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Bolsonaro insultou a esposa do presidente francês, e seus apoiadores na internet defenderam a grosseria.| Foto: Frederico Mellado/ARG

O Brasil, nesses últimos dias, deu prova concreta da loucura que atualmente atinge grande parte da militância política e a parcela mais ideológica da imprensa nacional. Não é fácil acompanhar as notícias e suas repercussões nas mídias sociais e ao mesmo tempo manter a sanidade – é possível, mas não é fácil. Justamente por isso, a polarização e o binarismo se acentuam a cada dia, levando-nos em direção a um futuro indesejável.

A primeira loucura veio com o céu negro em São Paulo. Num piscar de olhos, o que em outros tempos seria apenas um fenômeno climático isolado ganhou explicações para lá de absurdas. Em questão de minutos, diversos jornalistas “investigativos" vieram com uma explicação rasa e sem embasamento técnico para o ocorrido: as queimadas na região amazônica geraram uma quantidade descomunal de fumaça, a qual se deslocou com precisão até a maior capital do Brasil e, chegando lá, causou o escurecimento dos céus por causa de um choque com uma frente fria. A necessidade de conectar um fenômeno momentâneo e sem maior gravidade à política ambiental do governo Bolsonaro expôs muita gente ao ridículo. Como eu disse no Twitter, "acho incrível o domínio que tanta gente parece ter ganho sobre o tema ‘clima’ de uma hora pra outra. Enquanto os meteorologistas continuam errando até mesmo as previsões para o dia seguinte, tem gente cravando certeza em teorias estapafúrdias".

O que se vive hoje, no Brasil, é a concretização do mote “os fins justificam os meios” em toda a extensão do espectro político e ideológico

Passaram-se alguns dias e chegamos a uma outra loucura. Jair Bolsonaro, presidente da República, cria uma nova situação de constrangimento internacional ao endossar uma piadinha idiota que ridiculariza a aparência física de Brigitte Macron, esposa do presidente francês. Condenado com veemência – e com razão – por quase toda a imprensa, o presidente-mito achou conforto, como sempre, em seu séquito de seguidores incondicionais. As justificativas, como de costume, foram as piores. “Foi para isso que votei nele”, disseram os que esperam lacração, e nada mais, do chefe do Executivo. “Ele não mentiu: ela é feia mesmo”, disseram os que acham o máximo ser mal-educado e grosso, como se agir assim fosse a única opção a ser mentiroso ou dissimulado. “Bem feito! Macron se meteu onde não devia”, disseram os que entendem política internacional como um recreio de quinta série.

O amigo Dionisius Amendola, em seu perfil no Twitter, disse hoje: "Esse último fim de semana terminei trocando ideias com um pessoal (não tão) jovem de esquerda. Idealmente, todos preocupados com a democracia brasileira e essas coisas todas... Mas, por trás da preocupação com o autoritarismo bolsonarista, eis lá a admiração a Chávez, Lula, Fidel e todo o pacote autoritário esquerdista. Ao fim e ao cabo, a política no Brasil se resume a isso: ao meu grupinho ideológico tudo, ao resto cabe a submissão ou o silêncio. Pior que esse pessoal (não tão jovem) de esquerda não consegue enxergar o quanto alimenta o mostro que tanto teme. No fim das contas, esses tipos todos se merecem. Pena que é a gente que termina pagando a conta”. Acho que eu não conseguiria resumir o fenômeno com mais precisão. O que se vive hoje, no Brasil, é a concretização do mote “os fins justificam os meios” em toda a extensão do espectro político e ideológico. Olhamos para um lado e para o outro em busca de alguém que busque a virtude, mas só encontramos quem louve os vícios.

Enquanto a esquerda (ou o que se entende por esquerda no Brasil) continuar se afundando na sopa de identitarismo, coletivismo e relativização moral, e a direita (ou o que se entende por direita no Brasil) continuar sua marcha farisaica rumo à vingança suprema e à humilhação de todos os “traidores”, nossa paisagem sociopolítica se mostrará cada vez mais estéril e desolada. Uma pátria de loucos, esse Brasil.

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