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Flavio Quintela

Flavio Quintela

Pesquisas eleitorais

Vexame – de novo

aliados de bolsonaro
Candidato à reeleição, Jair Bolsonaro teve desempenho bem melhor que o apontado nas pesquisas de opinião divulgadas às vésperas da eleição. (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

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Toda eleição é a mesma coisa. Os institutos de pesquisa mais famosos do Brasil entregam números completamente fora da realidade, pesquisa após pesquisa, sem o menor pudor. Quando o pleito se aproxima, fazem o que um grande amigo meu chama de “aterrissagem forçada”, ou seja, começam a soltar pesquisas que empurram os dados em direção à realidade para mitigar o vexame que seria mantê-los em confronto com os resultados finais da eleição.

Tem sido assim há bastante tempo. Em 2010, quando José Serra disputou a presidência com Dilma Rousseff, o trio Datafolha-Ibope-Vox Populi chegou a marcar Dilma com 35 pontos de vantagem sobre Serra a pouco mais de três semanas da eleição. A aterrissagem forçada aconteceu na faixa de 21 pontos de diferença – sim, você leu corretamente, foram 14 pontos tirados em apenas 23 dias – e diminuiu um pouco o vexame dos três institutos. Resultado apurado do primeiro turno: Dilma com 46,91% dos votos válidos, Serra com 32,61%. Diferença real de 14,3 pontos porcentuais.

Em 2014, quando Aécio Neves tentou impedir que Dilma fosse reeleita, o mesmo trio dos piores-institutos-de-pesquisa-da-história mostrava, a pouco mais de três semanas do primeiro turno, que o candidato do PSDB nem sequer participaria do segundo turno. Entre 5 e 9 de setembro daquele ano, Datafolha, Ibope e Vox Populi punham Aécio com 15%, Marina Silva entre 28% e 33%, e Dilma Rousseff entre 36% e 39%. A aterrissagem forçada veio dois dias antes do pleito, com Dilma atingindo 40% dos votos e Aécio assegurando a segunda posição com 24% – uma subida de quase 10 pontos do tucano em apenas 25 dias, mas ainda 16 pontos atrás da primeira colocada. Resultado apurado do primeiro turno: Dilma com 41,59% dos votos válidos, Aécio com 33,55%, diferença real de oito pontos porcentuais.

Não existe uma empresa que entregue, em nenhum outro setor de serviços, um resultado constantemente errado e fora do prometido como Datafolha e Ibope vêm fazendo há décadas. Qualquer outra empresa com tamanha incompetência já teria falido

Em 2018, quando Jair Bolsonaro venceu o poste de Lula, também conhecido como Fernando Haddad, Datafolha e Ibope mostravam, aos mesmos 23 dias antes do primeiro turno, que Bolsonaro teria em torno de 27% dos votos contra 17% de Haddad. A aterrissagem forçada foi concluída no dia anterior ao pleito, com divulgação de pesquisa em que Bolsonaro chegava a 36% e o petista subia a 22%. Resultado apurado do primeiro turno: Jair Bolsonaro com 46,03% dos votos válidos (e dez pontos a mais que o medido pelas pesquisas) e Fernando Haddad com 29,28%. Diferença real de quase 17 pontos porcentuais contra os 10 pontos apontados pelas pesquisas. Neste caso, é claro, o erro foi para o lado contrário, pois é sempre o candidato do PT que acaba beneficiado pelos números.

Estamos em 2022, e esses institutos resolveram não fazer a aterrissagem forçada. A ordem da vez foi o oposto disso: dobrar a aposta no absurdo e no erro e tentar convencer o maior número possível de eleitores de que Lula tinha tudo para vencer já no primeiro turno. Apenas 26 dias atrás, Datafolha e Ipec (novo nome para o Ibope) colocavam Lula 10 pontos à frente de Bolsonaro, num cenário de 45% a 35% dos votos. Na última pesquisa de cada um desses institutos, ambas divulgadas um dia antes do primeiro turno, a diferença havia subido para 14 pontos, com chances reais de vitória de Lula no primeiro turno. Resultado apurado no primeiro turno (com 99,93% das urnas contabilizadas até o fechamento deste texto): 48,41% dos votos válidos para Lula e 43,21% para Bolsonaro. Diferença real de 5,2 pontos porcentuais e nenhuma chance, em nenhum momento da apuração, de que Lula chegasse a 50% mais um.

Ora, não há como negar a realidade: esses institutos de pesquisa não são o que dizem ser. Não existe uma empresa que entregue, em nenhum outro setor de serviços, um resultado constantemente errado e fora do prometido como Datafolha e Ibope vêm fazendo há décadas. Qualquer outra empresa com tamanha incompetência já teria falido. Por que, então, continuam abertos e fazendo pesquisas cada vez mais distantes da realidade? Será que o principal objetivo dessas empresas não deixou de ser o ato de divulgar pesquisas sérias (se é que algum dia já foi isso) e passou a ser o ato de timonear o voto popular na direção dos candidatos que mais lhes convêm? É impossível obtermos uma resposta clara a esse questionamento, a não ser que o Projeto Veritas infiltre alguém no microcosmo do Datafolha e obtenha uma confissão em vídeo. O que temos são evidências fortes e consistentes de uma incompetência inexplicável pelos princípios da teoria econômica moderna.

Sendo assim, minha humilde sugestão para Jair Bolsonaro, caso vença o segundo turno, é montar, com urgência, um projeto de lei proibindo a divulgação pública de pesquisas eleitorais. Que os partidos sejam livres para contratá-las e usá-las em suas campanhas, desde que não sejam soltas para o público através de noticiários televisivos e portais eletrônicos. Vão timonear o raio que os parta. A outra medida importantíssima – e cada vez mais plausível com a nova bancada de senadores eleitos neste 2 de outubro – é o impeachment de Alexandre de Moraes. O autoritário ministro do Supremo parece não ter limites para cercear os direitos dos brasileiros e para se estender seus tentáculos de poder sobre o Executivo e o Legislativo. Mas isso é assunto para uma outra coluna.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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