milhares de pessoas porque deixou de usar máscara ou porque disse que não se vacinaria. Por conseguinte, ele não é genocida, como enchem a boca para dizer. Mas a grande imprensa vai manter essa pauta até o dia da posse do presidente eleito, no mínimo. Falam de levar Bolsonaro a Haia, dizem que ele foi o pior presidente da história do Brasil.
O fato é que ele não foi. Teve muita gente pior. Consideradas as condições horrorosas que nos acometeram em 2020, ele até que foi bem. “Mas, Flavio, e o episódio de Manaus? Você não se comove com as pessoas se afogando no seco?” Confesso que foi justamente o estudo mais minucioso desse episódio que me fez duvidar cada vez mais do que sai na imprensa brasileira. Depois de ter acesso a alguém que participou da operação de transporte urgente de oxigênio líquido feita pela Força Aérea e de ter ouvido sobre a complexidade desse tipo de transporte, eu percebi que a grande imprensa não só mente. Mente compulsivamente.
Por menos que eu goste de Bolsonaro, para mim é inadmissível que alguém como Lula seja eleito novamente presidente do Brasil. Não faz sentido sob nenhuma condição. Querem colocar um sujeito que zombou das instituições democráticas, que comprou votos no maior esquema de corrupção que este planeta já viu, no comando da nação.
Comigo, não. Eu vivi sob os governos do Lula. E sob os de Dilma. Essa turma é vingativa. Jamais perdoará o que chamam até hoje de “golpe” para tirar a Presidência do PT. Não deixarão pedra sobre pedra se retomarem o poder. Será um momento de escuridão profunda para o nosso país. E a única coisa engraçada em tudo isso será ver o partido mastigando e cuspindo os apoiadores de última hora, aqueles que sempre bateram no partido e em Lula, mas agora acham que até ele é melhor que o capitão sem noção. Alguns votarão 13 por vergonha, outros por ignorância. Mas há alguns que o farão pelo motivo mais torpe possível: apenas para não colocar em risco o emprego que têm, que exige deles uma dedicação fora do comum ao puxassaquismo e à vassalagem política.
Bolsonaro está longe de ser um bom candidato. Mas política é a arte do possível. E, no momento, o possível é esse sujeito que está governando.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos