Fachada da Suprema Corte dos Estados Unidos: decisão oficial sobre o aborto no país deve sair dentro de dois meses.| Foto: EFE/EPA/Shawn Thew
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Na campanha presidencial de 2016, Donald Trump disse, durante um debate com Hillary Clinton, que Roe v. Wade poderia ser anulado caso ele conseguisse indicar dois ou três juízes para a Suprema Corte durante seu mandato. Em 31 de janeiro de 2017, Trump anunciou seu indicado para o lugar de Antonin Scalia, falecido quase um ano antes: Neil Gorsuch. O recém-empossado presidente cumpria, com aquele ato, a primeira parte de sua promessa de trabalhar contra o aborto.

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Um ano e meio depois, em 21 de junho de 2018, o juiz Anthony Kennedy anunciou sua aposentadoria e abriu mais uma vaga na Suprema Corte. Rapidamente, Trump indicou Brett Kavanaugh para a vaga. Sua confirmação pelo Senado, no entanto, só viria alguns meses depois, no dia 6 de outubro. O motivo da demora? Uma acusação de tentativa de estupro fabricada contra o indicado de Trump. Trazida por uma mulher que conviveu com Kavanaugh quando ele tinha 17 anos de idade, a história foi usada pela imprensa liberal e pelo Partido Democrata para tentar afundar a indicação que daria maioria garantida aos conservadores na Suprema Corte. Felizmente, ficou evidente a todos que tudo não passara de mentira e armação, e a segunda parte da promessa de Trump estava cumprida.

Em 18 de setembro de 2020, já nos últimos meses do mandato de Trump, morreu a juíza Ruth Bader Ginsburg, da ala liberal da corte. Trump escolheu outra mulher para seu lugar, Amy Coney Barrett; em pouco mais de um mês, ela já estava confirmada pelo Senado. Três juízes conservadores substituindo dois liberais e um conservador. Trump cumpriu sua promessa. Entregou uma Suprema Corte com sólida maioria conservadora, para desespero dos democratas.

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O que estará em jogo no início do segundo semestre é algo grandioso demais para os EUA. O clamor de milhões e milhões de almas inocentes assassinadas nas décadas de vigência de Roe v. Wade ensurdece os ouvidos do Pai Eterno

A última parte da promessa não cabia a Trump. Na verdade, seu cumprimento exigiu o envolvimento de muita gente. Tudo começou no Mississippi, com a lei das 15 semanas. Antes mesmo que Anthony Kennedy anunciasse sua aposentadoria, o governador Phil Bryant promulgou uma lei que proibia qualquer aborto em fetos com 15 semanas ou mais de vida. A lei, é claro, foi contestada por uma clínica ligada à filial do inferno na Terra, a Planned Parenthood. De recurso em recurso, a disputa foi parar na Suprema Corte. Em 1.º de dezembro de 2021, ocorreu a primeira audiência sobre o caso, e a impressão geral é de que a corte votaria em favor do estado do Mississippi, permitindo que a lei se mantivesse válida. Naquele momento, no entanto, não havia muitos indícios da disposição dos juízes de aproveitar o ensejo para anular Roe v. Wade.

A audiência final sobre esse caso está prevista para o fim de junho ou começo de julho deste ano. As discussões internas, no entanto, têm acontecido desde a audiência inicial, como acontece com qualquer caso apreciado pela corte. E essas discussões são conduzidas em sigilo, uma premissa para que as deliberações sejam blindadas do ativismo político e da pressão de grupos de interesse. Sempre foi assim. Até agora.

No início desta semana, a versão preliminar da opinião majoritária da corte sobre a anulação de Roe v. Wade, escrita pelo juiz Samuel Alito, foi vazada para a imprensa, especificamente para o portal Politico. Até o momento, diversas teorias foram criadas para entender o vazamento.

Uns dizem que o responsável foi um conservador, com o intuito de expor os votos a favor da anulação de Roe v. Wade e com isso forçar um “congelamento” dos votos – especialmente o do juiz Kavanaugh, cuja constância no tema tem sido questionada por grupos pró-vida – e garantir que a jurisprudência atual seja soterrada e o assunto torne-se de competência dos estados e suas legislaturas. Outros dizem que o vazamento veio de um liberal com o intuito de pressionar o juiz Roberts, cuja opinião sobre o tema é mais aberta a uma solução intermediária – acabar com Roe v. Wade, porém preservando o direito constitucional ao aborto, o que na prática significaria privar os estados de leis de banimento do aborto –, e assim colocar “lenha na fogueira”, já que a decisão seria por apenas um voto. Outros ainda dizem que o vazamento veio do lado conservador para calibrar as expectativas dos defensores do aborto. Algo do tipo “vamos bater forte agora para que as reações iniciais tenham tempo de desvanecer até o momento da resolução final”. Dessa forma, quando os juízes finalmente se reunirem no início de julho, o assunto já terá passado pelo pico de impacto.

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Qualquer que seja a verdade, se é que ela se encontra dentro das três possibilidades acima, o que estará em jogo no início do segundo semestre é algo grandioso demais para este país. O clamor de milhões e milhões de almas inocentes assassinadas nas décadas de vigência de Roe v. Wade ensurdece os ouvidos do Pai Eterno. Religiosamente falando, eu acredito que a anulação dessa resolução diabólica abrirá uma nova era de prosperidade para os Estados Unidos da América. Como cristão, meu papel tem sido o de orar incessantemente por essa resolução, por um desfecho que proteja as vidas dos bebezinhos. Nenhum impacto político é grande o suficiente para ofuscar o bem que essa anulação trará.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]