Foto: Daniel Castellano/Arquivo Gazeta do Povo| Foto:

Nas duas semanas em que estive de férias desta coluna, muitas coisas marcantes aconteceram. Para mim, é claro, a mais marcante foi o nascimento da minha pequena Eleanor. Mãe e filha passam bem, por sinal. Mas, infelizmente, outro fato marcou a Flórida e os Estados Unidos de uma forma muito negativa. O atentado que vitimou 17 pessoas na escola Marjory Stoneman Douglas trouxe à tona, mais uma vez, o debate sobre armas de fogo.

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Antes de entrar no assunto em si e deixar a minha opinião, preciso registrar minha perplexidade com a audácia dos “especialistas em segurança pública” brasileiros que nos presentearam com suas análises feitas justamente de dentro do país que mata 60 mil pessoas todos os anos, mesmo tendo uma das legislações mais restritivas do mundo em relação à posse e ao porte de armas de fogo. O fenômeno é tão absurdo quanto chamar o ministro da Saúde de Botsuana, país africano com mais de 20% da população contaminada pelo vírus da Aids, para palestrar sobre maneiras efetivas de se tratar uma epidemia dessa doença.

Mas voltemos ao caso. Como era de se esperar, a esquerda americana quer fazer do atentado um gatilho para aprovar novas medidas restritivas ao armamento de civis. E, como sempre, agindo com base em mentiras, ocultação de informações, estatísticas falsas e análises falaciosas. Se eu pudesse, falaria em cadeia nacional a todos os americanos, e lhes contaria o que acontece a um país que desarma seus cidadãos. Na falta de tal recurso, deixarei registradas neste espaço algumas verdades que grande parte da imprensa brasileira e internacional não quer publicar.

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1. Novamente, o ataque aconteceu em uma zona livre de armas. Como toda pessoa com um mínimo de raciocínio lógico, o criminoso escolheu um alvo fácil, cuja resistência armada é literalmente inexistente. Será que é tão difícil assim entender que a polícia nunca chegará a tempo de evitar mortes? Estivessem alguns professores e funcionários armados, talvez a tragédia tivesse sido evitada por completo; no mínimo, o número de mortes seria substancialmente menor;

2. Proibir o comércio de armas “de assalto”, como a mídia de esquerda gosta de chamar os fuzis, não resolve. Como eu sei disso? Porque eles já foram proibidos nos EUA, em tempos recentes, e a medida não alterou em nada os índices de criminalidade e nem o número de ocorrências envolvendo fuzis. Mais do que isso, eu sou brasileiro e sei que na minha terra natal, onde comprar um AR-15 não passa de um sonho impossível a qualquer cidadão de bem, os criminosos possuem não só esse tipo de armamento, mas também coisas bem mais pesadas, de uso exclusivo do Exército. Resumindo: bandidos não respeitam proibições;

3. Possuir um AR-15 pode não fazer sentido quando se pensa em defesa pessoal contra criminosos, mas faz todo o sentido quando o objetivo é se defender contra um eventual governo despótico. Por mais avançado e pesado que seja o armamento das Forças Armadas americanas, a quantidade de cidadãos que têm em mãos fuzis e outras armas de grande poder de fogo é mais que suficiente para frear o ânimo de governantes inclinados ao autoritarismo. Prova disso é que os maiores ditadores da história promoveram o desarmamento da população antes de seus golpes. Mais claro que isso, só desenhando;

4. Prevenção com inteligência é primordial para evitar tragédias como a da Flórida. A polícia local e o FBI ignoraram todas as pistas que apontavam para esse ataque hediondo. O atirador deixou rastros de seus planos por toda parte, que foram ignorados pela força policial local. O xerife do condado de Broward, Scott Israel, tentou e continua tentando jogar a culpa na NRA, nos republicanos, nas armas e em sabe-se lá mais o quê, mas o fato é que foi a força policial que ele comanda que agiu de forma irresponsável, incompetente e amadora;

5. As estatísticas que os desarmamentistas usam para tentar empurrar sua agenda jamais mencionam que a maior parte das mortes por armas de fogo acontece justamente em locais onde as restrições à compra, posse e porte de armas são mais rígidas; em contrapartida, os estados em que as leis são mais frouxas exibem os melhores índices de segurança. Novamente, essas pessoas advogam uma “solução” comprovadamente ineficaz, e a vendem através de uma imprensa cheia de viés e ideologia. Se restringir a posse e o porte de armas fosse bom, Chicago, Filadélfia e Washington, cidades governadas há tempos pelos democratas e com leis extremamente restritivas ao armamento de civis, não estariam entre as mais violentas do país; e a Califórnia seria o paraíso na Terra.

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Enfim, o assunto é longo – o suficiente para eu ter escrito um livro inteiro sobre ele – e a discussão pública é sempre muito rasa e levada por sentimentos momentâneos e fatores circunstanciais. E esse é o tipo mais perigoso de abordagem, pois pode levar à perda de liberdades importantes, conquistadas com dificuldades nos últimos séculos. Por mais dolorosa que seja a perda desses pais, e eu só consigo imaginar essa dor terrível, nada mudará o fato de que a única coisa que poderia tê-los salvo seriam armas nas mãos de seus professores, diretores e agentes educacionais. O técnico de futebol da escola, Chris Hixon, que salvou a vida de alguns estudantes ao colocar seu corpo como escudo e dar a vida por isso, poderia ter feito muito mais se tivesse uma arma em suas mãos; poderia ter dado cabo do atacante e evitado a tragédia. A realidade é dura e terrível para os pais que enterraram seus filhos, mas a culpa não é das armas, e sim de uma política irresponsável que deixou as escolas americanas à mercê de loucos e doentes mentais. É hora de acabar com as zonas livres de armas e mostrar a esses psicopatas que temos o poder de fogo ao nosso lado também.