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O pão da liberdade

Foto: Pixabay (Foto: )

Três meses atrás, renovei minha membresia com a NRA, National Rifle Association. Eles sempre oferecem um presentinho para quem renova, e neste ano eu escolhi uma bela faca de bolso, essa aí da foto. No formulário de renovação estava escrito que o presente seria enviado 30 dias após a efetivação do pagamento. Trinta dias se passaram e nada de faquinha. Em seu lugar, recebi uma carta assinada pelo presidente da organização explicando que, devido ao grande número de adesões e renovações, as facas tinham acabado. Depois de pedir desculpas, ele prometia enviar meu presente o quanto antes, assim que um novo carregamento chegasse da fábrica.

Foto: Imagem cedida pelo autor.

Como é possível que a NRA, maior associação de atiradores e defensores do direito à defesa armada do mundo, tenha um pico de adesões e renovações bem no meio de um turbilhão de acontecimentos descritos pela grande imprensa como catalisadores de mudanças na regulação da compra e posse de armas de fogo nos Estados Unidos? Como é possível que esse pico ocorra logo depois do massacre da escola em Parkland, onde pereceram 17 inocentes e do qual surgiu a figura obnóxia de David Hogg, antigo estudante da referida escola e atual fantoche político da esquerda americana a serviço da agenda desarmamentista? São dois os motivos, basicamente.

Em primeiro lugar, temos a falência da grande imprensa e sua capacidade infindável de produzir notícias falsas e narrativas politicamente comprometidas. Enquanto o pequeno führer Hogg ganhava espaço em todos os noticiários e portais da grande imprensa, o estudante Kyle Kashuv tinha participações e entrevistas negadas por CNN et caterva, tendo de recorrer às mídias sociais para mostrar que nem todo sobrevivente de Parkland é automaticamente um defensor do desarmamento, muito pelo contrário. O próprio fato de organizações como CNN, CBS e NBC catapultarem Hogg à condição de porta-voz das vítimas e recusarem sistematicamente a promoção ao debate de ideias vai de encontro ao sentimento natural da grande maioria dos americanos. Pode parecer factível a um brasileiro, por exemplo, que Hogg represente o pensamento corrente após uma tragédia desse tipo; ao americano médio, porém, ela soa extremamente falsa e fabricada. Não fosse assim, leis como a HB1097, que permite o porte de arma aos professores da Flórida, não teriam sido aprovadas inclusive com apoio bipartidário – atos políticos, especialmente na esfera estadual americana, costumam ser uma ótima indicação da direção em que sopram os ventos da vontade popular. A título de confirmação empírica, conversei com diversos pais, professores e funcionários da escolinha em que meu filho está matriculado: todos, sem exceção, defendem o armamento dos professores como primeira medida a ser tomada contra atiradores lunáticos e assassinos. Já ficou bem claro, pelo menos aqui, que mais controle na compra de armas significa apenas mais controle sobre cidadãos de bem, já que o criminoso, por definição, não obedece a leis.

O segundo motivo remete ao anseio original que trouxe os primeiros ingleses à América, o desejo de ser livre, verdadeiramente livre. Por mais que a esquerda tente destruir esse valor, o cuidado que o americano médio tem para com a liberdade é algo louvável, e um dos pilares dessa liberdade é o acesso às armas de fogo, meios de defesa contra bandidos, mas também contra possíveis governos tirânicos que possam tentar se estabelecer. Esse cuidado se manifesta quase como um reflexo entre as muitas pessoas que entendem a importância da Segunda Emenda. Durante o governo Obama, por exemplo, cada vez que o ex-presidente ia a público falar sobre controle de armas, as vendas das mesmas atingiam picos históricos. Na última vez em que fez isso, no início de 2016, as vendas do fuzil AR-15 atingiram 1 milhão de unidades na semana seguinte. Alguns esquerdistas adeptos de teorias conspiratórias chegaram a acusar Obama de ser um agente infiltrado da NRA, tamanha era a resposta dos cidadãos a cada uma de suas falas em favor da restrição e controle das armas: recordes sobre recordes de vendas. Não é surpresa, portanto, que a NRA tenha tido um pico de adesões e renovações logo após os ataques que a organização sofreu nas semanas que se seguiram ao ataque de Parkland. Além de quase toda a grande imprensa americana, empresas como Enterprise, United Airlines, Delta Airlines, Avis, MetLife, Chubb e Symantec cortaram laços e extinguiram descontos que davam a membros da NRA. A ofensiva não poderia ter sido mais desastrosa: além de não ganharem nenhum cliente por conta disso, perderam muitos (inclusive este que vos escreve) e ainda ajudaram a turbinar a membresia da organização – o total de doações no mês de março de 2018 superou a marca de $2,4 milhões, quase três vezes mais que o mesmo mês de 2017. Para colocar uma pedra no assunto, nada menos que 90 mil pessoas compareceram à convenção anual da NRA, realizada no início do mês de maio, em Dallas.

Recorde de público, recorde de arrecadação, recordes de vendas de armas. A Segunda Emenda é o pão que sustenta a liberdade americana. Quanto mais batem, mais cresce.

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